Pesquisar
Close this search box.

Impasse dá indicativo de greve nos supermercados

Trabalhadores de supermercados dão indicativo de greve

Dois meses e meio depois, as negociações entre patrões e empregados do segmento supermercadista e atacadista amazonense, em torno da convenção coletiva do trabalho, permanecem em um impasse. Por conta disso, os trabalhadores já convocaram um indicativo de greve, marcado para o dia 20 deste mês. Caso o movimento seja confirmado, será a primeira vez que a categoria, que tem sua data base em agosto, cruza os braços no Amazonas.  

De agosto para cá, Sindivarejista (Sindicato do Comércio Varejista no Estado do Amazonas) e Sindecvargam (Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista, Atacadista e Representantes de Gêneros Alimentícios de Manaus) já tiveram várias reuniões. Nesse meio tempo, a entidade trabalhista promoveu pelo menos uma paralisação relâmpago, ocorrida em 15 de setembro, em um grande hipermercado de Manaus.

As empresas aceitaram o reajuste pedido, mas querem se restringir às cláusulas econômicas, em face das perdas impostas pela crise da covid-19 e da alta de custos pelo repique inflacionário. Os trabalhadores, por sua vez, também se baseiam na pandemia para embasar seus argumentos e não abrem mão do plano de saúde/odontológico, nem do reajuste do ticket de refeição, de R$ 11,50 para R$ 14.

O Sindivarejista já concordou em subir sua proposta inicial de 2% para os 3% para os comerciários que recebem acima do piso salarial, assim como em corrigir o valor mínimo pago à categoria dos atuais R$ 1.133 para R$ 1.166,99. No caso do auxílio alimentação (R$ 11,50), o sindicato patronal aceita sair do congelamento proposto anteriormente, mas não aceita ir além de R$ 11,84. O plano de saúde/odontológico – assim como o desconto em folha de pagamento para empregados não associados ao sindicato laboral – seguem rejeitados pelas empresas.

“Planejamento e estratégia”

Conforme o presidente da Comissão de Negociação para os comerciários, Carlos Fernandes, a reivindicação é para que as cláusulas, 28ª e 13ª da CCT 2019/2021 sejam cumpridas, sem prejuízos às empresas que já oferecem planos de saúde/odonto. “Vários trabalhadores acabaram contaminados pela covid 19 e, em sua maioria, padeceram sem nenhuma assistência médica”, desabafou. 

Segundo o dirigente, que também é secretário nacional de Organização Sindical da CUT-AM e do Sindecvargam, a justificativa para o reajuste do ticket refeição se dá pela “falta de estrutura” dos refeitórios dos trabalhadores, que “não seguem as orientações da OMS nas questões de distanciamento e operação dos serviços” para evitar eventuais contaminações. “Estamos trabalhando com planejamento e estratégia para fazermos as paralisações em dezembro, o mês de maior movimento. Aos poucos, estamos conscientizando os trabalhadores da importância da luta para as suas conquistas. Vamos atuar também com denúncias aos órgãos competentes”, frisou.

“Sem clima”

O presidente do Sindivarejista, Teófilo Gomes da Silva Neto, reforça que o segmento é composto por supermercados e atacados de portes variados e que, diante da atual crise, não é possível impor custo adicional às empresas menores – mais comprometidas em suas contas pela pandemia e a inflação de alimentos – com planos de saúde e odontológicos. Mas, ficou surpreso diante da notícia do indicativo de greve. “Não fomos notificados. Desconhecemos qualquer movimento paredista e não vislumbramos clima para decretação de greve. Acreditamos que o importante é a preservação do emprego”, declarou. 

Indagado sobre as alternativas possíveis para o sindicato patronal, caso a greve seja deflagrada, o dirigente respondeu que seria convocada uma assembleia para discutir o novo cenário. O dirigente ressalta, entretanto, que não tem conhecimento de ocorrências semelhantes em nível local e que ainda aposta no consenso. “Greve no sentido amplo considero inviável. Pode ocorrer alguma ação paredista, em algum supermercado. E, se ocorrer, vamos conversar para contornar. O presidente Amarildo não é partidário de ações dessa natureza e privilegia sempre a negociação. Tenho esperança que o sindicato laboral entenda nossas justificativas”, amenizou.

“Calendário de luta”

O presidente do Sindecvargam, Amarildo de Souza Rodrigues, informa que uma assembleia de trabalhadores dos segmentos, realizada nesta terça (3), aprovou um “calendário de luta” já com o indicativo de greve previsto para o dia 20 de novembro. Segundo o dirigente, a aprovação apenas confirmou o que já havia sido sinalizado em assembleias itinerantes, por isso, avalia que a taxa de adesão ao movimento será elevada.

“Acreditamos que será aderido por todos, porque existe um sentimento de revolta nos trabalhadores, por causa do descaso dos empresários do setor para com seus colaboradores. Queremos um mero plano de saúde para toda nossa categoria. Não é pedir muito, pois durante a pandemia, as empresas faturaram e muito. E nós, trabalhadores, não medimos esforços para atender, sem pânico, os consumidores”, asseverou. 

Amarildo Rodrigues – que está internado, em virtude de complicações pela covid-19 – lembra que a categoria já perdeu pelo menos “oito companheiros” para a doença. O presidente do Sindecvargam, contudo, diz acreditar também que ambos os lados ainda podem chegar a um consenso. “Acreditamos na sensibilidade dos empresários do setor para não chegarmos ao colapso, pois uma greve não seria boa para ninguém. Acredito que ambos chegaremos a um acordo”, arrematou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar