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Supermercados do AM reagem à proposta do governo

Justiça notifica supermercados sobre alta da cesta básica

Após o pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, sugerindo que empresários do setor supermercadista reduzam o lucro na cesta básica, entidades que representam o setor reagiram se posicionando contrárias à atitude do chefe do Estado. A justificativa do presidente é que essa seria uma forma de ajudar a combater os altos índices de inflação no país.

A Amase (Associação Amazonense de Supermercados), considera que Jair Bolsonaro está mal informado de como funciona o cálculo e a margem de lucro de um supermercado. O vice-presidente da entidade, Ralph Assayag, afirma que os estabelecimentos só repassam o preço quando vem da indústria. 

Para entender, a margem de lucro de um supermercado é o valor percentual que é obtido calculando-se a relação entre o lucro bruto e a receita daquele produto. “A margem de lucro hoje é muito pequena, chega a 1,5% a 2% é impossível sobreviver com menos do que isso”, esclareceu Assayag. 

O cálculo da margem de lucro do supermercado envolverá diferentes conceitos, como os custos de produção, lucro bruto e lucro líquido. 

“Quando nós compramos e automaticamente recebemos um preço maior, repassamos o mesmo valor. Muitas das vezes a margem é tão pequena que quando você recebe seu produto que acabou de vender, custa mais caro que o qual você vendeu”.

O dirigente reforça que Jair Bolsonaro precisa ter mais informação e cobrar a indústria que recebe vários benefícios de todos os lados, principalmente da Zona Franca. “Nesse caso, ele poderia pedir para segurar os preços, pois é diferente. Mas o supermercado que é um simples vendedor de serviços, que pega o produto de alguém, guarda, arruma e vende, não produz nada. É impossível a gente fazer qualquer ação se vier com aumento de preço da indústria”, frisou. 

Em nota, a Abras (Associação Brasileira de Supermercados) se reuniu com o ministro da Economia Paulo Guedes na terça-feira (7) e apresentou propostas: isenção de impostos dos produtos da cesta básica e a desoneração da folha de pagamento. 

Segundo a entidade, mais de 50 varejistas estiveram presentes na reunião e se comprometeram a repassar ao consumidor qualquer redução que houver na cadeia produtiva.

“A margem de lucro hoje é muito pequena, chega a 1,5% a 2% é impossível sobreviver com menos do que isso”, esclareceu Assayag

Análise

Economistas avaliam a proposta do presidente e entendem como uma medida de “desespero”, já que a teoria econômica funciona com a lei da oferta e da demanda. Além disso, existe um ambiente macroeconômico em que o país se encontra com a Selic em 12,75%, com a variação cambial entre R$ 4,90 e uma inflação que apesar de ter dado uma pequena recuada em 11,73% e a própria situação do conflito no Leste Europeu que vem fazendo uma pressão, principalmente sobre os combustíveis. A queda da inflação se deve por uma questão até dos próprios alimentos que tiveram retração nos preços. 

“O desespero que eu digo é que a equipe econômica não vem atuando de maneira clara no combate à inflação. Estamos muito acima do teto da meta de 3,5% e as políticas da equipe econômica do presidente Jair Bolsonaro, até com a elevação da taxa Selic  não vem demonstrando que nesse ano, nós vamos chegar perto do teto da meta. É preocupante esse apelo do presidente aos empresários. O que ocorre são as forças do mercado da oferta da demanda da livre concorrência e que obriga as empresas a trabalharem com uma faixa de preço de acordo com a questão macroeconomica”, comentou o professor universitário e consultor econômico Francisco de Assis Mourão Júnior.

Em entrevista à Folhapress, o coordenador de IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), André Braz, foi categórico. “O pedido é absurdo e incompatível para um chefe de Estado”.

Amase considera que Jair Bolsonaro está mal informado de como funciona o cálculo e a margem de lucro de um supermercado

“Todo supermercado vive pelas leis de mercado, da oferta e da procura. Ele é um revendedor, praticamente não fabrica nada. Se comprar uma mercadoria mais cara, por culpa de outros fatores que não têm a ver com o lucro dele, ele também não pode vender mais barato do que ele compra”, diz Braz.

“O supermercado também é responsável pela geração de empregos e renda. E um negócio desses não funciona comprando caro e vendendo barato”, afirma o economista.

Entenda

O presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu nesta quinta-feira (9) para empresários de supermercados reduzirem o lucro sobre a cesta básica com o objetivo de conter a alta dos preços sentida pela população. O pedido foi feito durante evento da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), do qual participou virtualmente.

Por dentro

Conforme divulgado pelo IBGE nesta quinta, entre os 377 produtos e serviços que compõem o índice, a maior alta mensal foi a da cebola (21,36%). Já a cenoura e o tomate tiveram queda intensa nos preços, após a disparada nos primeiros meses de 2022, o que elevou a base de comparação.

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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