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Ricardo Arthur: “momento ideal para aplicações financeiras”

Ricardo: “todos queremos o bem da ZFM” (Jefferson Viegas)

MARCELO PERES

Face: @marcelo.peres Twitter: @JCommercio

O BC (Banco Central) aumentou a taxa de juros básicos. Hoje, ela está em 13,25%. É uma estratégia do governo federal para controlar a inflação. Esse remédio amargo (mas estritamente necessário) tem seus impactos. Os créditos ficam mais salgados, como também o cheque especial e os empréstimos, impondo um freio no consumo..

A cada 45 dias, o Copom (Conselho de Política Monetária), formado pelo presidente do BC e seus diretores, anuncia uma nova taxa Selic, algo que vem funcionando ultimamente. E a expectativa é que a alta inflacionária atinja 8% até o final do ano, demonstrando que as medidas emergenciais surtem o efeito esperado.

Com mais controle da inflação, o momento é ideal para aplicações no mercado financeiro, segundo o economista e professor Ricardo Arthur, irmão do ex-prefeito Arthur Neto (PSDB), virtual candidato ao Senado nas próximas eleições.

O professor diz que a maioria da população desconhece o quanto os títulos se apresentam vantajosos nessa atual conjuntura econômica. “Em vez de deixar o dinheiro guardado debaixo do colchão, as pessoas deveriam aplicar suas economias em renda fixa, CDB, CDI e no tesouro nacional, que evita as perdas, diminuindo os impactos inflacionários”, orienta Ricardo Arthur.

O economista defende ainda a incorporação de uma disciplina sobre educação financeira nas redes de ensino, algo que prepararia os estudantes para situações em que o dinheiro é corroído pela inflação, impactando diretamente na diminuição no poder de compra. “Desde cedo, o aluno reuniria conhecimentos que poderiam impactar em suas finanças no futuro”, acrescenta o professor.

Questionado sobre eventuais prejuízos com a adoção de mudanças que atingem a ZFM (Zona Franca de Manaus), tendo como principal protagonista a equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes, Ricardo Arthur pondera, porém, sobre a questão. Ele avalia que ninguém quer prejudicar o modelo de desenvolvimento que responde, hoje, pela maior receita do governo do Amazonas.

“O que o ministro quer é que a ZFM se modernize. Pouco se fez ainda pela inovação tecnológica, principalmente em direção à indústria 4.0. É preciso mudar, tornar a ZFM mais competitiva. Ter mais um olhar para o futuro”, afirma o professor.

Ricardo Arthur participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – Hoje, o Brasil vive as expectativas de uma grave inflação, corroendo o bolso da população. Como avalia a situação? Será que Paulo Guedes está com a razão, temos que mudar o rumo das coisas…?

Ricardo Arthur – Tudo na vida como na área econômica existe uma pequena história. A partir do segundo semestre de 2014, a economia começou a patinar e começaram a aparecer alguns resultados do PIB.

Não tão bons assim, inclusive negativos. Se acumularmos os resultados do PIB de 2014, 2015 e 2016, chegamos a menos 9% negativo, gerando o desemprego de cerca de 15 milhões de pessoas.

Aí, vieram os anos de 2016 e 2017. O País deu uma estabilizada no PIB, cresceu 1%, ainda patinando, houve crescimento de 1,2%, mas aí tivemos a pandemia, o mundo fechou as portas. É claro, que isso tem consequências.

Houve uma questão séria na saúde, mas deixamos de lado um pouco a situação econômica. Acho que o País poderia caminhar nos dois sentidos com muito cuidado num lado e no outro.  Mas o fato é esse. A inflação é uma crise mundial. Os Estados Unidos estão penando com uma inflação que há muito tempo não tinham.

Há dez anos que o americano não tinha uma inflação tão relevante, a ponto de os juros estarem quase a 1%, a chamada prime está a 0,75%. A zona do euro também teve uma inflação extremamente relevante, galopante, para os moldes europeus. Então, o Brasil faz parte do mundo e também colheu esses ônus na variação de preços.

Com isso, você tem que combater a inflação. Como fazê-lo? O remédio monetário mais premente é a taxa de juros. Por isso que, de 45 em 45 dias, o Copom (Conselho de Política Monetária), formado pelo presidente do Banco Central e seus diretores, se reúnem e estabelecem o novo patamar da Selic. O último patamar ficou em 13,25%.

Como tudo na vida, tem seu lado não tão bom, lado bom e o lado ruim. E o lado ruim. Cada um ponto percentual de aumento da Selic eleva a dívida pública em 2,8 bilhões de reais.

Mas, por outro lado, a Selic combate a inflação. Tanto é que a inflação de abril, no acumulado de 12 meses, estava em 12,73% e agora, em maio, caiu para 11,13%. Realmente, isso não é tão bom para o País, mas você tem que aproveitar o momento para aplicar financeiramente porque, já que está com uma inflação alta comendo o seu salário, é bom que tenha um rendimento a mais para que seu bolso não sofra tanto.

Fico espantado um pouco porque as pessoas não se dão conta disso. A Selic está em 13,25% e a inflação em 11,13%. Você está com ganho real. Qualquer aplicação de renda fixa que se faça, tem um ganho real.

Seja em CDI, CDB, tesouro direto, letras do crédito imobiliário, letras do crédito do agronegócio. Mas eu vejo as pessoas um pouco inertes em relação a isso. Quero dizer que, daqui a 45 dias, provavelmente o Copom não aumentará a Selic porque a inflação está caindo. Talvez deva ficar um pouco estável, em 13,25% mesmo.

É clamar aos cidadãos que se defendam da inflação e apliquem o seu dinheiro, não colocando debaixo do colchão. Porque a inflação vai comer um pouco dos salários.

JC -. A população não enxerga a importância dos investimentos neste momento. Por que as pessoas não têm essa visão?

RA – Creio que isso começa na base. Deveríamos ter uma disciplina nas escolas de educação financeira para que desde cedo os jovens possam saber a diferença entre os juros simples e compostos. Saber o que é ganho real ou não e como a inflação come parte da renda.

Aí você leva para a vida adulta e não dá importância para isso. Não é que se perca, mas você deixa de ganhar. A inflação come, mas não some dinheiro do seu bolso, apenas o poder de compra fica menor.

Já se cogita algo semelhante no outro semestre de termos uma educação financeira na base. O governo federal estava querendo introduzir a partir do MEC essa disciplina que eu acho interessante.

JC – Essa verdadeira ciranda econômica, com até o economês que não se consegue entender, atinge a maioria da população que ganha dois salários mínimos, a que mais sofre com essas políticas econômicas. É possível a essas pessoas terem expectativas de que as coisas tendem a melhorar?

RA – É possível. A classe de menor poder aquisitivo sofre mais com a inflação. Na época que a inflação era de mil por cento, antes dos planos cruzado e do cruzado novo, eu particularmente não sofria muito não. Eu aplicava dinheiro e o mínimo de aplicações eu tinha porque dava muitas aulas.

O Banco Central, sabendo do poder destrutivo da inflação nas classes de menor poder aquisitivo, está nos impondo esse remédio um pouco amargo, mas necessário, que é o aumento das taxas de juros.

O consumo se dá basicamente a partir do crediário, do crédito. Então, 90% do consumo é feito por créditos. Se a Selic aumenta, os juros do crédito, do cheque especial, dos empréstimos, ficam mais caros, desestimulando o consumo por parte das pessoas, fazendo com que a demanda caia e os preços se retraiam.

E tem acontecido isso repetidamente. Nós tínhamos uma inflação de 12,13% em 12 meses, findados em abril, e agora caiu para 11,13%. Acho que vai continuar caindo. Aliás, o mercado tem expectativas de que a inflação fique abaixo de 9%, em torno de 8%, até o final do ano.

E isso é muito bom. Claro, por outro lado, o meu otimismo não vem por ser otimista de natureza, mas vem com base nos números. A nossa dívida pública, mesmo após os auxílios dados a empresas e pessoas, chegou a 28 bilhões de reais.

Nosso PIB está em 7,3 trilhões de reais, e nossa dívida pública em 5,6 trilhões. Se dividir um pelo outro e multiplicar por 100, vai dar em torno de 76%. É um percentual alto, mas não é arriscado para que a gente possa ter o nível de risco aprofundado pelas empresas de classificação de risco internacionais, que geraria um problema muito grande e afastaria os investimentos e a entrada de dólares.

Já se fala que o PIB cresceu 1% no trimestre anterior. Cada ponto percentual de aumento no PIB representa um milhão de empregos a mais. Se você dividir por três, dá 300 mil e poucos empregos por mês, mesmo com esse problemão de inflação, com a crise internacional, com a guerra na Ucrânia.

É por isso que estou otimista. O mercado já espera o crescimento do PIB perto de 3%. Significa, então, 3 milhões e poucos empregos. O desemprego está em 11,9 milhões de pessoas e cairá para um dígito.

Creio que até o final do ano teremos um nível de desemprego abaixo de um dígito, 8,5 milhões de pessoas. É muito? É, mas está caindo. Por isso, acho que o time do ministro Paulo Guedes está atuando na medida do possível. Mas você tem que ver as dificuldades. Foram dois anos atípicos no mundo todo.

Temos que ver ainda as questões internas. É difícil. É como se você empurrasse algo pesado numa ladeira. Fica mais complicado. Mesmo assim, esse algo está sendo levado ladeira acima.

JC – Você falou sobre o ministro Paulo Guedes. Mas ele não é muito bem visto por determinados segmentos no Amazonas, por conta de algumas decisões que afetam a Zona Franca de Manaus. Como avalia a política do governo federal, com apontados ataques constantes aos benefícios fiscais do Amazonas?

RA – A Zona Franca é reconhecidamente, não só pelos amazonenses como pelo Brasil inteiro, como pela equipe do ministro, com muita relevância. Eu creio que ela mantém a floresta em pé, os empregos. A pessoa empregada não vai para o interior desmatar. Tudo isso é verdade.

Desde 1967, quando foi criada a Zona Franca de Manaus, houve poucas mudanças no cardápio tecnológico. O ministro quer que a ZFM caminhe para a modernização, não só ele, como a própria Suframa também quer.

Mas nem sempre isso é acompanhado pelo querer das organizações. Para se ter uma ideia, até 2018, mais da metade das organizações que atuam na Zona Franca não estavam se dirigindo para o processo de modernização tecnológica em direção à indústria chamada 4.0, ainda que tenham incentivos fiscais para tal.

É só sentar e conversar. É claro que a Zona Franca precisa ser competitiva. Também é claro que o resto do País quer impostos baixos. A reação dos governantes daqui foi boa, dos políticos, até porque levou a conversa para ser aprofundada e levada a cabo.

Ninguém quer o mal para a Zona Franca. Acho que o resto do País e a equipe econômica do ministro Paulo Guedes querem apenas que ela se encaminhe para a modernização.

Aliás, isso é o futuro da humanidade. Tem que caminhar para a independência. É necessário que haja o potencial de escoamento da produção, estradas. Essa BR-319 é importantíssima, claro respeitando a lógica ambiental, os portos. Em suma, pensar na economia como um todo.

Seria muito bom porque aumentaria o nível de empregos. Quando se mexe na infraestrutura, se mexe no nível de empregos numa forma tão formidável que isso multiplica os empregos em todo o País.

Então, é isso. Todos somos brasileiros. O Brasil tem essa qualidade. Quando se pensa no País, todos devemos nos unir porque representará o bem para todo mundo. Todos nós queremos o bem da Zona Franca.

JC – A busca por mais empregos deveria ser prioridade em todas as esferas de governo. Os pré-candidatos já focam nessas questões. Ciro Gomes promete gerar milhões de novos postos de trabalho em três anos. O que sugere para amenizar essa situação?

RA – Nossa população economicamente ativa gira em torno de 107 milhões de trabalhadores, dos quais 12 milhões estão desempregados atualmente (entrevista concedida antes da divulgação de estudo do Ipea que apontou a taxa em 9,4% em abril) e 95 milhões estão atuando, trabalhando.

Teoricamente, o jeito mais rápido de gerar empregos e multiplicar renda é exatamente na construção civil, que está ligada na infraestrutura. O turismo também é um exemplificador formidável de empregos e renda.

O Brasil está inserido no mundo. Por vezes, o dólar aumenta por injunções internacionais, isso tem reflexos aqui e acaba influenciando a inflação, aumentando os juros e diminuindo o financiamento privado.

É uma equação de várias variáveis. Você aumenta a Selic e combate a inflação, mas se aumenta os juros do financiamento, desestimulando as empresas de empreendimentos.

Por isso que não existe mágica. O primeiro passo é controlar a inflação. Os juros não aumentam mais. Não aumentando, você quer abrir um negócio, pode fazer com toda a tranquilidade porque os juros estão baixos.

E a mesma coisa acontece com a construção de um prédio porque os juros estão baixos. Com isso, você vai alavancando a economia, fazer com que o crescimento fique mais sustentável. Esse multiplicador de empregos e renda vai se cristalizando. E daqui a pouco você tem um PIB de 5% a 6%, que é o PIB ideal para nós, a nossa população, e o pleno emprego. Para isso, infelizmente, temos que atacar a taxa de juros básicos.

Marcelo Peres

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