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Sérgio Santorelli: cartilha dos bichos curiosos

Três cartilhas sobre espécies curiosas de sapos, cobras e peixes encontrados na região de Humaitá (distante 591 quilômetros de Manaus), no sul do Amazonas, ganharam destaque num artigo científico do informativo mensal do Observatório BR-319. O texto foi assinado pelo pesquisador Sérgio Santorelli Junior, da Ufam/Humaitá; Lis Stegmann, pesquisadora de pós-doutorado da Embrapa Amazônia Oriental, no Pará; e Rafael de Fraga, pós-doutor no Laboratório de Ecologia e Comportamento Animal da Universidade Federal do Oeste do Pará. Em entrevista ao Jornal do Commercio, Sérgio Santorelli detalhou esse trabalho de pesquisa.

Jornal do Commercio: Quantas cartilhas vocês lançaram, e qual o objetivo delas?

Sérgio Santorelli: Cartilhas, ou guias introdutórios de espécies da região. Foram produzidos até o momento três: ‘Sapos da região de Humaitá – uma introdução à diversidade de sapos para estudantes e ecoturistas’; ‘Cobras venenosas e espécies semelhantes na região de Humaitá’; e ‘Guia ilustrado dos peixes de igarapés da BR-319 – uma introdução à biodiversidade’. Um dos objetivos principais desses guias é contribuir para a conservação da biodiversidade local inserindo as pessoas que vivem nessas áreas e fazendo com que sejam parte desse processo. Com os guias tentamos aumentar a disseminação de informações, para o público em geral, a partir dos resultados obtidos pelos pesquisadores responsáveis por alguns grupos biológicos que estão sendo investigados no âmbito do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração no Sudoeste do Amazonas.

Sérgio Santorelli Júnior: foram produzidas, até agora, 3 cartilhas

JC: Por que vocês focaram apenas em sapos, cobras e peixes?

SS: A escolha desses grupos foi realizada devido à disponibilidade de informação que já tínhamos e a iniciativas dos pesquisadores especialistas de cada grupo biológico. Mas a produção de materiais como esses será contínua. No momento está sendo elaborado um que irá falar sobre os morcegos da BR-319, mas outros poderão ser produzidos ao longo do tempo sobre macacos, formigas, borboletas. Todo esse material está sendo traduzido para a linguagem indígena.

JC: Vocês são dois pesquisadores e uma pesquisadora. Cada um pesquisou uma espécie de animal?

 SS: Nós somos um grupo de pesquisa, formado por vários (as) pesquisadores (as) onde cada um possui uma especialidade taxonômica. No caso dos guias, os primeiros autores de cada um são os principais especialistas daquele grupo, são as pessoas que sabem identificar as espécies e possuem bastante conhecimento sobre a biologia de cada uma delas. A pesquisadora Lis Stegmann e o Rafael de Fraga são especialistas em peixes e cobras, respectivamente. No guia sobre os sapos, a especialista do grupo se chama Albertina Lima. Todos desenvolvem pesquisas na Amazônia há anos e possuem vasto conhecimento sobre o assunto e são referências em suas respectivas áreas.

Peixe folha

JC: Vocês sabiam sobre o que iam pesquisar, ou foram descobrindo essas espécies à medida que as observações aconteciam?

SS: Na natureza existem algumas espécies que são mais comuns do que outras e que podem ser encontradas em vários locais. Mas saber com exatidão as espécies que serão encontradas é impossível. É por isso que são realizadas essas excursões e o monitoramento da biodiversidade. O objetivo básico é saber quais espécies podem ser encontradas no local e como elas se relacionam entre si e com o meio ambiente.

JC: Fale sobre as espécies curiosas: cobra flamenguista, perereca de vidro, peixe folha. Já eram conhecidas pela ciência?

SS: Sim, são conhecidas pela ciência. O que faz elas serem curiosas são as adaptações que sofreram. É interessante pensar no modo evolutivo, por exemplo, qual a vantagem de um sapo ser transparente? E um peixe imitar uma folha morta? Ou melhor, como essas características facilitam a vida dessas espécies no meio da floresta? A ideia de usar essas espécies no texto foi chamar a atenção das pessoas de como a biodiversidade possui elementos curiosos e diferentes, e com a curiosidade despertada, que ela vá até o guia e descubra um universo que talvez seja totalmente desconhecido.

JC: Por que escolheram essa região de Humaitá, e onde fica, especificamente?

SS: A pesquisa foi realizada ao longo da BR-319, num trecho que está dentro do limite da cidade Humaitá. A escolha da cidade se deve principalmente a três motivos: ela está localizada em uma das áreas de maior preocupação ambiental, aos arredores da rodovia BR-319. Com a recuperação da BR-319 é esperado um aumento do desmatamento naquela região; a cidade funciona como base para vários projetos de pesquisas, entre eles, o Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração no Sudoeste do Amazonas. Esse programa possui módulos de pesquisas ao longo da BR-319, que são facilmente acessados pela cidade de Humaitá; as pesquisas desenvolvidas também buscam fortalecer as instituições do interior do Amazonas, e a cidade de Humaitá possui os campis da Ufam, Ifam e UEA.

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Onde adquirir as cartilhas gratuitamente

Programa de Pesquisa em Bidiversidade – Amazônia Ocidental https://ppbio.inpa.gov.br/guias

Observatório BR-319

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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