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Selic menor traz riscos e oportunidades para os negócios

Selic menor traz riscos e oportunidades para os negócios

O mais recente corte na Selic reposicionou no centro dos debates macroeconômicos do país o papel de uma taxa de juros reduzida – para padrões brasileiros – e seus reais impactos na dívida pública, inflação, demanda, investimentos e empregos, em meio à atípica crise da covid-19. Especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio apontam que o cenário oferece riscos e oportunidades – inclusive para o Amazonas –, mas concordam que não há possibilidade de o governo federal voltar a imprimir dinheiro. 

Administrador com pós-graduação em finanças marketing, o planejador financeiro CFP pela Planejar, Carlos Duarte, avalia que o Brasil está chegando ao final do ciclo de queda na Selic e lembra que o Copom deixou aberta a possibilidade de “pequenos cortes adicionais” em caso de necessidade, de forma ainda mais gradual e com maior preocupação com as contas públicas e com a inflação. Destaca ainda que, em função da pandemia, 2020 será um ano marcado por políticas anticíclicas e escalada nos níveis de endividamento – o do Brasil deve bater nos 90%, no final do ano.

“A situação fiscal brasileira mostra que não é descabido temermos pela capacidade do Estado de se financiar, por meio da emissão de dívida, uma vez que o investidor teme por uma possível insolvência. Mas, vemos que conquistamos importantes avanços nos últimos 20 anos, como uma dívida externa que responde por menos de 5% do total, conta única do Tesouro, e uma relação de credores mais diversificada, com prazos mais extensos e indexadores mais favoráveis”, tranquilizou.  

Na mesma linha, o também administrador, especialista em finanças e coordenador de cursos de pós-gradução da Fipecafi, Estevão Garcia de Oliveira Alexandre, também não vê riscos de impressão de dinheiro para contar a crise. Mais veemente, ele considera ainda que não há mais espaço para cortes na Selic, que já poderia sofrer repique a partir do segundo trimestre do ano que vem. 

“Quando a Selic baixa, o governo economiza nos juros e pode alocar esse recurso em outras áreas, mas os títulos da dívida se tornam menos atrativos. Só que não podemos esquecer que se tratam de ativos com risco muito menor, e pode haver aumento da taxa, a partir de março ou abril de 2021. Então, não vejo problema nesse sentido”, amenizou.

Sobre a conveniência de uma nova redução na Selic e seu eventual papel inflacionário em um cenário de desabastecimento e aumentos pontuais de preços, Duarte diz que a ata da reunião do Copom já assinalava que a situação fiscal e a evolução dos preços serão analisados antes da decisão. Garcia, por outro lado, lembra que a lei de oferta e procura funciona com tendência ao equilíbrio de mercado, e que a inflação de curto prazo pode ser regulada no médio, pela recomposição da oferta.

Fundos e startups

Ambos os especialistas concordam que, em um ambiente de inflação menor e, com a perda de atração das aplicações em renda fixa, a Selic mais baixa pode concretizar o plano do governo federal de reativar a economia pela elevação de liquidez de mercado, ao melhorar a taxa de retorno dos aportes produtivos ou mesmo em renda variável.

O coordenador da Fipecafi reforça que a inflação acumulada de 1,9% está “muito baixa” e a expectativa de mercado é que esta feche o ano abaixo do piso de 2,5%. Lembra também que os investidores estavam acostumados a uma renda “muito alta” e de dois dígitos com títulos do governo. “Vão ter que procurar outros tipos de aplicação, como fundos de investimentos de direitos creditórios e imobiliários. Ou devem aplicar seu dinheiro em infraestrutura, empresas, etc. Então, a tendência é que a estratégia funcione”, opinou.

O planejador financeiro CFP pela Planejar, por sua vez, observa que, em mercados de capitais mais desenvolvidos que o brasileiro, já foi constatado que um cenário prolongado de baixas nos juros propicia procura por novas classes de ativos que foram se desenvolvendo e sofisticando. Um exemplo vem da bolsa de valores, que viu a quantidade de investidores subir de 800 mil para 2,8 milhões de pessoas. E os aportes diretos em empresas também estão mais atrativos.

“Quando uma companhia precisava concorrer com uma taxa livre de risco na casa dos 14% ao ano, era difícil conseguir gerar lucros atrativos ao investidor. Hoje, isso é possível. Em um segundo momento, os recursos devem procurar empresas que ainda não abriram capital e teremos grande oferta de fundos de private equity. No terceiro, veremos capital buscando startups e fundos de venture capital se popularizando. Isso pode ajudar os empreendedores a conseguir financiar seus negócios por meio de sócios, e não mais por empréstimos a taxas exorbitantes”, comemorou.

Biodiversidade e ZFM

Tais oportunidades se estendem ao Amazonas, segundo os especialistas, em que pesem seus diferenciais ambientais e de modelo econômico, e a despeito da iminência do fim da validade do auxílio emergencial e de seus efeitos na economia. “O Amazonas é muito rico e tem grande biodiversidade e, principalmente, possui a Zona Franca, que é muito importante para a economia brasileira. A ajuda emergencial do governo é importante neste momento, mas a tendência é que a economia volte ao normal gradativamente, a partir de setembro”, atalhou Estevão Garcia.   

Carlos Duarte diz que a diminuição dos juros pode gerar fluxo de capitais e oportunidades para novas atividades e setores ainda incipientes na região, como o agronegócio. “Poderemos ver também um crescimento em serviços e na construção civil, já que o financiamento imobiliário é uma das linhas de crédito que mais se beneficiou dos cortes na Selic. Para a ZFM, podemos esperar impactos positivos com a retomada da economia, que poderá ser mais acelerada com os juros tão baixos. Isso pode liberar a demanda represada por bens duráveis, como já pudemos ver no impacto que o isolamento e o aumento na demanda por entregadores tiveram no polo de duas rodas”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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