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Região Norte tem a cesta básica mais cara, aponta Abras

Os consumidores da região Norte do Brasil ainda pagam mais caro pelos itens de alimentação básica, conforme o mais recente levantamento mensal da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), referente a julho. O preço médio da cesta básica nos Estados nortistas é de R$ 752,89, superando de longe a média nacional (R$ 668,55) e os preços contabilizados nas regiões Sul (R$ 734,10), Sudeste (R$ 640,87), Centro-Oeste (R$ 616,68) e Nordeste (R$ 598,22). 

O custo da cesta com os 35 produtos mais vendidos em supermercados manteve a tendência de alta em todas as regiões do país. No Norte, o aumento detectado entre junho e julho foi de 1,15%, ficando atrás apenas da variação apresentada pela região Sul (+1,38%) e bem à frente do último colocado da fila –o Centro Oeste, com +0,85% e R$ 616,68. Em 12 meses, a região Norte viu seus gêneros alimentícios básicos decolar 23,49% mais caros, praticamente o triplo da inflação do IPCA acumulada no período (+8,99%), conforme o IBGE.

Na média brasileira, o indicador fechou o mês em R$ 668,55, com acréscimo de 0,96% em relação a junho e uma escalada de 23,14% na variação anualizada. Ovo, carne, frango, leite e feijão estiveram entre os itens que mais encareceram em todo o país. “O movimento de preços não está acontecendo somente no Brasil, mas no mundo. Nos últimos 12 meses, identificamos aumento em função da exportação de alguns produtos com maior procura, e em função do câmbio que foi bastante favorável”, justificou o vice-presidente institucional da Abras, Marcio Milan, no texto de divulgação da pesquisa.

Segundo a Abras, os produtos com maiores altas nos preços entre janeiro e julho deste ano foram o açúcar, ovo, carne dianteiro, café, frango congelado, carne traseiro, leite longa vida e feijão foram os produtos que mais encareceram. No mesmo período, o preço do arroz, pernil e óleo de soja tiveram queda. No acumulado em 12 meses, o óleo de soja disparou com 87,3% de alta, seguido pelo arroz, (39,8%), carne dianteiro (40,6%), carne traseiro (32,9%), pernil (24,8%), frango congelado (30,8%), açúcar (32,6%), café (17,8%), ovo (12,4%), leite longa vida (10,9%) e feijão (5%).

Da cesta Abrasmercado, o tomate, margarina cremosa, queijo prato, café torrado e moído e o extrato de tomate lideraram com as maiores altas, em julho na comparação com junho. Com maiores quedas, ficaram nas primeiras posições a cebola, a batata, o arroz, o pernil e o óleo de soja. Milan sugere que o consumidor fique atento e pesquise preços. “Vimos que o número de marcas de qualidade cresceu e que os valores são muito variados. Temos cerca de nove a 12 marcas de arroz e feijão no mercado, por exemplo. Muitas vezes em uma mesma loja”, frisou.

Salário mínimo

Os dados da Abras contrastam com os do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que apontou aumentos em 15 das 17 capitais sondadas, no mesmo mês. Única cidade da região Norte presente na pesquisa, Belém (R$ 522,66) aparece com a 12ª cesta mais cara e com o 11º maior reajuste (+0,80%). A inflação anual variou de +11,81% (Recife) a 29,42% (Brasília) –com +18,52% para a capital paraense. O custo da alimentação mensal para quatro pessoas já respondia por uma faixa de 47,43% (Salvador) a 64,56% (Porto Alegre) do salário mínimo.

Há anos, o Amazonas já não faz parte da base de pesquisas do Dieese e dispõe de poucas estatísticas sobre o assunto. A mais conhecida é a da CDC (Comissão de Defesa do Consumidor) da Aleam (Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas). Sondagem realizada entre 28 e 29 de julho, em dez supermercados de Manaus, apontou aumento de 2,24% no valor médio, em comparação ao mês anterior. Conforme o levantamento, que levou em conta 26 itens, o preço médio passou de R$ 265,19 (junho) para R$ 271,13 (julho), acumulando alta de 8,75% no ano.

“Dinâmica explosiva”

Sem entrar nos detalhes de diferenciais regionais, o consultor econômico, coordenador regional da Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia) no Amazonas e ex-supervisor técnico do antigo escritório regional do Dieese no Estado, Inaldo Seixas, assinala que os aumentos da cesta básica não se devem a uma inflação de demanda, já que o desemprego segue em níveis elevados, assim como a informalidade, enquanto a renda habitual do trabalhador caiu. O problema estaria na oferta, que sofreu desarranjo nas cadeias produtivas, entre outros entraves.

No caso dos alimentos, a questão estaria no fato de que parte significativa dos produtos já é considerada commodity para exportação, em função do câmbio favorável às vendas externas –inclusive para miúdos de carne e de frango, que costumam ser uma saída para os consumidores de menor renda. A dinâmica seria um fator mais preponderante do que as quebras pontuais de safra. “Eu colocaria também a ausência de políticas de manutenção de estoques reguladores, já que o entendimento passou a ser o de que os mercados se regulam por si mesmos”, complementou.  

Seixas aponta ainda o peso das expectativas na formação de preços, dada a percepção dos setores produtivos e dos consumidores de que a inflação aumenta mês a mês, a crise hídrica está chegando, e os combustíveis vão ficar mais caros em meio a um ambiente de escalada gradual do dólar. “O próprio mercado aponta, por meio da pesquisa Focus/BC, que a inflação será maior do que a imaginada. Isso cria uma dinâmica explosiva, pela interação de choques de oferta e a percepção dos agentes econômicos. Se não houver mudanças nas políticas, o investidor vai continuar indo embora, o dólar vai ainda mais para cima e teremos um quadro inflacionário persistente”, arrematou.

Procurado pelo Jornal do Commercio para falar a respeito dos dados da pesquisa, o superintendente da Amase (Associação Amazonense de Supermercados), Alexandre Zuqui, informou que levaria a questão à presidência da entidade, mas não houve retorno. Procurado novamente, por telefone e WhatsApp, o dirigente não pôde mais ser localizado pela reportagem, até o fechamento desta edição.

Consumo acelera, mas está abaixo da marca de julho de 2020

O consumo das famílias brasileiras aumentou 4,84% entre junho e julho, em âmbito nacional, conforme a mesma pesquisa da Abras. A variação anual, contudo, amargou queda de 1,15%, no segundo recuo no consumo registrado neste ano. De janeiro a julho houve um acumulado positivo de 3,24%. De acordo com Márcio Milan, o crescimento na variação mensal se deve ao pagamento de R$ 5,5 bilhões da quarta parcela do auxílio emergencial a 26,7 milhões de famílias e à distribuição de R$ 1,23 bilhão pelo Bolsa Família. O dirigente destacou também a geração de 50.977 postos de trabalho no setor, em julho, assim como o avanço da vacinação, assim como o “crescimento sólido e constante do setor”.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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