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Setor de serviços mostra otimismo e cautela para os próximos meses

Empresários dos segmentos de serviços de Manaus, como academias fitness e salões de beleza, demonstram otimismo e cautela em relação à capacidade de reação dos negócios para os próximos meses. Por um lado, a nova flexibilização, conferida pelo decreto 43.722, acena com uma nova extensão de horários e a possibilidade de um começo de retomada. Por outro, o medo da terceira onda, já se faz sentir no fluxo de vendas, inclusive entre os clientes mais fidelizados e antigos.

Antecipado na sexta, em live do governo estadual, e publicado nesta segunda (19), o novo decreto manteve o toque de recolher de 0h às 6h, até 2 de maio, mas anunciou a extensão de horário para segmentos diversos de comércio e serviços do Amazonas. Com as mudanças, os shoppings – onde se encontra parte significativa das empresas em questão – passaram a abrir de 10h às 22h (segunda a sábado) e de 11h às 17h, observando a ocupação limitada no estabelecimento (50%) e nos estacionamentos (70%). 

O horário das academias foi estendido para 6h às 21h, de segunda à sábado, das 6h às 21h, mas as aulas coletivas seguem proibidas. No caso das instituições de ensino, fica facultado o funcionamento dos cursos técnicos. Salões de beleza, barbearias e similares não localizados em shoppings, poderão receber clientes de 8h às 20h, de segunda a sábado. Lan houses podem funcionar de 8h às 17h. Em todos esses estabelecimentos a ocupação não deve exceder os 50% de capacidade de ocupação.

Medo e inadimplência

A sócia proprietária da Amazônia Fit, Patricia Areb, considerou que o aumento da jornada de trabalho paras as academias foi positivo para as empresas, que vinham registrando números acanhados de frequência, mas não deixou de lamentar que o retorno das aulas aeróbicas tenha sido adiado mais uma vez, dado que alguns alunos usavam o treinamento como terapia e única opção de exercício, devido algum tipo de comorbidade. 

“Em março, trabalhamos com 30% de nossa capacidade de ocupação e estamos crescendo aos poucos, em abril. Esse horário ainda não está dentro do esperado. Nossas expectativas são boas, porém já iniciaram rumores sobre a probabilidade de um novo fechamento e aumento de casos. Isso assusta nossos alunos e muitos estão com medo de voltar”, alertou.

Sócio-proprietário da mesma academia, Ederson Santos da Silva, reforça que a academia sofreu um tombo muito mais significativo de clientela na segunda onda do que na primeira. Em março do ano passado, a empresa contava com em torno de 750 clientes ativos, quantitativo que se manteve praticamente o mesmo em junho de 2020. Entre a virada do ano e o novo retorno às atividades em 1º de março, o cadastro já havia sofrido um tombo de 72% e não passava de 210 clientes.

“Quando a primeira onda acabou, ninguém esperava que houvesse uma segunda. Se as coisas tivessem corrido normalmente, já era para estarmos com mais de 1.100 alunos. Infelizmente, temos mais de 500 que estão inadimplentes e que, portanto, não retornaram. É fato que o medo está fazendo com que muitos de nossos clientes – especialmente os que são idosos, estão acima do peso ou tem problemas de saúde e que são maioria – não retornem. Mas, a questão financeira está pesando também”, lamentou.

De acordo com Ederson Santos da Silva, em virtude das dificuldades financeiras impostas pelas pandemia e pelas restrições governamentais, a academia está trabalhando com pelo menos oito estagiários e quatro profissionais ainda sem carteira assinada. A maior parte do contingente já trabalhava antes e retornou com a flexibilização, mas ainda não pode ser efetivada novamente.

“O governo não ajuda com nada e é muito difícil conseguir financiamento com a Afeam. Para isso, é necessário não contar com nenhuma restrição, coisa que é difícil ter, nesses tempos de pandemia. Graças a Deus que os proprietários do imóvel que usamos são compreensivos e não cobraram nada no período em que ficamos sem funcionar, além de facilitarem o pagamento do aluguel. Mas, apesar de tudo, sempre sou otimista e tenho certeza de que, se não vier a terceira onda, esse período de pandemia e quarentena vai contribuir para uma maior valorização da saúde e dos exercícios físicos”, ponderou.

Custos x vendas

Na mesma linha, o proprietário e CEO da Amanda Beauty, Luiz Alberto “Beto” Pontes, assinala que a segunda onda da pandemia gerou baques muito mais significativos para o fluxo de negócios do que a primeira. A diferença entre o ambiente de negócios e as salvaguardas para evitar a morte de pessoas jurídicas também é significativa nos dois períodos, conforme o empresário.  

“No ano passado, ficamos cem dias fechados. Mas, quando abrimos, havia otimismo e o auxílio emergencial e demais políticas públicas mantiveram o dinheiro circulando e a economia em recuperação. Mesmo assim, fechamos o ano com uma queda de 20%. Já em 2021 ficamos 66 dias sem poder atender e tivemos um retorno lento e aos poucos, com recuo de 50% nos negócios, quando comparado a março de 2019. Em 2020, tivemos o Pronampe. Neste ano, tivemos de nos sustentar com recursos próprios, porque os juros bancários são muito altos”, comparou.

Embora o empresário ressalve que o segmento tem a particularidade de trabalhar com um elevado contingente de autônomos, não deixa de mencionar que entre 10% a 15% dos celetistas tiveram de se dispensados, durante a segunda onda, uma vez que não há mais o recurso de suspender contratos ou reduzir jornadas e salários.  

No entendimento de “Beto” Pontes, as mudanças do novo decreto são positivas, mas só devem surtir algum efeito a partir de maio, quando a clientela já estiver plenamente a par das mudanças. “Abril ainda vai ser um mês de custos e poucas vendas. Esperamos fechar com uma queda de 30%. E não faz sentido abrir tão cedo [de 11h às 17h] nas lojas de shopping, nos domingos. Historicamente, o movimento nos centros de compras nesses dias só começa a aquecer de 14h em diante”, comentou.

O CEO da Amanda Beauty também aponta que o medo generalizado de uma possível terceira onda já produziu baixas significativas em pelo menos 20% da clientela e deve se manter como um inibidor de vendas. “Os números baixaram, mas o governo alerta sobre essa possibilidade de terceira onda. E as pessoas continuam fazendo aglomerações, o que só contribui para afugentar a clientela e prejudicar os negócios. A reação dos negócios vai depender muito da vacinação e dos estímulos econômicos. Não acredito que haverá terceira onda. Mas, se tiver, muitas empresas não vão aguentar mais”, concluiu.  

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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