Os serviços do Amazonas retomaram alta em agosto, após dois meses de queda. Beneficiado por dois dias úteis a mais, e pelo retorno de consumidores das férias, o setor cresceu 0,8% perante julho. Foi o quinto desempenho positivo nesse tipo de comparação, na contramão da média nacional. Mas, não foi suficiente para repor as perdas anteriores. O incremento em relação ao mesmo mês de 2022 não passou de 0,3%, contribuindo para uma redução de ritmo nos acumulados do ano (+3,2%) e dos últimos 12 meses (+4,9%).
Apesar do aquecimento, o Amazonas segue abaixo da média nacional em quase todas as comparações. O setor recuou 0,9% em todo o país, com quedas disseminadas em quatro de seus cinco segmentos, com destaque para transportes e serviços prestados às famílias – especialmente restaurantes e hotéis. Mas, a progressão se manteve na variação anual (+0,9%), sustentando desempenhos favoráveis nos aglutinados de 2023 (+4,1%) e dos últimos 12 meses (+5,3%). Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE.
Mesmo com o IPCA ainda ameno de agosto (+0,23%) o descolamento da receita nominal em relação ao volume de serviços aumentou, em sentido contrário ao das vendas. A variação mensal do faturamento a preços correntes equivaleu a mais que o dobro do volume efetivamente comercializado, ao crescer 1,9%. A comparação com agosto de 2022 indicou alta de 3,7%, repondo os acumulados do ano (+6,1%) e dos 12 meses (+8,4%). As médias nacionais (-0,2%, +3,3%, +7,8% e +9,8%) foram quase todas mais elevadas.
Estados e atividades
Com o avanço de 0,8% perante julho, o Amazonas galgou da 19ª para a quinta posição do ranking, em meio a 19 resultados negativos e uma estabilidade. A lista foi liderada por Mato Grosso do Sul (+7,5%) e Goiás (+3,7%), com os piores resultados ficando em Alagoas (-5,6%) e Acre (-4,8%). Em relação ao mesmo mês de 2022, o Estado (+0,3%) passou da 25ª para a 23ª colocação, em uma lista com o Mato Grosso (+26,3%) e o Amapá (-13,7%) nos extremos. No acumulado do ano (3,2%), permaneceu na 21ª colocação, em um rol também liderado pelo Mato Grosso (+18,1%) e encerrado pelo Amapá (-2,8%).
O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta dados desagregados por segmentos. O retrocesso mensal de 0,9% para os serviços de todo o país se disseminou em quatro das cinco atividades. O único dado positivo veio dos serviços profissionais, administrativos e complementares (+1,7%), graças ao impulso das atividades de limpeza, atividades jurídicas e serviços de engenharia.
Em contraste, o segmento de transportes (-2,1%) puxou os números globais para baixo, com resultados negativos disseminados em todos os modais –principalmente o aquaviário (-1,3%). Os serviços prestados às famílias (-3,8%), o único que ainda não retomou o patamar pré-pandemia, foi desfavorecido por restaurantes e hotéis. Informação e comunicação (-0,8%) e “outros serviços” (-1,4%) também declinaram, sendo prejudicados por consultoria em TI e corretoras de títulos e valores imobiliários, respectivamente.
“Fraco desempenho”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, considera que, embora “pequeno”, o crescimento dos serviços do Amazonas foi significativo para o Estado, até porque foi um dos poucos desempenhos positivos do país no período. O pesquisador ressalta, contudo, que a sinalização dos números da sondagem não é positiva para o comportamento do setor, no curto prazo.
“Mesmo que os acumulados do ano e dos 12 meses permaneçam positivos, estão bem abaixo dos dados apresentados em agosto do ano passado, indicando que a atividade está tendo vendas bem inferiores. O Amazonas está entre os últimos do ranking nacional, e o setor precisa de números melhores para fechar o ano de forma positiva. Mas, a média móvel trimestral está negativa em 0,6%, reforçando a tendência de fraco desempenho nos últimos meses deste ano”, analisou.
Em matéria postada no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, assinala que a queda percebida pelos serviços em todo o país foi a mais severa desde abril. No caso dos restaurantes e hotéis, ressalta que julho é mês de férias, quando as famílias aumentam o consumo por serviços de alimentação e hospedagem, e isso pode ter elevado a base de comparação.
Já os transportes teriam sido influenciados pelas atividades de gestão de portos e terminais e de transporte rodoviário de cargas –que desde a pandemia vinha sendo favorecido pelo comércio eletrônico e a produção agrícola. “A atividade vem apresentando perda de fôlego há algum tempo, registrando um impacto importante na pesquisa. O transporte de cargas, por sua vez, atingiu o ápice em julho de 2023, ou seja, está com uma base de comparação muito elevada”, avaliou.
“Acomodação e saturação”
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, avaliou que o setor de serviços está entrando em um “período de acomodação” e “saturação”. “Vários fatores podem ser arregimentados para uma explicação. Um deles é que o consumidor está cada vez mais empobrecido, sem acesso a crédito e negativado. O governo está tentando, através de medidas que envolvem a adesão dos bancos, resolver essas pendências”, ponderou.
Na análise da ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, a recuperação dos serviços favorece o ambiente macroeconômico, mas o cenário ainda inspira preocupação, dado o peso econômico da atividade. Ela lamenta pela dificuldade que restaurantes e hotéis enfrentam para recuperar as perdas impostas pela pandemia, apesar das campanhas e promoções do segmento. E avalia que as contratações não mostram sinais de avanço.
“Com a proximidade das comemorações de final de ano, acreditamos em uma recuperação do setor, dada a elevação do consumo com a renda extra do 13º salário e férias, que chegam em um ambiente de inflação e juros a patamares relativamente favoráveis. Um fator que deve ser observado é a atual conjuntura logística ocasionada pela vazante, que pode impactar na atividade regional, pois dificulta o transporte de cargas e passageiros”, concluiu.
Boxe ou coordenada: Setor de serviços continua contratando
A perda de vigor dos serviços ainda não se refletiu nos empregos. De acordo com os dados mais recentes do ‘Novo Caged’, o setor se segurou na liderança do ranking de atividades econômicas do Amazonas e acelerou as contratações, em agosto. O mês foi marcado por um aumento de 1,11% nos estoques e criação de 2.503 postos de trabalho celetistas, em dado mais forte do que o de julho (+0,81% e +1.821). Os números mais relevantes vieram das atividades de seleção, agenciamento e locação de mão de obra (+866), organizações associativas (+390), educação (+227) e alimentação (+225). No acumulado do ano, foram geradas 12.709 vagas (+5,90%), no melhor número do Estado.