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Rosas e espinhos – parte 1

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Caros amigos. Vocês já dedicaram parte do seu tempo para desfrutar da visão de uma criança sorridente correndo para os braços do pai ou da mãe? Ou mesmo, solitariamente em suas divagações, observaram a beleza das rosas, das orquídeas, dos campos, florestas, rios e mares desse imenso país?

Meus caros amigos. Quantas vezes vocês perceberam o coração palpitar com os nossos ídolos, de Pelé a Ayrton Senna, e com as nossas seleções das mais diversas modalidades esportivas? Algumas vezes sonharam com um Brasil grandioso, consequência das riquezas que possui, quer em biodiversidade, quer em minérios valiosos, abundantes em seu solo?

Vocês já espetaram o dedo com o espinho do galho de uma roseira? Percorreram, a sol escaldante ou chuvas intensas, os interiores dessa Terra bendita, que dizem, à língua solta, abençoada por Deus, onde a miséria e o descaso público andam de mãos dadas, fazendo morrer à mingua, em morte física e cultural, um incontável sem fim de crianças, jovens e adultos, abandonados à própria sorte?

Pois bem: felizmente, para o meu crescimento pessoal, eu tive tal oportunidade, em plagas distantes do meu nascedouro, onde as ondas do mar se esconderam para dar passagem aos banzeiros dos rios e o tempo que se leva para chegar a outro Estado não se conta em horas de automóvel percorrendo estradas bem asfaltadas como as do “sul maravilha”, mas por horas de voo sobre imensas floresta, em aviões que desbravam os céus do Brasil.

Este carioca de “Big Field”, o meu bairro Campo Grande, da zona Oeste do Estado do Rio de Janeiro, com certeza pode ser considerado um privilegiado por ter vivido “tantas emoções”, diria o nosso querido Roberto Carlos. Eu vi a beleza das águas dos rios. Conheci o povo caboclo: simples, fraterno, amigo. Inundei de cores as retinas, com a visão de paisagens indescritíveis. Caminhei pelos guetos da miséria, onde somente não existe a fome total e a sede mortífera porque a água, mesmo não potável, é farta e o peixe e a farinha de mandioca alimentam e suprem o mínimo da necessidade básica do ribeirinho.
Justamente neste ponto, me permito reservar um intervalo para homenagear a Defesa Civil do Estado do Amazonas, exclusivamente em função de sua missão primeira, que me fez conhecer a outra face do Brasil, abandonada na precariedade da educação, cultura, assistência médica e social. Possibilitou-me também desenvolver minhas competências. Dito isto, estou em paz, não sem antes registrar a importância da Força Aérea Brasileira em minha vida, recebendo o menino e amalgamando a estrutura do homem.

Incautos poderiam perguntar sobre o porquê das minhas andanças pelos caminhos que nominariam saudosismo, pelo cheirinho gostoso do perfume das flores, para desaguar no espinho que penetra carne adentro e faz fluir o sangue. O nosso país amado vive um paradoxo semelhante a este: abundância em riquezas que protagonizariam o bem-estar e a corrupção, que destrói e mata.

Um bando de canalhas montou, em todo o território nacional, quadrilhas que, movidas por idêntico objetivo escuso, decidiu espoliar o erário e, para atingir seu intento, transformaram essas facções criminosas num sistema entrelaçado de corrupção e de desvio de dinheiro público, onde cada uma das partes tinha o seu “modus operandi” particular, mas o objetivo sistêmico restaria resumido no enriquecimento ilícito dos quadrilheiros e na instauração de uma ideologia perniciosa, aplaudida por setores da sociedade comprometida com toda a sorte de libertinagem, mas veementemente repudiada pela Nação Brasileira, por todos os males que já causou nos locais onde se estabeleceu.

Faltou pouco para que atingissem e consolidassem os seus objetivos, protegidos por mentiras deslavadas transformadas em verdades aos olhos de um povo humilde e inculto, assim propositadamente por eles preparado para se permitir o engodo.

Por muito pouco tudo não se consumou, mas a empáfia da certeza da impunidade os conduziu a erros primários que fizeram vir à tona o mar de lama que aniquilava o país. Aos quatro cantos da Nação vozes se levantaram.

Homens de elevada envergadura e coragem jamais vista, com prerrogativas de poder constituído, promoveram uma devassa nos alicerces da corrupção endêmica instalada em, praticamente, todos os setores da sociedade brasileira.

A calada da noite; a ignorância popular, esta deliberadamente imposta ao cidadão e a mentira deslavada transformada em verdade facilitaram a quase consolidação de um poder que seria perene, não fossem as corredeiras do mundo e os ditames do imponderável, permanentemente pronto e disponível para nos surpreender.

Um erro daqui, outro dali, a cortina da ribalta se abriu. Caiu a máscara da face. O urso polar despertou da hibernação. O mar de lama veio à tona. O povo não suportou tanta hipocrisia. As demonstrações de repúdio a todos os atos de patifaria cometidos cresceram paulatina, mas inexoravelmente, atingindo proporções geométricas. Manifestações populares transformaram-se em rotina e os corruptos ficaram irremediavelmente acuados.

Eles são inteligentes o suficiente para entender a extensão maléfica de suas atitudes. Sabem perfeitamente que o dinheiro extorquido da educação promoveu a ignorância, condenando toda uma geração de crianças inocentes ao despreparo e à alienação; são plenos da consciência de que cada centavo desviado da saúde matou impiedosamente um número significativo de crianças inocentes e indefesas, com futuro, quem sabe, promissor e repleto de glórias.

A dilapidação do erário, a compra de sítios, apartamentos, joias e o enriquecimento pessoal, de parentes e amigos destruiu a possibilidade de investimentos necessários à manutenção do Estado que, fortalecido, promoveria o crescimento social, econômico e financeiro da população. Eles sabem de tudo isto. Mais ainda: têm plena consciência de que, perdidos os mandatos que os impermeabilizam, e o indesejável foro privilegiado, o destino de todos os corruptos fatalmente será a cadeia. Este o seu desespero.

Assim, tentaram o suborno, utilizaram todos os artifícios e subterfúgios imagináveis para não perderem esses privilégios. Mentirão. Fraldarão o quanto preciso for. Caluniarão. Haverá somente uma diferença dos tempos passados: conforme já dissemos, o urso polar despertou da hibernação de inverno e está furioso, sedento e faminto de justiça. Restará aos canalhas tão somente o apoio irrestrito dos seus pares e dos capachos, imorais subservientes, na tentativa de manutenção do “status quo”, a ser consolidado por seus desvarios na manutenção da “urna eletrônica”, propositalmente implantada como um dos instrumentos de eternização do poder, por ser alvo facilmente atingido, considerando-se, principalmente, o estado falimentar de nossas Instituições, propositadamente levadas a essa condição.

Nesse contexto, causa estranheza as declarações de algumas Autoridades Constituídas, com reconhecida capacidade de influência decisória, apresentando-se como defensoras do atual sistema de apuração de votos nas eleições do Brasil, tendo em vista dois motivos básicos, para mim contundentes e definitivos: por primeiro, tentam denegrir o instituto do “voto impresso”, definido por Lei, em 2015 e corroborado pelo mesmo Congresso Nacional nos primeiros cinco dias do mês de outubro de 2017. Por segundo, alega-se que a “urna eletrônica” é confiável e que, com o uso do voto impresso, perderíamos a capacidade de manter “secreto” o nosso voto.

*é escritor e coronel da Aeronáutica. E-mail: [email protected]

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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