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Setor de Serviços põe o ‘pé no freio’ no Amazonas

O setor de serviços do Amazonas perdeu fôlego em abril, após três meses seguidos de escalada. Em mês de alta mais amena na inflação e no endividamento do consumidor, a variação mensal da atividade encolheu 1,1% em âmbito local, perdendo completamente o ganho anterior (+1,1%) e sinalizando mais dificuldades para crescer na atual conjuntura econômica brasileira. O Estado foi em direção diferente da média nacional que estagnou (+0,2%), sendo sustentada pelos subsetores de informação e comunicação, e de serviços prestados às famílias. 

Ainda houve incremento de 9,8% ante abril do ano passado, confirmando os efeitos do bônus da reabertura dos serviços presenciais, frente ao avanço da vacinação e a queda dos índices de covid-19. Há um ano, o setor ainda ensaiava flexibilização e quase que inteiramente limitado a atividades remotas. Com isso, o Amazonas somou altas de 10,3%, no quadrimestre, e de 11,4%, em 12 meses. As respectivas médias brasileiras (+0,2%, 9,4% e +9,5%) foram todas positivas. Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), e foram divulgados pelo IBGE, nesta terça (14).

Apesar da retração mensal no volume de serviços (-1,1%), o Estado subiu da 18ª para a 17ª posição no ranking do IBGE, que registrou nada menos do que 15 desempenhos negativos. Rio Grande do Norte (+7,9%) e Amapá (+4,6%) tiveram os melhores números, enquanto Distrito Federal (-8,2%) e Acre (-6,1%) ficaram no rodapé. Em relação ao mesmo mês de 2021 (+9,8%), houve avanço do 16º para o 15º lugar, em uma lista também iniciada por Alagoas (+39,1%) e encerrada por Rondônia (-4,5%). Mesmo com o quadrimestre (+10,3%) no azul, o Amazonas caiu 11ª para a 13ª colocação. Alagoas (+27,5%) e Distrito Federal (+2,4%) protagonizaram os extremos. 

A receita nominal, por outro lado, voltou a se descolar do volume de serviços registrado no Amazonas no mesmo período, em virtude da resiliência da inflação, ainda que em ritmo menor. Ao contrário do ocorrido com o volume de vendas, a variação mensal do faturamento a preços correntes ficou positiva (+1,1%), e acima da marca de março (+0,8%). No confronto com abril de 2021, a elevação foi de 16,8%, mantendo os acumulados do ano (+17,3%) e dos 12 meses (+18,2%) no azul. As respectivas médias nacionais (+0,9%, +16,5%, +15,7% e +17,8%) foram todas mais baixas. 

Restaurantes apresentam pequena recuperação pós-crise

Bônus pandemia

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressaltou à reportagem do Jornal do Commercio que o setor de serviços foi o último a apresentar queda no Amazonas. “Seria muito difícil manter aumentos constantes sobre o mês anterior, considerando a atual circunstância da economia. Por outro lado, a comparação com o mesmo mês de 2021 continua em alta, o que colabora para manter o acumulado. Embora as perspectivas para o próximo mês não sejam tão otimistas, é importante que o desempenho em relação a 2021 continue em alta”, ponderou. 

Na análise do pesquisador, o arrefecimento das estatísticas de contágio da covid-19, e a consequente flexibilização das restrições sanitárias às atividades econômicas ainda é o fator preponderante para a alta. Ele lembra que a crise sanitária suspendeu muitos serviços de empresas e de famílias, contribuindo para uma demanda reprimida, que vinha sendo atendida, além da abertura de novas frentes para o setor. A mesma sondagem, no entanto, indica que os próximos meses devem ser mais difíceis.

“A comparação com o ano passado ainda está bem alta. O problema é o mês a mês. O ritmo estava muito elevado e, como a economia não está bem, a atividade de serviços do Amazonas sentiu o reflexo em abril. A média móvel trimestral indica crescimentos de 0,8%, para o volume de vendas, e de 1% para a receita nominal do setor. É muito pouco, e já houve esse sinal em abril. Por isso, não é seguro definir aumento para maio”, analisou.

Transporte de passageiros

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos em âmbito local. A alta mais modesta da média nacional neste mês se disseminou em apenas duas das cinco atividades investigadas pelo IBGE dentro do setor. As influências positivas se concentraram em apenas dos segmentos de informação e comunicação (+0,7%) e dos serviços prestados às famílias (+1,9%) – puxados por alojamento e alimentação. 

Em contraste, os subsetores de serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,6%), “outros serviços” (-1,6%) e transportes (-1,7%) retrocederam ante março. Apesar disso, este último registrou um ponto fora da curva no transporte de passageiros, que cresceu 2,3% em abril, ficando 0,1% acima do patamar de fevereiro de 2020. “Depois de dois anos e dois meses, o segmento superou pela primeira vez o patamar pré-pandemia, ratificando a maior mobilidade da população”, frisou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE.

Recuperação e dificuldades

Apesar de ainda sentir as dívidas acumuladas no período da pandemia, o subsetor de alimentação fora do lar, um dos mais representativos dos serviços do Amazonas, vem registrando recuperação. Segundo o presidente da Abrasel-AM (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Seção Amazonas), Rodrigo Zamperlini, os estabelecimentos tiveram aumento progressivo no número de clientes e seguem “em ritmo de aquecimento”, em função do refluxo da crise sanitária. O dirigente alerta, no entanto, que as dificuldades estão obrigando os empresários a se reinventarem.

“Com impacto na capacidade de consumo, ou seja, com a inflação e, principalmente, o reajuste nos preços dos alimentos, o ticket medio deve diminuir. Isso vai exigir dos empresários muita atenção na remarcação dos preços, que o nosso setor tem segurado como pode. Terá de haver adequações nos cardápios e promoções para atrair clientes com desejo de consumir, mas que estão com menos dinheiro no bolso”, avaliou o presidente da entidade, ponderou.

Em matéria publicada no Jornal do Commercio, o vice-presidente da Asseaam (Associação de Entretenimento do Estado do Amazonas), Evandro Júnior, destacou que a retomada chegou com força ao segmento de eventos, fomentando sua cadeia produtiva. “Os grandes produtores voltaram a trabalhar, e está dando muito certo. O público tem ajudado muito, prestigiando as diversas realizações de eventos em diferentes nichos do mercado. Os grandes eventos, as casas de shows, enfim, nos mantemos otimistas e preparados para fortalecer o restabelecimento do setor”, comemorou. 

Em entrevista anterior à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fecomércio-A (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, ressaltou que o setor de serviços se recuperou mais rápido também por estar menos sujeitos aos fatores negativos de frete, variação cambial, ou mesmo pagamento antecipado de tributos. Mas, alertou que o aumento dos custos e dos índices de inadimplência são obstáculos ao crescimento contínuo da atividade.  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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