A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) chega ao fim de 2009 em meio a questionamentos, após um ano marcado por divergências e uma fraca atuação em importantes temas regionais, limitada pela falta de consenso e com a necessidade de uma profunda reforma estrutural, segundo analistas ouvidos pela agência de notícias Ansa.
Surgida no ano passado, a Unasul foi confrontada com uma série de questões espinhosas nos últimos meses, entre eles o recrudescimento das tensões entre Colômbia e Venezuela, um caso de espionagem envolvendo Chile e Peru e a crise hondurenha.
Um dos casos emblemáticos foi o convênio assinado recentemente entre Estados Unidos e Colômbia que permite que 1.400 militares enviados por Washington ocupem por dez anos sete bases militares no país sul-americano.
O tratado foi o principal ponto de discussão de uma cúpula de chefes de Estado realizada em agosto na cidade argentina de Bariloche. No entanto, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, não cedeu ao pedido dos colegas e recusou-se a expor detalhes do pacto, visto como uma ameaça por alguns vizinhos, especialmente pela Venezuela de Hugo Chávez.
“Ao dizer ‘não’, Uribe está dando um golpe na relação de companheirismo dos membros”, diz Marcelo Fernandes de Oliveira, professor de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp e pesquisador na área de integração regional.
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, da maneira como existe hoje, a Unasul “está fadada a ser mais uma instituição regional com influência limitada”, pois o sistema adotado pelo bloco para tomar decisões, por consenso, impediu a aprovação de uma declaração que pudesse pressionar a Colômbia e bloqueou até mesmo a escolha do secretário-geral da entidade. O nome mais cotado para o cargo, do ex-presidente argentino Néstor Kirchner, foi vetado pelo Uruguai devido ao impasse relacionado a uma fábrica de celulose no rio que delimita a fronteira entre os dois países. Oliveira crê que a falta de consenso está vinculada às próprias assimetrias sul-americanas e às diferenças de interesses na condução do bloco. Em sua opinião, a liderança da Unasul vem sendo disputada por três países: o Brasil, com uma visão mais prática, racional e econômica; a Argentina, a partir de uma ênfase no comércio exterior; e a Venezuela, com a proposta de levar a lógica da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas) ao órgão.
“É muito difícil para a Unasul atuar. Há uma paralisação dentro dela, uma divisão política entre a Alba e o grupo dos países que são contra a Alba que impede que ela funcione adequadamente”, complementa Barbosa, lembrando que a entidade também ficou dividida quanto à adoção de uma postura comum sobre a crise hondurenha, detonada pelo golpe de Estado que tirou do poder o presidente Manuel Zelaya.
Para o professor da Unesp, um bom caminho para tornar a Unasul mais eficiente e menos refém de discordâncias internas seria um processo de “supranacionalização”, nos moldes da União Europeia (UE).
Para isso, no entanto, explica ele, os maiores países teriam de arcar com o custo de despertar o interesse das nações pequenas com investimentos compensatórios à menor representatividade populacional –assim como a UE fez com Portugal e Espanha.
Apesar das dificuldades, Barbosa avalia que a Unasul pôde avançar no último ano em alguns pontos positivos, como a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa. “É importante que tenham se reunido, criou-se o grupo de defesa, o grupo de combate às drogas. É um fórum regional político, e não havia nenhum”, afirma.
Sucesso da Unasul depende da superação das diferenças, dizem especialistas
Redação
Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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