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Terceira idade na fila do emprego

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Foi-se o tempo em que a terceira idade era sinônimo de descanso, aposentadoria ou doença. Com o atual cenário globalizado e a mudança do comportamento social do indivíduo, muitos são os fatores que tem levado pessoas dessa faixa etária a voltarem ao mercado de trabalho. Segundo último dado do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o índice de trabalhadores da terceira idade desempregados no país girava em torno de 3% a 4% em 2016.

Para o especialista em gestão dos recursos humanos, Lucas Duarte a falta de oportunidade para o público são fatores que impedem os mais velhos de estarem inseridos no mercado de trabalho. “Esse índice de desemprego torna baixa a procura pela reinserção no mercado de trabalho na cidade de Manaus, além disso, a visão imediatista de algumas empresas torna este processo ainda mais complicado, uma vez que buscam no mercado, profissionais com idade média entre 22 a 35 anos de idade, desvalorizando assim a força de trabalho da terceira idade”, disse.

Segundo o especialista, o crescimento das oportunidades de trabalho para a terceira idade no mercado brasileiro tem aumentado bastante, mas destaca que em Manaus, o segmento não tem acompanhado a mesma amplitude de outras cidades brasileiras. “É nítido e considerável o crescimento das oportunidades de trabalho para a terceira idade no mercado brasileiro, porém em Manaus percebemos que essa tendência não segue com a mesma intensidade e velocidade de grandes metrópoles brasileiras. Hoje, empresas dos ramos da medicina, do turismo e até mesmo na administração privada, têm realizado a reintegração deste público, em cargos de médicos nos consultórios e hospitais privados, agentes de turismo, além de administradores, contadores, economistas e até mesmo técnicos operacionais em empresas de fabricação de eletroeletrônicos do PIM (Polo Industrial de Manaus)”, disse ele.

Duarte afirma que a atitude de algumas empresas em oferecer oportunidades para as pessoas tem começado a aquecer o mercado voltado para o público idoso, trazendo um olhar de valorização e respeito a eles. “Neste viés, vemos a importância de programas sociais e de inclusão que ressaltem para a empresa a importância de tais políticas. Vale ressaltar ainda, franquias e grupos alimentícios como Pizza Hut e Pão de Açúcar, que atuam em grandes projetos de inserção do público idoso ao ambiente de trabalho aos mais variados cargos”, ressalta. Em Manaus, Duarte cita o supermercado Assaí Atacadista, que atuou na contratação de empacotadores e até mesmo serviços gerais para composição do seu quadro de funcionários.

Outros fatores citados pelo analista são as contratações temporárias no fim de ano, onde várias empresas contratam trabalhadores e muitos deles aceitam com o intuito de complementar a renda e a necessidade. “Além das áreas já citadas, vale relembrar o crescimento das contratações temporárias de idosos nas lojas do comércio em períodos que antecedem os festejos de final de ano nos centros comerciais da cidade. Muitos buscam aumentar o seu rendimento mensal devido ao baixo valor de aposentadoria, a necessidade de sentir-se ativo novamente, sair do sedentarismo, a interação com pessoas e até mesmo a necessidade temporária de sustentar familiares que passam por necessidades”, disse.

Para Lucas, muitas empresas têm investido no segmento devido às várias características e vantagens de recrutá-los para a organização. “Os fatores são enormes, o que varia desde a certeza de comprometimento, disciplina e cumprimento de prazos e horários, facilidade para resolução de conflitos e processos de grandes tomadas de decisão, na maioria das vezes possuem mão de obra qualificada, tornam o ambiente mais harmonioso e equilibrado, uma vez que tendem a ser mais pacientes e observadores. Produzem ainda, um ambiente voltado ao processo de ensino aprendizagem, uma vez que esse público detém de amplo conhecimento técnico e prático, além de serem facilitadores e estimuladores do público jovem que está recém-inserido no mercado”, contou.

Reinserção
O headhunter e coach de carreira, Salomão Nunes, falou da importância em oferecer empregabilidade para público da terceira idade e a sua reinserção no mercado, como elevação da auto estima e o seu valor na sociedade. Segundo Nunes, a pessoa da terceira idade já passou uma vida toda de realizações pessoais e profissionais, viagens, adquiriram bens, assim como os jovens estão vivendo agora. “É importante trazer a tona a importância deles, e somente convivendo com eles, será possível uma pessoa mais jovem entender e acolher toda a experiência de vida que pode ser passada por eles. Para eles, é importante estarem de volta à sociedade, se sentirem úteis, mesmo que não necessariamente fazendo atividades muito complexas”, disse Nunes. “Dessa forma, esses anos de vida passam de forma mais leve e alegre, resultando também no aumento de saúde e na longevidade aumentada”, completa.

Nunes afirmou que o papel de profissionais experientes dentro do local do trabalho é um fator que contribui para uma maior produtividade dos mais jovens e destacou que os conhecimentos adquiridos por eles podem ensinar profissionais jovens a produzir melhor. “As experiências vivenciadas por eles são importantes. Eles têm mais cautela em alguns pontos, por já terem passado por alguma situação em que erraram e tiveram que arcar com as consequências e dessa forma, não errando mais nesse sentido”, comenta.

Para o especilista, a sabedoria e a paciência dos mais velhos também é algo espetacular, infelizmente não devidamente tratada por alguns. “Eles já aprenderam que algumas coisas você planta para colher daqui um tempo, enquanto os mais jovens querem colher agora o que acabaram de plantar neste instante. Os mais velhos também conseguem ajudar trazendo a humanização às empresas, o cuidado com o ser humano e não somente com os resultados em si”, explicou.

Na análise do coach de carreira, o recrutamento da terceira idade para oportunidades de emprego não é uma prática do mercado manauara e somente agora as companhias tem despertado para a área. “Falando para a terceira idade, algumas empresas estão começando a despertar agora, mas não é uma prática comum. Ainda temos alguns paradigmas a serem quebrados a esse respeito. Percebemos muito mais oportunidades no segmento de serviço e comércio”, afirma.

Nesse final de ano, há redes de supermercados e lojas que contratam para o período Natalino, trazendo toda a simpatia da terceira idade, mas é algo temporário. “Infelizmente, hoje não temos muitas vagas voltadas para este público especificamente, por esse motivo é muito mais fácil de acontecer essa recolocação no mercado quando já se conhece a pessoa (networking)”, disse Nunes que citou como exemplo a campanha “Experiência na Bagagem” GOL Linhas Aéreas aberta para atrair os profissionais mais velhos para a companhia.

Segundo ele, as dificuldades mais comuns encontradas pelas pessoas da terceira idade é adaptação com as novas tecnologias e novas formas de trabalho disponibilizados pela era digital como também a forma de pensamento formado que os impossibilitam uma mente mais aberta para novas possibilidades.
“Hoje, temos muitas pessoas da terceira idade que mantém contato e tem facilidade com a tecnologia, mas ainda há uma grande parte que tem dificuldade em lidar com o avanço da tecnologia. Uma dificuldade encontrada, também é o engessamento na forma de pensar, ou seja, por já ser habituado a fazer algo de tal forma, não se permite pensar diferente e fazer de uma outra forma, ou no quesito de implementar melhorias. Por outro lado, também encontramos jovens profissionais que também não se permitem caminhar com uma pessoa de terceira idade, achando que ele já não poderá contribuir ou somar como um jovem, e dessa forma, o deixando de lado e muitas vezes ignorando valiosíssimas ideias, adquiridas em anos de experiência”, disse.

Experiência a favor da produtividade
Atuante na área de Recursos Humanos, onde começou a trabalhar como auxiliar de departamento pessoal aos 22 anos, Sebastião Silva Santos, 53, destaca que um dos segredos para profissionais de idade avançada se manterem em um mercado cada vez mais competitivo é o constante processo de aprendizagem e estudo constante. Sempre atualizando-se sobre os novos segmentos da profissão.
“Ainda não sou aposentado e minha função é analista de recursos humanos, nunca fiquei desempregado após os 45 anos. Trabalho na Honda há 10 anos, e meus desafios são sempre continuar me atualizando para poder desenvolver minhas atividades com eficácia e poder permanecer na empresa até meus 60 anos de idade”, disse.

Santos acredita que a experiência profissional em qualquer segmento é fundamental para as profissões e conta que a visão preconceituosa das empresas com profissionais com idade avançada só faz as companhias terem perdas. “Num mercado cada vez mais competitivo, as empresas precisam encontrar profissionais especialistas em um assunto. É aí que alguém com mais de 50 anos tem uma vantagem sobre os trabalhadores mais jovens”, contou.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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