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Sustentabilidade no distrito

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Nos últimos anos, as duas principais fabricantes de motocicletas instaladas no PIM (Polo Industrial de Manaus) vêm contribuindo de forma expressiva para a preservação do meio ambiente, especialmente da floresta Amazônica, de onde é extraída cerca de 85% da bauxita destinada à produção do alumínio que se transforma em motores dos veículos em Manaus.

Atualmente, a composição dos motores das japonesas Moto Honda da Amazônia e Yamaha Motor é produzida com teores que variam entre 30% e 100% de alumínio reciclado, obtido a partir de latinhas de bebidas, utensílios domésticos descartados, aparas industriais entre outras peças de alumínio, que em outros tempos seriam destinados ao lixo e levariam até 500 anos para se decompor no meio ambiente.

Com isso, a contribuição das fabricantes ao meio ambiente é dupla. Por um lado, evita o descarte do ‘lixo’ de alumínio em rios, igarapés ou em aterros sanitários e por outro, diminui a necessidade de extração da bauxita e fabricação do alumínio, cujos processos são altamente agressivos ao meio ambiente. A extração da bauxita, por exemplo, acontece principalmente dentro da floresta virgem, nos municípios paraenses de Oriximiná, Terra Santa (localização da mina de Porto Trombetas) e Juruti, em plena selva amazônica. Nessas cidades estão localizadas as principais minas brasileiras.

Entre janeiro de 2016 a julho deste ano, as duas maiores fabricantes de motocicletas do Brasil utilizaram pelo menos 42,5 mil toneladas de alumínio para fabricar os motores de mais de 1,3 milhão de motocicletas que saíram do PIM, de acordo com dados da Abraciclo. Dentre as 42,5 mil toneladas de alumínio processadas, pouco mais de 14 mil toneladas correspondem ao uso de alumínio reciclado. O quantitativo representa a preservação do volume de 70,2 mil toneladas de bauxita (matéria-prima do alumínio) que deixaram de ser extraídas, a partir do processo de lavra, gerando menores danos ao meio ambiente. Os números são do levantamento feito pela coordenação de engenharia química da UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Entre os benefícios da reciclagem estão a economia de 95% da energia elétrica em relação ao processo de produção do alumínio; e a redução expressiva na geração de gás carbônico, um dos gases que contribui para o desequilíbrio do efeito estufa.

De acordo com o gerente-geral de infraestrutura da Moto Honda da Amazônia, Rômulo Feijão, um motor completo pesa em média 32 quilos, dos quais, 33% é composto por material reciclado, o que equivale a 10,5 quilos de alumínio reaproveitado. A empresa produz mensalmente cerca de 85,5 mil motores. Feijão explica que todo o alumínio reciclado na indústria é direcionado à fabricação da máquina. No caso da Moto Honda, os canais de alimentação de injeção do alumínio gerados na etapa de fundição passam por um novo processo, no qual, os canais são coletados, inseridos em fornos fusores e em seguida, são reinjetados em moldes para fabricação de componentes do motor como por exemplo, cabeçote, tampa do cabeçote, cilindro, tampas direita e esquerda e carcaça esquerda.

A Yamaha Motor da Amazônia Ltda também emprega elevados índices de material reciclado na produção do motor. Segundo a empresa, o volume pode chegar a 100% da matéria-prima utilizada na máquina. O alumínio utilizado para a fabricação de peças na planta em Manaus é fornecido por estabelecimentos localizados na capital amazonense, em São Paulo (SP) e também por países da Europa. Conforme a assessoria de imprensa da indústria, a Yamaha também adota um processo interno de reciclagem de peças de alumínio. Itens que saem do processo produtivo apresentando desconformidade em relação à análise da qualidade retornam ao forno de fusão para servirem de matéria-prima para a confecção de novas peças. No último ano a indústria passou a reaproveitar, ainda, o resíduo proveniente da operação de usinagem das peças de alumínio, conhecido como ‘cavaco’. O refugo passa pelo processo de compactação e logo após é encaminhado para a fundição.

Segundo a assessoria, com exceção de poucos itens, como placas e componentes eletrônicos, o motor é quase totalmente reciclável. Além das partes de alumínio, a empresa afirma que há itens confeccionados com base em outros metais. Além do motor, a empresa também fabrica diversas peças que empregam o material reciclado como o chassi e a suspensão. De acordo com a Yamaha, o motor representa aproximadamente 30% do peso da motocicleta.

Impactos nocivos ao meio ambiente
O coordenador do curso de engenharia química da UEA, Clairon Pinheiro, explica que o processo que vai da extração da bauxita até a obtenção do alumínio é extremamente nocivo ao meio ambiente. Segundo ele, os danos ambientais são registrados desde o primeiro trabalho que é devastar florestas tropicais para chegar à mina da bauxita. Logo após, a matéria-prima passa por um processo de beneficiamento que consiste na dissolução com base em soda cáustica e cal que resulta na produção da alumina, ou óxido de alumínio (item de maior custo na produção de alumínio). Nesta etapa, é gerado um resíduo chamado de lama vermelha, que conforme Pinheiro, contém substâncias químicas que ao entrarem em contato com a água das chuvas pode ser extremamente prejudicial, ocasionando poluição aos rios e ao solo.

“Para cada tonelada de alumina produzida, é gerado até duas toneladas de lama vermelha. É necessário uma área extensa para armazenagem. A cidade de Barcarena (PA) tem um reservatório extenso. A UFPA (Universidade Federal do Pará) estuda meios para a utilização desse material e constatou que pode ser empregado na construção civil, na fabricação de tijolos e também pode ser usado pela indústria química utilizado como adsorvente. Mesmo assim, a produção é expressiva em relação ao alumínio produzido. É um material poluente e que até 20 anos atrás não tinha destinação adequada”, explicou.

A última etapa do processo é a produção do alumínio, fase que exige maior consumo de energia elétrica.
De acordo com o coordenador, quanto maior o volume de material reciclado, haverá menor demanda de energia elétrica, redução na quantidade de bauxita extraída e diminuição na geração de lama vermelha. O resultado é a preservação ao meio ambiente. Ele também enfatiza que a cada quilo de alumínio produzido são gerados nove quilos de dióxido de carbono ou gás carbônico, que é nocivo à atmosfera por impulsionar a poluição atmosférica que é o efeito estufa.

“O processo de reciclagem de alumínio consome apenas 5% do total de 100% de energia elétrica utilizada na fabricação do alumínio pelo processo primário. Há uma economia de 95% no consumo”, enfatizou. “Boa parte da energia produzida por meio da usina hidrelétrica de Tucuruí é destinada à fabricação de alumínio em Barcarena. O aumento na produção de alumínio gera maior necessidade de construção de novas hidrelétricas”, completa. Pinheiro informa que os principais Estados responsáveis pela extração da bauxita e fabricação e fornecimento do alumínio ao país são os Estados do Pará (85%) e Minas Gerais (14%). “Não há extração de bauxita no Amazonas. Os maiores percentuais de alumínio vem do Pará, de Minas Gerais e demais Estados, responsáveis por 1% da produção”.

Caminho até o lingote de alumínio
Até chegar à fabricante do bem final, o alumínio coletado nas ruas passa por uma série de processos. O gerente geral da Cometais Fundição, Edvaldo Teixeira de Carvalho, comenta que mensalmente a empresa recebe em torno de 700 toneladas de alumínio, material que após processado, resulta em 550 toneladas do mineral transformadas em barras que também são chamadas como lingotes. As barras são fornecidas às fabricantes de motocicletas do PIM para a fabricação dos motores e demais peças de alumínio.

Carvalho explica que o alumínio (em forma de latas e demais objetos) é introduzido em um forno à temperatura de 750 graus, onde o mineral alcança o estado líquido e é transformado em liga, conforme a especificação do cliente, que é o fabricante de motocicletas. Em moldes, o alumínio chega ao estado sólido, em barras.

De acordo com o gerente comercial da Cometais, empresa responsável pela adquisição do alumínio e envio à Cometais Fundição, Lucas Colmanetti, a matéria-prima coletada pela empresa é proveniente da compra por parte de sucateiros (pessoa física) e também por parte das indústrias do PIM. No total, mais de 500 fornecedores, entre pessoas físicas e empresas, enviam matéria-prima à Cometais. Deste total, apenas 5% é relacionado às empresas fornecedoras consideradas por ele como de maior porte. “Maior volume de sucata não-ferrosa que recebemos é fornecida por sucateiros, pessoas físicas. Eles também enviam materiais como cobre, latão, entre outros. Mantemos um estoque e conforme a demanda fazemos a transferência à Cometais Fundição. Outra parte, em caso de baixa demanda, enviamos para a empresa de São Paulo, de onde o material segue para a exportação”, disse.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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