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‘Sou favorável à conservação ambiental, mas nunca contra o homem’

MARCELO PERES

face: marcelo-peres  Insta: @jcommercio

O advogado Luiz Castro já acumula 11 disputas políticas, como deputado, prefeito e mandato tampão. Agora, parte para mais uma eleição, sendo candidato ao Senado pelo PDT, o partido do presidenciável Ciro Gomes.

Crítico contumaz das oligarquias que comandam o Amazonas, Castro defende o diálogo e uma maior aproximação com a sociedade civil, priorizando interesses da população, ao contrário de muitos políticos que só pensam em seus interesses pessoais, como muito bem ressalta.

Para ele, a política amazonense não evoluiu. Continua retrógrada como antigamente, em pleno século 21. Luiz Castro quer ser um político diferenciado nessa nova empreitada. “Serei um senador do diálogo permanente”, promete. Ele quer construir junto com a população as prioridades e demandas, como fez Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, quando exerceu o mandato de senador.

Castro pretende repetir a mesma trajetória do líder político americano por entender que só a discussão de ideias, livres de cores partidárias e de ideologias, podem apontar os caminhos para fomentar atividades socioeconômicas, gerando mais empregos e renda, além de outros benefícios necessários a um Estado.

“Nunca se viu um senador buscar uma maior aproximação com a população no Amazonas, principalmente com as comunidades ribeirinhas, que hoje vivem sem apoio do Estado, não contam com empregos, quase em situação de miséria absoluta”, acrescenta Castro.

Defensor inconteste do meio ambiente, segmento em que teve uma larga atuação, o candidato avalia que o desenvolvimento econômico pode ser agregado às potencialidades dos recursos naturais, desde que seguidos de projetos sustentáveis, preservando a rica biodiversidade.

“Está mais do que provado que novas tecnologias permitem a implantação de projetos sustentáveis sem quase nenhum impacto ao ambiente. O que não se pode fazer é deixar as populações ribeirinhas sem empregos, sem qualquer perspectiva de melhorias econômicas. Isso jamais deveria ser permitido”, afirma Castro.

Segundo Castro, a população amazonense reclama de muitas melhorias. Pelo menos 500 mil pessoas vivem praticamente hoje em situação de miséria, apesar das indústrias da Zona Franca que representam a principal receita tributária do Amazonas, diz ele.

Luiz Castro participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Essa sua caminhada rumo ao Senado tem proporcionado, com certeza, a retomada do contato com a população. Qual a principal preocupação manifestada pelas pessoas durante esses encontros?

Luiz Castro – Temos tido contato com estratos sociais com menores recursos financeiros. Observamos uma desesperança, até situações mesmo desesperadoras, de carência material, de violência.

Hoje, nossa periferia tem cada vez mais episódios de fome. Realmente, a fome voltou. A preocupação das famílias com os jovens e crianças é muito grande. Sempre a preocupação dos filhos ingressarem na criminalidade. Temos um desemprego muito grande, embora a Zona Franca de Manaus tenha mais de 100 mil empregos, o comércio de Manaus também com mais de 200 mil empregados.

Só nos dados do Sine temos mais de 250 mil desempregados. Tem muita desesperança e tristeza dos jovens e homens e mulheres com mais de 40 anos.

Temos um indicador muito grande de desemprego no interior do Estado. Muitas reclamações que precisa melhorar as cadeias produtivas no interior, que ainda não são potencializadas. Não temos indústrias, frigorificação para nossos pescados.

As nossas produções regionais, seja agricultura ou extrativismo, precisam de um planejamento econômico sustentável para o nosso interior.

E, claro, nas camadas mais aquinhoadas da população a preocupação é sempre muito presente com o destino econômico do nosso Estado, com a situação de vulnerabilidade da Zona Franca.

E esse fenômeno da violência impressiona todas as classes sociais. Só que ele causa mais mal, mais malefícios às camadas mais pobres.

A classe média alta, aqueles que têm dinheiro, moram em condomínios fechados, casas, eles reclamam, mas não sentem tanto como as pessoas da periferia

Então, nós vivemos um momento muito difícil. O Amazonas, como o Estado mais rico do Norte e Nordeste, com o maior PIB per capita, mas ao mesmo tempo é o segundo Estado mais desigual do Brasil com 500 mil pessoas abaixo da linha da pobreza, em situação de miséria

Há um desencanto e muito descrédito da política. Muitas reclamações na capital e no interior de que os políticos não estão cumprindo as suas promessas e seus compromissos com a população. É claro que há exceções.

JC – Quantas eleições já disputou?

LC – Já disputei muitas eleições. Duas para prefeito do interior, cinco para deputado, uma para mandato tampão de prefeito….Então, são 11 disputas.

JC – E esta é a décima segunda. Qual a sua percepção das eleições neste momento tão diferenciado que se vive, com a presença das redes sociais na vida das pessoas?

LC – É um mundo em mutação constante e rápida. As mudanças tecnológicas vão interferindo na vida da sociedade com uma velocidade cada vez maior.

A geração mais nova está cada vez mais ligada na internet e menos nas mídias tradicionais. Tem uma diferenciação geracional. As pessoas de mais de 40 anos, e não são poucas, nós temos muitas ainda, ainda têm uma ligação maior com a televisão e o rádio.

Mas a presença da internet vem crescendo, então, temos um conjunto de ferramentas que interferem na maneira como as pessoas se relacionam

A questão do Twitter, que é muito mais elitizado, o Facebook mais forte no interior do que na capital devido à precariedade da internet na maioria dos municípios do interior

Temos o Instagram que ganhou muito a adesão dos jovens, mas que começa a ganhar a adesão também da geração mais antiga.

E temos o Tik Tok, que é um fenômeno e precisa ser compreendido, e que não está sendo muito bem canalizado para as questões políticas. E temos que conviver com tudo isso. E saber que o WhatsApp virou uma extensão do nosso corpo e da nossa mente.

Hoje, não há nenhum profissional que abra mão do WhatsApp, a não ser que o faça pelo Telegram. Então, vivemos um mundo muito complexo. Precisamos dialogar muito. Também é um desafio na política.

JC – Você também está presente no Tik Tok…..?

LC – Não, estou presente no Face, Instagram e no Twitter, mas estou começando no Tik Tok, que ainda é uma rede em construção, um fenômeno junto à juventude.

Ainda não se mensura o impacto político do Tik Tok, mas certamente vai existir. Agora, a gente também não pode desprezar a mídia tradicional, que é muito importante na campanha.

E os jornais têm esse grande papel de balizar a qualidade da informação, do ponto de vista da veracidade, se é fato ou fake.

JC – Você sempre foi um dos grandes defensores do ambiente. Saiu a licença prévia do trecho da BR-319. Como trataria dessa questão no Senado?

LC – Tenho colocado uma linha de coerência clara, objetiva, em relação à BR-319. Estive no partido Sustentabilidade e dentro da rede muitas pessoas foram ou até ainda estão contra a pavimentação da BR-319.

Eu sempre fui a favor da pavimentação da BR-319, mas com o devido cuidado, com a implementação de um sistema de monitoramento de controle ambiental com as diversas instituições que podem e devem executar esses serviços.

Vinte anos atrás, seria muito perigoso pavimentar a estrada por conta daquele fenômeno de espinha de peixe. Os satélites não tinham alcance para detectar aqueles desmatamentos pequenos, invasão de madeireiros, não tínhamos drones, nem a capacidade tecnológica que hoje têm o Ipaam, a Polícia Federal, o Ibama, a Polícia Rodoviária Federal.

Então, hoje é possível perfeitamente conciliar a pavimentação dessa estrada com o trecho do meio, que é considerado um dos trechos mais ricos de biodiversidade da Amazônia e do mundo.

E, inclusive, já foram criadas várias unidades de conservação. Temos que ver também que o grande problema de desmatamento, extração de madeira ilegal, está vinculado à grilagem de terras, falta de regularização fundiária e também de uma atuação mais rigorosa dos órgãos fundiários estadual e federal.

Sou favorável à conservação ambiental, mas nunca contra o homem, nem contra a mulher. Temos condições de desenvolver modelos que podem permitir a pecuária ser menos motivadora de desmatamento, temos condições de industrializar nossos produtos naturais como o açaí.

Por exemplo, Humaitá está exportando açaí para o Brasil inteiro, mesclando o açaí do extrativismo com o açaí plantado. A agricultura familiar tem um potencial muito grande, mas nós precisamos implementar programas agroflorestais para adensar a renda do agricultor ribeirinho para que tenha uma permanência na terra.

Temos também o caso do assassinato de Dom Phillips e de Bruno Pereira que teve uma grande repercussão. Mas pouco se fala das cadeias de valor que estão relacionadas a essa criminalidade. E uma delas é o contrabando de peixe brasileiro para a Colômbia

Há 20 anos, Benjamim Constant era uma cidade pujante com a extração de madeira. E a gente viu as leis ambientais inadequadamente aplicadas inviabilizarem todas as serrarias de Benjamim.

E os peruanos com um monte de serrarias tirando madeira do lado brasileiro fazendo tudo o que os brasileiros não podem fazer. Isso não é desenvolvimento sustentável, isso é burrice. E o Brasil está repleto de fenômenos de ineficácias.

Temos um grande gargalo no Ipaam, que tem que ser interiorizado. Um manejo florestal demora dois anos, enquanto isso o madeireiro ilegal vai ganhando dinheiro.

Já chega de briga, temos que nos unir. E isso não tem sido feito por nossos senadores. Eles não têm essa aptidão, essa vivência com o nosso interior.

JC – Você teve um engajamento ativo na FAS. O que representa essa vivência em relação ao homem do interior, ao amazônida?

LC – Foi muito importante para mim me reconectar com a realidade dos ribeirinhos, algo que em meu tempo de prefeito era constante com a coletividade, com a política.

Mas como deputado você acaba participando menos dessas atividades. A FAS não é uma ONG ambientalista, ela é socioambiental, inclusive o lema é cuidar bem do homem que cuida da floresta, da mulher, das famílias.

Então, a ideia é cuidar da saúde, cuidar da qualidade da saúde, da educação, das políticas de infância e juventude e do desenvolvimento econômico.

Pouca gente sabe. O trabalho que a FAS desenvolveu de turismo de base comunitária na RDS do Rio Negro é belíssimo. Então, você não precisa ir a um hotel caro. E vai ter uma pousada com serviços de qualidade. Estão vindo mais pessoas do Sul para essas pousadas do que amazonenses.

É o que a FAS construiu em conjunto com as comunidades. Sou político com visão técnica e social. Tem que unir essas coisas, colocar o bem comum acima do interesse pessoal. Não tivemos ainda nenhum governo no Amazonas com a política que a FAS desenvolve com as comunidades ribeirinhas nas unidades de conservação.

JC – Eleito, quais seriam as primeiras medidas no Senado para beneficiar o Estado, principalmente as comunidades ribeirinhas?

LC – Um senador tem que representar o Estado por inteiro, com uma visão dessa enorme região territorial com mais de um milhão de quilômetros quadrados e mais 62 municípios, conhecendo a sua realidade.

Pretende visitar as principais embaixadas do Brasil, jornais, veículos de comunicação, estabelecer contatos com Ministérios, tratando de desenvolvimento sustentável, saúde. E essa equipe tem que ser capacitada para exercer um mandato eficaz e eficiente.

Eu quero inaugurar uma forma diferente de representar o Amazonas no Senado. Não só tratar de emendas parlamentares. Isso não funciona. Tem que  dialogar com todos, sociedade, entidades empresariais, representativas de categorias, com a sociedade civil organizada, e definir critérios de prioridades com o povo.

Serei um senador do diálogo permanente, da construção de pontes. A área de saúde continua precária. Quero ter um mandato mais participativo, não de oba oba.

Quero fazer como Obama senador, que ia a cada comunidade ouvindo as pessoas. Ele ganhou uma credibilidade imensa. Precisamos inaugurar uma nova forma de fazer política. Pretendo ser um senador contemporâneo.

JC – Parece que vivemos uma eterna beligerância com o governo federal em relação à ZFM. Como avalia essa questão e qual seria sua atuação em defesa do Amazonas?

LC – Primeiramente, um senador do Amazonas tem que ter uma ótima assessoria econômica para questões complexas, tributárias relativas ao nosso polo industrial. Não pode discutir com achismos em relação à equipe econômica, sem desprezar as entidades comerciais. E apresentar propostas convergentes e soluções.

Precisamos melhorar o nível da qualidade da bancada do Amazonas. Podemos nos unir com senadores de outros Estados da Amazônia. Um senador tem que ser um auxiliar para atração de investimentos.

Não temos nenhuma indústria de cosméticos. São Paulo é o maior exportador de copaíba sem produzir um litro. Um senador tem que trabalhar. Distribuir emendas como prefeitos é muito pouco para o salário e conforto que um senador tem em Brasília.

JC –Como fica o comportamento em relação a Lula, Bolsonaro, que devem polarizar a disputa, incluindo também Ciro Gomes?

LC – Acredito que Ciro vai crescer durante os debates. Tenho eleitores que apoiam o atual presidente, o ex-presidente. E vou torcer para o Ciro ganhar.

Se ele for para o segundo turno, tem mais chances de ganhar. É o mais preparado. Serei senador do povo do Amazonas. Sou muito mais um político de posições, escolho um lado, não é um lado ideológico. É o lado daquilo que é bom para a cidade que eu represento.

Marcelo Peres

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