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Se é para resguardar a vida…

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Wilson Périco(*) – [email protected]

Pandemia é coisa séria e precisa ser tratada com prudência e sobriedade. Nossa discordância com o lockdown, isolamento radical das pessoas – incluindo o fechamento das indústrias – está diretamente relacionada com a garantia maior da vida. Fechar, indiscriminadamente, todas as empresas significa remar contra a subsistência e a sobrevivência da população. As fábricas estão produzindo EPIs, equipamentos de proteção pessoal, álcool em gel, e uma série robusta de produtos essenciais. Não podemos esquecer que, faz bem pouco tempo, dependíamos em mais de 90% dos suprimentos asiáticos. Com a pandemia os insumos industriais em geral e os itens relacionados ao tratamento da Covid-19, particularmente, sumiram dos depósitos de fornecedores. Cruzar os braços agora seria manter pacientes e seus cuidadores em estado de risco absoluto. Nas fábricas, estamos fazendo e doando esses itens.

Agiotagem legal

O risco de vida adicional em série é o desemprego que ainda ronda o lar dos brasileiros, desde a última recessão, e ameaça, particularmente, as empresas do Polo Industrial de Manaus, do qual depende 85% da circulação da economia do Amazonas. Muitas empresas não conseguirão pagar salários com as máquinas paradas. Dados da CNI já revelam que seis, de cada dez empresas, vão ter que recorrer aos bancos para honrar compromissos. Recorrer aos bancos significa submeter-se às taxas de agiotagem para capital de giro. Quem suporta isso. O Banco que detém a conta do Estado está cobrando a taxa de 10% para servidores públicos aposentados (sic!). Como é descontado em folha, não há risco financeiro para o banco, apenas lucro, muito lucro, em tempos de agonia.

Sequelas sociais

E é inaceitável o conceito de flexibilidade adotado liberaria apenas as indústrias de itens essenciais. Ora, isso implicaria em parar a atividade econômica. E essa parada das atividades não iria apenas provocar desemprego em massa e suas consequências danosas. Não haveria imposto, portanto, o governo não teriam recursos para as despesas com produtos médicos e hospitalares e pagamento das equipes da linha de frente no combate à pandemia. Sem tributos, para não só a saúde, mas também a segurança pública, encarregada de conter a violência que se instalará e outros serviços vitais do cotidiano.

Segmentos fragilizados

Sem receitas, as empresas não vão poder continuar a doação de equipamentos médicos e distribuição de alimentos, produtos emergenciais. E aí, sim, ficará vazio, irresponsável e explicitamente temerário o discurso de salvar a vida das pessoas com o isolamento radical. Estamos raciocinando em cima das condições adversas de moradia, educação, saúde e segurança em que se encontram os habitantes da periferia, do interior do Estado e das etnias indígenas, de Manaus e do beiradão amazônico. Este segmento, particularmente, padece de imunidade mais do que os outros. Por isso, precisa de recursos adicionais para sua proteção. Sem recursos da economia serão as maiores vítimas  do terrível impacto.

Precaução rigorosa

Ademais, é bom que se diga, as empresas que se dispõem a seguir trabalhando estão utilizando um protocolo rigoroso para prevenir os riscos de contaminação. Uma performance bem sucedida, com resultados admiráveis. As taxas de contágio são irrelevantes. Basta dizer, que os casos anotados ocorreram com colaboradores vindos das férias coletivas. Isso significa deduzir que, no ambiente extra fábrica, as precauções são  reduzidas.

Desconhecimento sintomático 

Queremos enfatizar e esclarecer informações difundidas pelos defensores do lockdown: esta Entidade, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas, não representa o comércio e sim a indústria.  Tratá-la como a CIEAM sugere desconhecimento crasso do papel que exerce como setor produtivo junto ao tecido social. É questionável alguém defender a integridade física da comunidade em que vive sem conhecer quem representa a base material de sustento dessa comunidade.

Contaminados e isolados é complicado

E mais: isolamento radical poderia funcionar, hipoteticamente, para a classe média da população. As moradias do cinturão de pobreza da cidade de Manaus, entretanto, são apertadas e apinhadas. Isolar uma população que já tem 45% das pessoas contaminadas pelo vírus – como demonstram os estudos científicos do economista Denis Minev –  significa acirrar o contágio, superlotar os equipamentos públicos de tratamento e atentar contra a vida dos cidadãos. Devagar com o andor. Ecologia não pode andar descolada da sociologia.

Conhecer, debater e decidir

Em lugar de sentenciar condutas A ou B, sobretudo quando elas não se baseiam no conhecimento dos dados da realidade, deveríamos sentar, debater e conhecer o problema, para tomar decisões embasadas e comprometidas com o interesse integral da cidadania. Assim procedendo iremos encontrar os melhores caminhos para este momento de dor e pavor, resguardando o essencial e dispensando o faz-de-conta acadêmico letal.

*Wilson é economista, empresário e presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas – CIEAM.

*Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]

Fonte: Redação

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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