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Rodrigo Guedes: “quando o Legislativo fiscaliza, o Executivo melhora”

A viagem de David Almeida (Avante) para participar da maratona em Barcelona ainda gera muita polêmica. Repercute negativamente em Manaus e lá fora. Ele viajou acompanhado de uma comitiva que não tinha a menor afinidade com o atletismo, entre eles secretários municipais, além de outros que participaram do evento na Espanha apenas como meros turistas, questionam lideranças.

Tantas despesas geraram muita desconfiança. Afinal, mais de R$ 100 mil do município foram destinados para essa aventura esportiva, provavelmente para afagar o ego, e pelo bel-prazer de Almeida, que é maratonista desde jovem, segundo seus críticos acirrados, principalmente o vereador Rodrigo Guedes (PSC), que faz parte da nanica oposição no parlamento municipal, onde a maioria apoia o atual gestor da prefeitura.

“O prefeito foi correr com o dinheiro público. Nada contra a sua vida de maratonista. Mas ele mesmo deveria custear as despesas, não utilizar os recursos do município e levar tanta gente que não tinha nada a ver com a maratona”, contesta Guedes.

Aprovados pelo plenário da Câmara Municipal, requerimentos acirraram ainda mais a polêmica. Almeida recebeu um ultimato. Tem um prazo de dez dias para justificar os gastos públicos. Mas saiu no contra-ataque como um bom corredor que é. Disse que viajou para promover o potencial turístico de Manaus e de todo o Amazonas na Europa, como estratégias para viabilizar novos negócios por meio da rica biodiversidade amazônica, que encanta todo o mundo.

Tantos argumentos nessa direção não convencem Guedes. “Agora, ele (o prefeito) quer remendar a situação. O povo não é tão incauto como antigamente. Sabe o que quer e exige justificativas convincentes. Não suporta mais ser tão ludibriado”, acrescenta o vereador.

Rodrigo Guedes tem estado sob os holofotes com decisões de impacto. Foi contra o aumento do salário dos vereadores. Apresentou, inclusive, um projeto de lei para derrubar o reajuste, mas sequer a proposta foi submetida a votação. São mais de R$ 3 mil que vão engrossar os ganhos dos parlamentares. Porém, o oposicionista decidiu doar esses acréscimos para entidades até o final de seu mandato.

Outra grande iniciativa, atribuída a Guedes e ao vereador Amom Mandel (Cidadania), também da oposição, foi a suspensão da verba de gabinete, que passou de R$ 18 mil para mais de R$ 33 mil a partir de janeiro deste ano. Após duas tentativas, eles conseguiram suspender o tradicional Cotão. No entanto, outra decisão judicial derrubou a liminar, revalidando o reajuste.

Vários vereadores devem deixar o cargo para disputar as eleições este ano para deputado estadual ou federal. Guedes, no entanto, diz que não está em seus planos participar do pleito, porém ele não afasta essa possibilidade. “Quem sabe mais adiante vem essa decisão”, afirma.

O vereador participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – A enchente avança em Manaus. Parte do centro da cidade está tomada pelas águas trazendo problemas crônicos, afetando toda uma cadeia de comércios. Como a Câmara está avaliando a situação?

Rodrigo Guedes – Estou no segundo ano na Câmara, então não posso falar sobre os anos anteriores. O que a gente sente é que todo ano é a mesma situação, algumas enchentes estão mais intensas que outras.

A subida do rio é mais alta. Afeta mais a cidade, porém vemos os mesmos problemas de sempre. Não há infraestrutura. Deveria haver providências desde o começo da descida dos rios. As galerias já estariam desobstruídas, trabalhar a drenagem das águas, fazer a limpeza de bueiros.

Mas sempre é assim. Quando está chegando perto, são construídas pontes. Mas não se vê nenhuma ação antecipada para enfrentar o fenômeno. Temos que lidar com isso de forma mais planejada.

Todas as galerias estão quebradas, os bueiros cheios de lixo. É um problema cultural, não tem uma campanha de conscientização. É como apagar incêndio. E os políticos se aproveitam disso. Aquela cena de políticos que metem as pernas na água para impressionar a população.

O clima é um elemento fora de nossa decisão individual. Mas algumas cidades do mundo já sabem conviver com isso, como exemplos Veneza e Amsterdã..

Toda a Holanda já tem sistema de diques. O Japão também.Eu sei que a gente está pensando longe. São países de primeiro mundo, mas por que não trabalhar para resolver esses problemas. Os comerciantes perdem o faturamento, a renda, ficam todos comprometidos.

JC – A prefeitura já admite a possibilidade de decretar uma situação de emergência. Não existe uma outra forma de lidar com essa situação? Até porque desde o ano passado já se falava sobre outra grande enchente por conta do La Niña.

RG –  Do ponto de vista da climatologia, isso é previsível. Só que por meio de qualquer estudo meteorológico vimos ser um fenômeno que ainda não acabou. Então, decretar emergência, aquela série de procedimentos em ano eleitoral….

Por que não iniciaram os procedimentos administrativos em 2021. Aí já poderiam ter iniciado esse procedimento, comprando madeiras para diminuir os impactos. É sempre assim. Faz compra emergencial, licitação, constroem pontes com os bueiros entupidos, e piora a situação

Aquela área do centro fica imprópria por questões de insalubridade. Olha como é em Veneza, não tem lixo, não tem odor.  Vamos aproveitar a cidade do ponto de vista que ela é. Mas Manaus não trabalha isso.

JC – Manaus continua de costas para o rio….

RG – Sim, deveria ter uma campanha forte de conscientização ambiental. Não é simples, mas tem que fazer algo.

JC – Outro assunto que está chamando a atenção é a repercussão da viagem do prefeito a Barcelona. Muita gente querendo entrar com representação. É caso para isso, ele fez certo para atrair turistas?

RG – Ele viajou, mas não acredito que a presença dele atrairá turistas. Vem alguém aqui e vê o centro totalmente abandonado, cheio de lixo. Se ele foi fazer propaganda, a propaganda não iria condizer com a realidade. Eu acho que foi uma ação imoral.

Ele foi correr com o dinheiro público, foram junto várias pessoas que não tinham nenhuma finalidade pública de estar lá. Não foram 100 mil reais, foi um valor muito maior. E não teve a transparência necessária. Isso deveria ter sido divulgado antes da viagem. Viram que houve uma repercussão negativa. E estão agora tentando arrumar a situação.

Deu uma repercussão, infelizmente, nacional. Estão tentando diminuir os impactos. A gente sabe que não é verdade. O cidadão sabe. Ele foi correr, passear. Levou o secretário de Finanças, qual a função nisso tudo? Levou outras pessoas e essas pessoas levaram seus maridos, esposas.

Foi uma caravana, um trenzinho da alegria com o dinheiro público. Que o prefeito participasse da maratona e pagasse as despesas com seus próprios recursos, e não com o dinheiro público. Nada contra isso, desde que as contas da prefeitura não sejam prejudicadas.

E o cidadão que não recebe nada da prefeitura rechaçou de uma forma contundente, dizendo ao prefeito para, não faça isso, o dinheiro não é seu. Não foi emitida nenhuma passagem pela prefeitura de Manaus para qualquer outro atleta.

Até o líder do prefeito, Marcelo Serafim, falou que não houve nenhum apoio a outros atletas. O povo não engoliu, está acabando isso, essa época já está passando.

JC – A defesa do prefeito na Câmara argumentou que o governo do Estado é o responsável pelos atletas de alto rendimento. E a prefeitura só com a base, que está em formação. Esse argumento se sustenta?

RG – Não se sustenta, ele já começa com a primeira incoerência. A maratona é uma modalidade esportiva de alto rendimento. A prefeitura vai entrar envolvida numa maratona. Então, são várias incoerências.

A prefeitura é responsável pelos esportes de base, mas quem está reformando os campos é o governo. Eles se enrolam nos próprios argumentos. Eu não sou contra a prefeitura e o prefeito, eu sou representante da população.

Se a base aceita tudo, abafa denúncias, se cala para coisas e aprova ações do governo, a gente não evoluiu numa política pública. E o povo deixa de ser representado para se representar o sistema político.

JC – E o legislativo se diminui….

RG – Sim, o legislativo se diminui, porque se em todas as legislaturas, inclusive na que eu fiz parte, se o legislativo cumprisse fielmente a sua função de fiscalizar, até o executivo iria melhorar.

Ninguém é perfeito. Só que quando se entra no jogo político é toma lá dá cá.

JC –O sr. já está há bastante tempo na Câmara. Qual a principal reivindicação que recebe da população? O que mais o povo está pedindo hoje?

RG – Eu percebo, realmente, que Manaus ainda está com muitos problemas de infraestrutura. É a falta de asfalto. A gente ainda não saiu do momento que asfaltar as ruas é uma grande coisa. Que é a maior ação do mundo.

JC  – Não deveria ter virado buraco….

RG – Mas eles mesmos deixam assim. Tem essa situação na infraestrutura. Acho muito ruim quando a boa ação é asfaltar uma rua. Tem que acabar com isso. É um direto da população. Muita gente quer também uma política diferente.

Há pessoas que vão pedir, não faço nenhum demérito, querem cesta básica, remédios, ajuda financeira.

Tem ainda aquela situação que o político tem que dar, como assistencialismo. Mas muita gente tem falado que quer uma política diferente.

Mas existe uma mudança tímida de pessoas com essas reivindicações. Se a classe política fizesse realmente a sua competência, ninguém precisaria pedir favores de políticos. A classe política se alimenta da máquina, não faz o mandato digno, tem denúncia de desvio de dinheiro público, de imoralidade.

Aí conseguem cesta básica, remédio, fazem consulta médica, cumprem a sua verdadeira tarefa com a máquina. Aí o cidadão pensa que é uma bondade deles.

JC – Um internauta pede a convocação do cadastro de reserva da Semed. O projeto já foi aprovado há mais de dez dias, mas até agora não aconteceu….

RG – Cobrei várias vezes. Essa é a função do parlamentar. Tem uma demanda pública, você deve ser uma voz da população. Eu cobro bastante a questão do cadastro de reserva, tem muitas outras demandas.

A gente está falando de uma coisa e aparecem outras centenas. Em média, recebo de 200 a 300 mensagens de pessoas sobre demandas. Não significa que eu não tenha concepção que isso é um direito deles. Tenho obrigação de cobrar.

Nessa questão da viagem do prefeito, foi uma semana que repercutiu muito. Tudo, não só na vida pública, parte de uma ideia de bom senso e razoabilidade.

JC – Estamos às portas das eleições. Muitos vereadores já estão falando em se candidatar. O que o vereador Rodrigo Guedes está pensando?

RG – Eu ainda não me decidi. Se o prazo fosse hoje, eu não iria. Mas na política, às vezes as coisas mudam. Acho que não, a não ser que tenha uma reviravolta….

JC – O partido não está pressionando?

RG – O partido até está. Se eu realmente fosse me candidatar, já teria falado com alguém pedindo apoio. Não mandei nenhuma mensagem para ninguém. A minha equipe sabe.

Acho que não, mas até o final de maio deveremos ter uma definição sobre isso. Não tenho trabalhado nesse sentido. Estou realmente trabalhando no meu mandato. O poder usado para o bem vai ajudar muita gente.

Meu principal compromisso é com a população. Você pode aumentar o seu potencial de ação. O vereador tem uma abrangência em Manaus. O deputado em todo o Estado, o senador também.

Por exemplo, nós derrubamos o Cotão na Câmara, mas uma decisão judicial reverteu, e ele está valendo. Mas na Assembleia não tem quem faça isso. A gente não pode rejeitar a política que, do ponto de vista teórico, é nobre.

Nada que o gestor faz passa sem o aval da casa legislativa correspondente. Nos próximos dias, vamos ter essa resposta definitiva.

JC –O sr. está repassando o aumento do salário dos vereadores para entidades. Pode explicar essa decisão? Isso tem amparo legal?

RG – Foi aprovado na Câmara o aumento do salário dos vereadores. Teve um reajuste de quase 3 mil reais líquidos. Fui contra desde o início, apresentei até um projeto de lei para revogar esse aumento. E não foi votado.

Eu falei que não é hora de aumentar salário, e não vou dizer que não poderá aumentar. Isso é demagogia Muitos dizem que vereador não deveria ter salário, concordo, mas também eu não teria condições com minha equipe de responder a 400 pessoas por dia.

Ficaria só duas horas na Câmara. Acho que não é uma profissão, mas tem uma responsabilidade muito grande, cada vereador representa uma fatia da população. Como o projeto não foi votado,  resolvi doar o aumento salarial, e farei até o momento final do mandato.

O Cotão realmente não pode ser revertido para a população, mas o salário é da pessoa, não tem problema.

JC – O Cotão aumentou para 33 mil reais. O sr. vai utilizar?

RG – Eu votei contra o aumento do Cotão, votei contra o regime de urgência. Lá na Câmara, sou um dos que menos usam a verba. O vereador Amom não usa.

Eu alugo um veículo para minha equipe e também pago o combustível correspondente.

Tenho um trabalho de redes sociais, mas que não chega a um terço do aprovado pela Câmara. Mas não uso 20 mil reais da verba de gabinete. Sou o vereador mais econômico entre os vereadores.

Na prática, tenho sido mais econômico do que os outros vereadores.

JC – Como avalia essa questão do aumento dos combustíveis? A inflação tem sido uma das maiores dos últimos tempos. A população já perdeu muito o seu poder de compra. É possível a Câmara contribuir com debates para amenizar essa situação?

RG – Acho muito difícil. Essa questão do combustível é totalmente regulada por legislações estaduais e federais. Não há nenhuma legislação municipal que diga respeito a esse mercado de combustíveis.

Pela lei do petróleo todas as legislações são federais. O ICMS é estadual. Do município o que que tem é a mesma coisa – IPTU, Alvará etc.

Todas as leis aprovadas em municípios caíram porque foram consideradas inconstitucionais. O que a gente pode fazer é denunciar cartéis de combustíveis que existem aqui em Manaus, isso é algo que de fato se pode e deve fazer.

E eu faço sempre quando há abusos, como representante da população. Tenho denunciado o cartel da gasolina há quatro ou cinco anos, desde 2018 batendo de frente. Não criminalizo o setor produtivo, mas existe um cartel em Manaus, isso é fato.

Isso a gente não pode tolerar. Ninguém quer valor mais alto. Está alto em todos os Estados. O que a gente não pode aceitar é prática comercial ilegal. Aqui há um valor em um posto, outro em outro.

Mesmo sendo ruim, é um mercado que está funcionando dentro das regras, mas não é o caso de Manaus.

Marcelo Peres

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