Pesquisar
Close this search box.

Tecnologia inova na criação de matrinxãs

https://www.jcam.com.br/matrinxa.jpg

Deixando para trás o jaraqui, o tucunaré, o pacu, o bodó, a sardinha e o surubim, o matrinxã, apesar da grande quantidade de espinhas, conseguiu se impor entre os peixes nobres do Amazonas, ao lado do tambaqui e do pirarucu. Não por acaso os criadores apostam na espécie e para melhorar ainda mais a sua produção, pesquisadores do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) estão desenvolvendo pesquisas que acompanham o peixe desde quando ele ainda é uma larva.

“O grande porém do matrinxã é que, enquanto larva, ele promove o canibalismo comendo 80% entre si, só restando os 20% que chegam à fase adulta, ou própria para o consumo humano”, falou a doutora em Ecologia e Recursos Naturais, Elizabeth Gusmão, coordenadora dos trabalhos. “Nossas pesquisas mostraram que esse canibalismo não ocorre por falta de alimento. É comportamental, porque a espécie é muito voraz. No momento em que a boca se forma, a larva começa a procurar o que comer e, ao encontrar outra larva, a mais forte come a mais fraca”, disse.

“Por isso, a larvicultura do matrinxã tem esse problema sério o qual estamos tentando resolver através da BFT (Tecnologia de Bioflocos). Devido o canibalismo na fase larval, a produção de juvenis é baixa, o que reflete nos custos para o produtor e, consequentemente, para o consumidor final”, contou.

“O Bioflocos pode ser uma grande saída. Primeiro por mudar a cor da água, ou seja, torna a visibilidade praticamente impossível entre os peixes no período larval, fase mais crítica do canibalismo. O projeto é dividido em três etapas realizadas em bioensaio no laboratório, sendo a primeira a diminuição do canibalismo, seguida das questões relacionadas à alimentação e densidade das larvas e juvenil de matrinxã, encerrando com a validação desses resultados no campo”, revelou.

O que são os Bioflocos?
Bioflocos são partículas suspensas na água, compostas por microalgas e bactérias agregadas a restos de ração, fezes e microrganismos vivos e mortos.

No sistema convencional, a água precisa ser trocada quase que diariamente, uma vez que, à medida que as colônias das bactérias maturam, o processo que se encarrega de remover a matéria orgânica ou amônia se torna mais eficiente, gerando altos custos e impactos ambientais para a aquicultura.

A tecnologia do Bioflocos tem como vantagem a utilização de um espaço reduzido para a criação não só de matrinxãs, mas de outras espécies como tambaqui e pirarucu, uma boa gestão dos recursos hídricos por empregar uma quantidade mínima de água, além da elevada produtividade. Com isso, a tecnologia tem sido considerada uma alternativa promissora para uma aquicultura sustentável, que engloba a alta produtividade, a manutenção da qualidade da água, as elevadas densidades de estocagem, a maior resistência às doenças e uma fonte proteica extra como alimento, possibilitando rações com menor nível de proteína e, consequentemente, menor custo de produção.

“Temos observado que os peixes criados nesse sistema, nos tanques aqui no Inpa, crescem tanto quanto no sistema convencional, e com a opacidade da água, queremos eliminar o canibalismo dos matrinxãs”, assegurou.

“Imagina perder 80% de cada reprodução decorrente do canibalismo da espécie na fase larval. Como consequência, criar matrinxã se torna muito caro, principalmente para o pequeno produtor, que perde o interesse na sua produção. Com tecnologias que venham diminuir estes entraves, o produtor poderá ser estimulado a criar esta espécie, de grande interesse comercial. O matrinxã tem várias vantagens para sua criação, principalmente porque possui hábito onívoro, o que exige menor teor de proteína na ração, além de utilizar o alimento natural disponível no viveiro, o Bioflocos, possui alto valor de mercado, e uma cadeia produtiva bem desenvolvida”, concluiu.

As pesquisas em campo com o Bioflocos começam na segunda quinzena de dezembro numa parceria do Inpa com a Sepror (Secretaria de Produção Rural), apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), e financiamento do Basa (Banco da Amazônia).

A famosa jatuarana
O matrinxã, ou jatuarana, é encontrado em bacias amazônicas e Araguaia-Tocantins. São onívoros (se alimentam tanto de produtos de origem animal quanto vegetal, frutos, sementes, insetos e eventualmente pequenos peixes). Realizam migrações reprodutivas e tróficas (por alimento). No início da enchente, formam grandes cardumes para a desova. São muito importantes comercialmente e encontram-se entre os peixes de escamas mais esportivos da Amazônia. As fêmeas são maiores que os machos e o início da reprodução coincide com o aumento da temperatura da água, precipitação pluviométrica e número de dias de chuva. Por ser um peixe que realiza a desova total, ou piracema, o matrinxã faz longas migrações rio acima para se reproduzir.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar