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‘Temos que  melhorar a política’

MARCELO PERES

Face: @marcelo.peres    Insta: @jcommercio 

Por duas vezes, o delegado federal Marcelo Dias (Brasil 35, antigo PMB) bateu na trave em disputas eleitorais no Estado, quase vencendo para vereador e deputado estadual. E agora volta ao páreo como pré-candidato no próximo pleito para defender a sua principal bandeira de luta –melhorar a segurança pública, algo que foi relegado a segundo plano pelo governo federal e pelos governos estaduais, na sua avaliação.

Dias é diretor da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, sendo egresso do movimento nacional deflagrado em 2018 pela categoria para tentar um cargo eletivo em 2018, seguindo na esteira da operação Lava Jato que ocupou o topo dos olhares da mídia nacional e internacional com a prisão de suspeitos envolvidos em fraudes e desvios de dinheiro público.

Colados à imagem das ações policiais que pregavam moralidade e punição aos corruptos, 55 delegados saíram candidatos naquele ano, mas apenas três lograram êxito, conta Dias. Ele ressalta que, hoje, a população está cética, evita falar em política e só vai votar este ano porque a lei assim exige.

“Isso é muito ruim. Todas as resoluções dos problemas passam pela política. Não tem jeito”, afirma o delegado. Dias ressalta que age sozinho, sem apoio de políticos e leva suas propostas no contato direto com a população. “Proponho um mandato participativo com a sociedade, de onde podem sair a resolução de todos os problemas”, acrescenta. “É por esse caminho que poderemos transformar vidas, gerando mais perspectivas de empregos e renda. Precisamos investir mais em políticas públicas. E não mentir para o povo”, defende.

Em 2018, o delegado chegou a suplente de deputado. E continuará até dezembro. Agora, vê grandes oportunidades para se eleger deputado estadual. Segundo ele, 7.500 pessoas deixaram suas casas para votar em seu nome nas eleições daquele ano, algo que o motiva a apostar numa possível vitória em 2022.

Dias também comenta o movimento da categoria que exige reajuste salarial e reposição de perdas. Porém, o governo federal acabou frustrando a classe ao anunciar a reestruturação de carreiras, sem dar o aumento, a principal reivindicação de setores da segurança pública. Várias entidades se mobilizaram em protestos, algumas até pararam suas atividades.

Estava previsto um aporte financeiro de R$ 2 bilhões para o setor, mas o Congresso aprovou somente R$ 1 bilhão que, na realidade, foram destinados para reestruturar cargos. É aí que está o imbróglio dos policiais federais com a decisão do Planalto.

O delegado Marcelo Dias participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Os policiais rodoviários federais fizeram um protesto contra o governo Bolsonaro, dizendo que o presidente mentiu e não dará reajuste. Como está hoje a categoria em relação a essa demanda?

Marcelo Dias – No final do ano passado, nós tivemos uma movimentação quando houve o anúncio de que haveria não um aumento, mas ocorreu uma reestruturação nas carreiras. Então, houve um contingenciamento, uma dotação orçamentária.

Seria inicialmente de R$ 2 bilhões, mas acabou ficando em R$ 1,700 bilhão. Passou no Congresso. E esse dinheiro foi separado para reestruturação das forças de segurança, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e agentes penitenciários federais.

E acabou que, nesse início de ano, gerou um efeito cascata com as outras categorias se sentindo prejudicadas. Porque disseram que haveria um aumento. Mas é um grande equívoco achar que é dessa forma.

Na realidade, está se falando de reestruturação das carreiras. Para se ter uma ideia, existe uma diferença de remuneração entre a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal. Eu diria que é até uma injustiça.

É um modo de tentar ajeitar a carreira. Não era pura e simplesmente um aumento. E isso gerou um movimento muito ruim. O Banco Central entrou em greve, também a Receita Federal, a Defensoria Pública da União, todos os órgãos do governo federal. E nós não queremos essa reestruturação neste ano.

JC – Você pleiteou cargos públicos nas duas últimas eleições, batendo na trave, inclusive, em 2020. Já existe também uma definição sobre sua pré-candidatura neste ano?

MD – Estou como suplente de deputado até dezembro. Porque ninguém saiu de lá. E para vereador não entrei por 300 votos.

Por que um delegado federal se lança candidato nas eleições? Em 2018, isso foi um momento nacional. Estou no quadro de diretores da Associação Nacional há aproximadamente dez anos.

Então, sou um representante sindical. Tivemos um movimento de cunho nacional. O que se identificou em 2017? Os ataques sistemáticos que a Lava Jato vinha sofrendo, do legislativo e do judiciário. Hoje, 75% do nosso legislativo federal responde a processos. É vergonhoso. Legislam em causa própria.

A Lava Jato era o carro-chefe da Polícia Federal. Já tinha mais de 60 fases. E o que aconteceu? Tanto é verdade que ela acabou, quatro anos depois. Muita gente achou que era um devaneio, mas era sério. A operação era um ícone do Brasil.

Diziam que era fantasioso.  Mas há uma devolução de dinheiro público de milhões. Devolveram para os cofres da Petrobras mais de um bilhão de reais. Não foi invenção. O sistema de corrupção ocorreu, um sistema extremamente organizado

Com essa identificação, houve esse movimento de lançar delegados federais, do qual inicialmente fui até contra. Não tinha muito tino político. Na realidade, não tenho perfil político. Sou delegado da Polícia Federal.

Delegado de polícia ganha cinco inimigos por semana. Você não ganha amigos na polícia. E acabei participando. Fui o último a entrar no projeto em 2018. Em nível nacional, nós tivemos aproximadamente 55 candidatos. Mas lograram êxito apenas três deles.

Foi um movimento muito embrionário. Não teve a repercussão que a gente esperava. Porque a Polícia Federal não tem cultura política. A maioria dos policiais se mantém distante das redes sociais, que são um papel fundamental.

Dizem que sou ingênuo na política, porém mais de 7.500 pessoas deixaram suas casas em 2018 acreditando no meu projeto. E há votos, sim, de consciência. Conheci uma Manaus e um Amazonas que eu não conhecia,  principalmente Manaus, em seis meses de candidatura.

Hoje, a classe política é a mais desacreditada que existe, é a classe da lama. É sinônimo de corrupção, de bandalheira.

Muitos perguntam: você está na Polícia Federal, a instituição de maior credibilidade no Brasil, e agora quer entrar na política, a mais desacreditada.

Acho que a gente tem que melhorar a política. É um movimento pra isso. A forma embrionária de 2018 está ganhando corpo agora. E estamos conseguindo, com certeza, chegar ao eleitor.

Agora, a informação está na palma da mão.  O caboclo não é mais besta não. Eu sou amazonense, manauara, nascido e criado na Praça 14. A velocidade da informação está muito grande.

Mas vejo um lado muito ruim. As pessoas não querem falar de política e pior que isso, não querem votar. E o maior exemplo disso tivemos dois anos atrás na Colômbia, onde 44% dos eleitores não apareceram, quase 50%.

JC – Você tem feito contato com muita gente. Durante essas atividades, quais as principais reivindicações que tem ouvido da população?

MD – Eu faço uma campanha muito honesta. Não engano ninguém.Deputado não constrói UBS, não faz escolas, e muitos chegam lá dizendo que vão fazer.

A principal função de um deputado é fiscalizar. Não posso ainda debater projetos porque sou pré-candidato, a legislação não me permite.

Sou delegado de polícia há 21 anos. Não posso ser o representante da saúde. A minha bandeira é a segurança pública, onde tenho muitas ideias, abracei algumas causas. A gente tem um déficit na PM. A gente precisa de polícias nas ruas.

Hoje, é inconcebível hoje um traficante fazer aniversário e Manaus registrar um festival de fogos.  A gente tem que bater nisso, tomar atitude, ter de volta o controle.

Quanto mais o tempo passa, mais difícil vai ficar. Como diz um colega. No Rio de Janeiro, só o poder do átomo. Só a bomba atômica. Ninguém consegue mais controlar.

Ouço muitas reclamações em relação à área de segurança. Temos um déficit, hoje, principalmente em relação à PM. Precisaríamos de pelo menos 6 mil soldados nas ruas. Precisa ter policiamento ostensivo.

Sou professor universitário, meu pai também foi. Tenho um viés acadêmico muito grande e vejo a educação como fator de transformação. Eu acredito muito nas escolas militares. É um dos projetos que gostaria de poder implementar mais na frente.

Todo final de ano, recebo mais de 300 ligações de mães me pedindo vagas em colégio militar. Hoje está tão concorrido que tem processo seletivo.

É um colégio que tem hierarquia, disciplina, mantém longe o tráfico de drogas, pequenos furtos, roubos. Nos bairros mais perigosos, as mães denunciam que estão vendendo drogas dentro das escolas estaduais e municipais. Mas isso não ocorre nos colégios da PM.

Além de saúde e educação, a grande reclamação também é de segurança pública.

JC – Falando em segurança pública, vimos recentemente o mundo lançar os olhos para o vazio na Amazônia com o assassinato de Dom Phillips e de Bruno Pereira no Vale do Javari. Trata-se de uma região continental. E a presença do Estado é muito pequena. Como vocês avaliam o caso e também a questão da soberania?

MD – As pessoas se recusam a falar de política e até sobre votar. Isso é muito ruim. Não tem jeito. Todos os nossos problemas são de resolução política. Quando você fala do vazio na Amazônia, isso é um problema de resolução política. Quantas delegacias da Polícia Federal existem no Amazonas? Apenas uma,  em Tabatinga. Tem uma superintendência em Manaus.

Quantos Rios Grande do Sul cabem  aqui dentro? Mais de 20. Quantas delegacias? Além da superintendência, o Estado tem três delegacias. Esse problema que aconteceu aqui com o Dom Phillips e o Bruno não é só da segurança pública, é de todas as esferas.

Com a imensidão do Amazonas, nós precisaríamos de pelo menos 30 delegacias. Precisamos que o governo federal olhe para cá, não só por segurança pública, mas em todos os aspectos.

É impossível fazer uma fiscalização da fronteira aqui com as Forças Armadas. É complicado. Estamos do lado dos dois maiores produtores de cocaína do mundo.

Somos um corredor que escoa a droga para o Brasil e para o resto do mundo. Precisamos que nossos políticos comecem a pensar a Amazônia de uma forma mais séria.

Onde o Estado não chega, o estado paralelo toma conta. E onde você tem abandono, o tráfico de drogas chega como uma solução, com ações de empregos e renda. Olha que absurdo.

As pessoas não têm empregos. Tem a questão do defeso, exploração irregular de madeiras. Então, a falta do Estado permite que o crime organizado preencha esse vazio.

JC –  O que pensa sobre levar mais benefícios aos municípios do interior, que reclamam iniciativas para promover o desenvolvimento?

MD – O Amazonas tem muitas potencialidades. O Estado deveria ser um dos locais turísticos mais visitados do mundo. Aqui só temos o Cigs. E você vai a Orlando, Estados Unidos, onde tem um zoológico que faz inveja a qualquer lugar do mundo.

Por enquanto, somos dependentes do modelo Zona Franca, que ainda tem que sobreviver por uns anos. Mas temos que ter um plano B, pensar em indústria 4.0, fomentar o turismo e qualquer outro tipo de atividade.

As pessoas que vêm aqui se encantam. Deveria ter um zoológico em Anavilhanas. O hotel Ariaú recebeu grandes celebridades do mundo. E acabou.

Imagine se investíssemos mais. Lembro de um candidato em 2018 que disse a necessidade de pensar a Amazônia como uma empresa. As pessoas querem preservar a Amazônia, não querem tirar nada, e os caboclos como ficam? O potencial turístico da região é um absurdo, mas a gente não explora isso.

JC – Falamos da necessidade de desenvolver projetos sustentáveis. Mas nos deparamos com dificuldades em logísticas, até para transportar turistas. Infelizmente, não investimos em infraestrutura para alavancar negócios. Como enxerga essa situação?

MD – Temos um Estado peculiar. E que atrai a atenção de todo o planeta. Essa peculiaridade tem que ser olhada por políticas públicas que promovam o desenvolvimento sustentável.

Temos que conversar com o governo federal para trazer novos empregos. E discutir isso com a sociedade. Trago a ideia de um mandato participativo.

JC – A questão do desenvolvimento pelas potencialidades regionais tem passado um pouco ao largo da Assembleia Legislativa por uma série de razões. Você tem esse pensamento voltado para a sustentabilidade?

MD – Sem dúvida. A gente tem que trazer a sociedade para discutir essa questão. Hoje, eu desconheço qualquer projeto que esteja tramitando lá. Tenho visto algumas discussões na Câmara e na Assembleia, mas muitas passam ao largo e não gosto nem de comentar.

O que está lá não me representa. E por isso sou pré-candidato. Estou indo para a minha aposentadoria. E me preparo para ainda ser produtivo, inclusive na segurança pública. Tenho muito a contribuir. Acredito muito que a gente possa fazer essa discussão na Assembleia Legislativa. Estou como pré-candidato a deputado estadual.

Marcelo Peres

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