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Toque de recolher e lockdown ameaçam atividades do PIM

Toque de recolher e risco de lockdown ameaçam atividades do PIM

O toque de recolher instituído pelo Decreto nº 43.282, de 14 de janeiro, pegou a indústria incentivada de Manaus desprevenida e atipicamente aquecida para um mês de janeiro – período que costuma ser de baixa atividade para o setor, em razão da sazonalidade. A restrição esfriou o ritmo da produção industrial e trouxe dificuldades operacionais. O problema estaria sendo mais sentido por grandes fabricantes dos polos eletroeletrônico e de duas rodas que contam com maior verticalização em suas plantas fabris – e especialmente em áreas de fundição, pintura e injeção plástica, entre outras.

E a situação do setor pode piorar ainda mais. Notícia veiculada pela rede CNN de notícias, nesta sexta (22), informa que a PGR (Procuradoria Geral da República) teria recomendado ao governador Wilson Lima que aumente as restrições para conter a escalada da segunda onda de covid-19 no Estado. A PGR orientou para o fechamento de todas as fábricas do PIM – à exceção de alimentos e fármacos –  e do comércio – excetuados os segmentos de alimentação e farmácias –, e assinalou que o Executivo tem até sábado (23) para decidir se vai acatar ou não a recomendação. Até o fechamento desta edição, o Estado ainda não havia se pronunciado sobre a possibilidade de lockdown. 

Por enquanto, o setor já enfrenta reveses. De acordo com a Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), as dificuldades se dariam porque a fabricação de partes e peças nas empresas verticalizadas em questão se dava, geralmente, no segundo e terceiro turnos – que avançariam além do limite das 19h, em condições normais. Conforme o dirigente, o material ficava pronto para ser usado nas linhas de montagem de bens finais, no primeiro turno do dia seguinte. Mas, a restrição do horário limitou as empresas ao horário comercial.     

“Alguns setores fabris estavam trabalhando com três turnos, antes do decreto. A limitação a um turno não traz apenas dificuldades econômicas, como também de segurança. O forno de uma fundição de alumínio, por exemplo, não pode ficar ligado direto, pelo custo e pelo risco de haver uma explosão. Já fui procurado por várias empresas de portes variados me dizendo que não está dando para administrar isso aí”, apontou o vice-presidente da Fieam, e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, Nelson Azevedo.

Em acréscimo a essa dificuldade, o dirigente salienta ainda que há um descasamento de alguns minutos nos horários de entrada e saída das fábricas com a faixa de horário de circulação permitida pelo decreto – de 6h às 19h. Azevedo observa que os funcionários saem para o trabalho em torno de 5h30, para pegar o ônibus da empresa. E, ao encerrarem o expediente, às 18h30, ficariam retidos no trânsito – dado o aumento do fluxo da hora do rush –, não conseguindo chegar em casa antes das 19h. 

“Do meu ponto de vista, quando você limita os horários de circulação, também favorece a ocorrência de mais congestionamentos. E isso tem acontecido com mais frequência, no final do dia. Costumava gastar em torno de 15 minutos para ir da minha fábrica, no Distrito, até minha casa, no Parque Dez. Agora, esse trajeto dura perto de uma hora”, lamentou, acrescentando que estava em conversação com o governo estadual sobre essa questão específica.

Adequação e cumprimento

O presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento, frisa que os associados da entidade entendem que o momento é de todos colaborarem para conter as contaminações, mesmo tendo de fazer ajustes que atrapalham o pleno funcionamento de suas indústrias. O dirigente ressalta ainda que a entidade não registra demandas em torno da questão.

“Nenhum dos associados nos procurou para que o governo flexibilizasse horário. (…) As empresas se adequaram e estão cumprindo o que determina o decreto. Isso é necessário e todos estão cientes disso, porque a situação do Amazonas está muito complicada. A indústria entende que tem de dar sua colaboração e a maioria das fábricas está trabalhando só com um turno, para que não haja nenhuma possibilidade de descumprimento. Esperamos que isso possa resolvido o quanto antes, para voltarmos a ter os três turnos e o trânsito livre às 24 horas do dia”, afiançou. 

“Paralisações temporárias”

Procurada pela reportagem do Jornal do Commercio, a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) disse, por intermédio de sua assessoria de comunicação, que não iria se posicionar sobre a questão, no momento. Em comunicado anterior, a entidade já havia informado que acompanha atentamente a situação e que suas associadas estavam adequando as atividades para atender ao toque de recolher, além de seguir adotando todas as medidas sanitárias recomendadas pelos órgãos de saúde em suas fábricas.

“A maioria das fabricantes de motocicletas opera normalmente num único turno de trabalho. Outras duas operam parcialmente, sendo que todas cumprem o horário estabelecido pelo decreto. Algumas associadas programaram paralisações temporárias de suas unidades fabris. Neste caso, o período vai de 18 de janeiro a 3 de fevereiro, com variações de período entre as empresas. Já as fabricantes de bicicletas trabalham em único turno, com horário reduzido”, frisou.

“Medidas necessárias”

A Sedecti (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação) confirmou, também por meio de sua assessoria de imprensa, que “algumas fábricas” do PIM tiveram seus turnos normais de produção afetados em virtude da restrição do horário de circulação. O órgão estadual salientou ainda que a medida é necessária, em função da “extrema demanda pelas unidades de saúde” e “alta taxa de contaminação da covid-19”. 

“Para se adequarem, muitas delas [as empresas] redefiniram horários, de forma provisória, enquanto durar a restrição, para que se mantenham ativas, garantindo o ritmo de produção. Com essas medidas necessárias e temporárias, as mesmas podem atender às demandas e manter os seus processos contínuos em pleno funcionamento”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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