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Transporte por aplicativos perde 28% dos motoristas em Manaus

A atividade do transporte por aplicativos parece estar sendo minada. Os constantes aumentos dos preços dos combustíveis é o principal motivador para a tendência,  incorporada por várias capitais. Em Manaus, ao menos 28% dos motoristas por aplicativos abandonaram a atividade. O número equivale à baixa de mais ou menos 8 mil motoristas. 

Alexandre Matias, presidente da Ameap-AM (Associação de Motoristas por Aplicativo de Manaus), diz que caiu muito o quantitativo de motoristas ativos na associação. “Além da crise causada pela pandemia, ainda tem o agravante do preço da gasolina nss alturas”. 

A queda nos índices de associados coincide com o aumento no número de devoluções dos veículos de 30% para mais de 45%, além que queda nos rendimentos de 38% nos primeiros meses do ano.

A redução no lucro tem reconduzido os motoristas a atividades anteriores ou buscado alternativas paralelas como sustento. É o caso da motorista Evelyn Melo. Ela deixou a atividade a pouco mais de um mês e agora atua com a venda de cosméticos. “A verdade é que eu estava pagando para trabalhar. As despesas e os gastos eram muito maiores que o lucro. Já não era uma atividade que valesse a pena. Até o carro eu devolvi”. Ela conta que o fator decisivo para abandonar a atividade está associado à alta nos reajustes no preço da gasolina. “Fica complicado trabalhar com anúncios constantes de aumentos no valor do produto”. 

A retração no movimento também é observada pelo motorista da Uber, que atua na atividade há mais de três anos e que prefere não se identificar. “Eu já estou procurando outra atividade. Devo migrar para o comércio. Trabalhar na plataforma já valeu a pena. Tivemos uma redução significativa em termos de lucro. As tarifas dos apps só aumentam. Não tem condições”. 

A crise enfrentada pelos motoristas de aplicativo também reflete na seleção das corridas. “Muitos avaliam o retorno financeiro. Dependendo da rota se há lucro a gente aceita. Caso contrário, cancelamos”, afirma a motorista Mary Jane.

A associação contava com 65 mil condutores cadastrados. Atualmente, apenas 38 mil rodam diariamente. 

Para o presidente da Ameap-AM, até o fim do ano, essa defasagem deve ser ainda mais acentuada. “Com essa crise na atividade, provavelmente esses números devam representar uma queda ainda mais significativa. Essa queda no movimento já havia sido comentada por alguns representantes das empresas de aplicativos, em razão dessa alta no índice de aumento no preço da gasolina”, reiterou.

Ele lembra ainda que 60% dos motoristas de aplicativo no Amazonas rodam com veículos alugados e o preço do aluguel não baixou, hoje, a  diária custa em média R$ 60. O valor da viagem mínima pelo app Uber é R$ 4,44 tendo viagens somando entre buscar e levar 8 km, “tem viagens que são vantajosas, por exemplo, a distância  abaixo de 3 km, mais que isso não é rentável para nenhum motorista.  

Para o representante, no momento, a única saída da categoria é o GNV (Gás Natural Veicular), mas para que isso aconteça é necessário que o governo estadual libere o gás para outras empresas explorarem e assim o setor deixa de ser refém dos combustíveis como a gasolina. 

Empresas

As empresas que concentram grande parte da atividade em Manaus, a Uber e a 99, emitiram, por meio de nota, posicionamento. A Uber informou que opera um sistema de intermediação de viagens dinâmico e flexível, por isso buscam sempre considerar, de um lado, as necessidades dos motoristas parceiros e, de outro, a realidade dos consumidores que usam a plataforma, tendo em vista a preservação do equilíbrio entre oferta e demanda que é fundamental para a plataforma. 

De acordo com a Uber, com a pandemia, pessoas que antes não usavam a plataforma no dia a dia agora estão optando pelo app. 

E que a alta demanda por viagens vem se acentuando nas últimas semanas, conforme o avanço da campanha de vacinação e a reabertura progressiva de atividades comerciais pelas autoridades. Nesse sentido, os usuários estão tendo de esperar mais tempo por uma viagem porque, especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens. A demanda elevada significa que o app da Uber está tocando sem parar para os parceiros, situação em que eles relatam se sentirem mais confortáveis para recusar viagens, pois sabem que virão outros chamados na sequência, possivelmente com ganhos maiores. 

Com isso, os ganhos de quem dirige com o app da Uber têm sido os maiores desde o início do ano. Em Manaus, por exemplo, os parceiros que dirigiram por volta de 40 horas ganharam, em média, de R$ 1.200 a R$ 1.300 na semana. Em um mês, significa que os motoristas estão com média de ganhos superior à média salarial de várias profissões no país, como fisioterapeutas, intérpretes, nutricionistas ou corretores, por exemplo, de acordo com o site da empresa Catho, que compila informações do mercado de trabalho.

“É importante lembrar que os ganhos dos parceiros da Uber são bem particulares, porque são muitas as variáveis em jogo, já que cada um escolhe como quer usar a plataforma. Por exemplo, como os parceiros da Uber são livres para decidir em quais dias e horários dirigir, quem dirige em dias e horários de maior movimento tem uma maior chance de ganhar mais”, diz a nota. 

Ainda conforme a nota, a empresa afirma que vem acompanhando os aumentos de preço dos combustíveis nos últimos meses, entende a insatisfação causada pelos seus impactos em todo o setor produtivo e, por isso, a empresa tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos. Por meio do programa de vantagens Uber Pro, a empresa lançou em 2021 diversas iniciativas e promoções para aumentar os ganhos em todos os tipos de viagem, de curta ou longa distância.

99

Por sua vez, a 99 informou que possui um compromisso de longo prazo com o país e acredita na capacidade de retomada econômica. Tanto que durante a pandemia, foi na direção contrária e investiu R$ 90 milhões em novos produtos e modalidades para atender às necessidades de quem precisou se locomover e não pôde cumprir as regras de isolamento social. O resultado foi o crescimento do uso do carro por aplicativo principalmente pela classe C, que precisou sair de casa para trabalhar. Ou seja,  a plataforma não registrou alteração no número de motoristas cadastrados, mas sim o aumento de demanda.  

Contudo, a 99 esclarece que é uma empresa que conecta passageiros e motoristas autônomos, que são livres para escolher a jornada de trabalho e as corridas que pretendem fazer. Há, entretanto, um teto de corridas que podem ser canceladas sem ônus para o condutor -assim como também ocorre para passageiros.

Quanto à taxa de transferência para os parceiros praticada na plataforma, a 99 esclarece que parte do valor é revertido em mais investimentos, em segurança, novos produtos e campanhas de incentivo à demanda.  O cálculo para o repasse, independentemente do local, utiliza uma equação que leva em conta a distância percorrida e o tempo de deslocamento. Já o preço final da corrida é definido de acordo com a oferta e demanda. É importante observar que há um teto máximo de 30% de desconto. O objetivo é garantir que os motoristas parceiros sempre tenham ganho no serviço prestado ao passageiro. Neste sentido há casos em que é empregada a taxa negativa, ou seja, o valor repassado ao motorista é maior que o pago pelo passageiro e esta diferença é custeada pela empresa para democratizar o acesso das pessoas.    

Ainda sobre o repasse para os motoristas parceiros, a 99 informa que sempre esteve e continua aberta ao diálogo para reduzir o impacto principalmente neste momento em que há uma conjuntura econômica que pressiona o valor dos combustíveis. Neste ano, a companhia já garantiu mais de R$ 3,1 milhões em desconto nos postos da rede Shell em todo o país. Importante observar também que todas as promoções são subsidiadas pela plataforma, sem ônus para o parceiro. 

Além disso,  a empresa lançou um pacote de ações para reduzir o impacto do aumento dos combustíveis e oferecer maior ganho para os parceiros. 

Foto/Destaque: Divulgação

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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