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‘Te conto em contos’ reúne escritos de mulheres do Amazonas

Escritores, o Amazonas sempre os teve, ensaístas, poetas, cronistas, romancistas. Escritores. E as escritoras? Elas também sempre existiram, mas com a típica timidez feminina, preferem esconder suas produções, por isso a professora de Língua Portuguesa, e cronista, Letícia Pinto Cardoso resolveu por em prática o projeto ‘Te conto em contos’, três e-books reunindo escritos só de mulheres.

“Uma amiga, também escritora, dramaturga, e atriz, a Beatriz Mascarenhas, me falou sobre o edital Prêmio Feliciano Lana, da Secretaria de Cultura. Por não ser uma escritora reconhecida por um grande público, achei que não teria tanta relevância submeter um projeto voltado para uma publicação minha apenas. Então, por que não fazer algo coletivo? Por que não publicar escritoras daqui do Amazonas?”, lembrou Letícia.

Letícia Pinto Cardoso resolveu por em prática o projeto ‘Te conto em contos’
Foto: Divulgação

“Fiz uma pesquisa para tentar descobrir outras escritoras fora daquelas que já fazem parte do cânone, além de Astrid Cabral e Violeta Branca, por exemplo, e encontrei quase nada de estudos sobre escritoras locais, e nada sobre escritoras que escrevessem contos. Então decidi fazer um projeto para chamar as mulheres que escrevem contos, porque eu sei que tem mulheres que escrevem, ex-colegas de universidade, mas por que elas não estão publicando ou não publicam? Se era por falta de espaço, incentivo, eu estaria me comprometendo com isso”, disse.

O e-book ‘Te conto em contos’ é a segunda edição do projeto. A primeira aconteceu em dezembro passado. O terceiro acontecerá em março.

“Na primeira edição recebemos muitas perguntas, mas poucas mulheres se inscreveram, acho que por desconfiança com o projeto e, talvez, por insegurança com a sua própria escrita. Recebemos 20 inscrições. Em janeiro, publicamos o resultado. Dez escritoras foram selecionadas, algumas já com experiência, com publicações, outras que estão publicando pela primeira vez. É muito gratificante ver isso, estar fazendo parte disso”, comemorou.

Capa do primeiro e-book escrito só por mulheres
Foto: Divulgação

Cadê os contistas?

Até o início de fevereiro, o link para o e-book contava com 257 acessos. No Instagram, foram mais de 100 curtidas no post de lançamento do livro, mais de 30 compartilhamentos e 378 contas alcançadas, 29% delas de pessoas que não eram seguidoras no Instagram. Novos seguidores chegaram desde então, mais 40, e continuam chegando outros.

“Quando falei para o meu tio, Zemaria Pinto, sobre o resultado do prêmio, eu disse: ‘escolhi conto porque é meu gênero favorito e, também, por não ver tantas escritoras daqui escrevendo contos. Escrevem mais poemas e romances. Eu li ainda no seu livro sobre contos que o primeiro livro de contos lançado pelo Clube da Madrugada foi o ‘Histórias de submundo’, do Arthur Engrácio, 60 anos atrás. E depois ele também fez uma antologia, identificando 17 novos contistas. Mas onde estão essas pessoas que publicaram na antologia?”, indagou.

“Tirando o Engrácio, que publicou uns seis ou sete livros de contos, os demais escreveram dois livros (Linhares e Antísthenes) ou apenas um. Do pessoal da antologia, alguns não escreveram nenhum livro de contos. Lembro do L. Ruas, por exemplo”, completou.

Na ‘Antologia do conto no Amazonas’, da Valer (2009), tem dois contos da Maria Luiza Damasceno. E no livro ‘Manaus, 20 autores’, do projeto Livro de Graça na Praça, além da Astrid Cabral e da Vera do Val, foram publicadas outras duas escritoras, a Priscila Lira, que tem publicado o e-book ‘Manual de feitiçaria’, e a Maria Elisa Souto Bessa, que foi uma das vencedoras do concurso deste projeto.

Encerram amanhã

Com a oportunidade de receber de uma só vez os textos de várias mulheres, ficou fácil para Letícia descobrir sobre o que as nossas caboclas gostam de escrever.

“Na primeira edição do e-book as participantes escreveram sobre a experiência de ser mulher no Amazonas. No Norte do país. No Brasil. Confesso que fiquei bastante intrigada quando li todos os contos, inclusive os que não foram aprovados. Eu acho que o tema é o gênero, é o ser mulher. Mesmo em contos que não havia protagonistas mulheres, que foram poucos, ainda assim podemos experienciar violências que são acometidas contra nós que nascemos, que nos identificamos como mulheres. Então, temos uma presença muito forte do machismo, da violência física, do feminicídio, do abuso sexual, da misoginia, da violência psicológica, do racismo pela perspectiva da mulher negra”, revelou.

Apesar de as inscrições para o segundo e-book do ‘Te conto em contos’, encerrarem amanhã, ainda dá tempo de participar.

“Escrevam e participem das nossas seleções. Venham se mostrar no @tecontoemcontos. Eu tenho planos para o perfil no Instagram, após esse momento de execução do projeto, a partir do prêmio. Todo escritor quer ser lido. Não quero só tirar de mim a ideia que me incomoda, a cena que eu imaginei, os personagens que vi discutindo, falando, me contando alguma coisa. Eu quero realizá-los, colocá-los no papel e quero que outras pessoas o leiam, senão não tem sentido o texto, a história, não existe”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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