Os oniscientes olhos da Receita, no ano fiscal de 2004, leram uma declaração de renda atestando que um empresário de roupas populares tinha uma renda mensal de R$ 14 mil. Mas um litígio matrimonial trouxe à tona outros valores: ele manteria no exterior, remetida de maneira não legal, uma fortuna de US$ 150 milhões. E mais: a hoje mais famosa família de doleiros das elites brasileiras, os Matalon, seriam os remetentes das somas para fora.
Nos próximos dias a ex-mulher do empresário, munida de quilos de documentos, presta declaração ao MPF em São Paulo. Aceita depor em sistema de delação premiada. Como recebeu US$ 200 mil do ex-marido no exterior, suas denúncias poderão atingí-la também. Suas declarações revelarão como funcionam esquemas de remessas ilegais de dólares, ao exterior, jamais prescrutadas pela PF, pelo MPF e pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Rede de lojas
A documentação brotou de uma ação de separação, tocada em uma Vara de Família e Sucessões, em que o segredo de Justiça é natural, razão pela qual a revista Consultor Jurídico omite os nomes dos protagonistas. “Quero depor ao MPF para que me levem ao Coaf. No processo de separação um juiz e uma juíza de duas Varas de Família, ao verem os documentos, prometeram levá-los às autoridades federais e não o fizeram”, diz a ex-mulher do empresário.
O empresário fez fortuna com uma rede de lojas, no bairro do Brás, especializadas em roupas populares, uma parte expressiva delas importada da China. Há dois anos deu início a uma partilha de bens decorrente do final do casamento. Em junho de 2005, no arrolamento de bens, o empresário teve seu sigilo bancário quebrado nos EUA e os extratos bancários remetidos ao Brasil, por ordem judicial. Também houve o congelamento de 50% de suas contas bancárias, mantidas em nome das offshores Starkman, Finvestors, Proterra e Doll, e registradas nos bancos HSBC e Lehman Brothers, em Miami, EUA. Diz a ex-mulher que, quando a Justiça começou a receber a papelada, teria ocorrido uma movimentação de mascaramento de contas, com a imediata criação de outra offshore, na Suíça, batizada de Nixus International Company Limited e uma conta no banco HBS, de Hamburgo.