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Região do Alto Solimões lidera casos de covid-19 em índios

Região do Alto Solimões lidera casos de covid-19 em índios

A covid-19 avança nas comunidades indígenas do país, principalmente no Amazonas, onde vivem hoje aproximadamente 68 povos. Pelo menos 111 etnias já registram casos do novo coronavírus. Até essa quinta-feira (25), eram quase 8 mil infectados e 349 mortos em todo o Brasil, segundo dados divulgados pelo Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena.

Esses números sobre a pandemia também incluem os warao, o segundo maior povo indígena da Venezuela, que tem buscado refúgio no Brasil, fugindo da situação de caos econômico e da crise humanitária no país vizinho. 

A situação é preocupante. Em menos de um mês, a doença acometia 44 etnias, um indicativo de que o contágio pode se alastrar rapidamente pelos 305 povos indígenas do Brasil, ressalta o grupo. 

O levantamento do comitê supera, porém, os casos registrados pelo Ministério da Saúde, que emite boletins diários sobre a pandemia. A Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), um órgão federal, aponta que até quarta-feira (24) foram confirmados 4.771 casos de covid-19 e 128 óbitos. 

Isso tem uma explicação, segundo o comitê. É que o Ministério da Saúde fragmenta as informações dos DSEis (Distritos Sanitários Especiais Indígenas), que conhecem de perto a situação de penúria em que vivem hoje os índios assolados pela pandemia.

Portanto, os dados oficiais nem sempre batem com os números divulgados pelas entidades não-governamentais porque as informações não são atualizadas com tanta rapidez pelos órgãos públicos. 

Hoje, a região com o maior número de casos é o Alto Rio Solimões, no Amazonas, especificamente na tríplice fronteira –Tabatinga, Letícia, Benjamin Constant, e Atalaia do Norte, no Vale do Javari. Já são 555 casos de covid-19 entre índios.

Em seguida, vêm Maranhão, com 493, Guamá Tocantins, 417, e Rio Tapajós, com 305. 

“Em março, ainda no início da pandemia, pensava-se que a doença demoraria para chegar ao interior e às comunidades indígenas, o que propiciou a disseminação pelos municípios ribeirinhos. Acho que houve uma omissão por parte das autoridades constituídas que esperaram até três semanas para passar orientações às cidades”, avalia o antropólogo Luciano Cardenes, professor da UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Ele também participa de projetos de extensão na Ufam (Universidade Federal do Amazonas).

Cardenes ressalta que a própria Sesai se omitiu sobre a pandemia. “A secretaria demorou para montar um plano nacional de enfrentamento à covid-19, que só aconteceu agora com a aprovação de medidas emergenciais pelo Congresso Nacional”, acrescenta o antropólogo.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, salienta que nenhuma comunidade indígena ou população ribeirinha ficará sem assistência médica num momento em que a pandemia se alastra pelo interior. “Não faz muito tempo inauguramos a primeira ala hospitalar em Atalaia do Norte que vai atender especificamente indígenas. É uma infraestrutura equipada para esses casos”, disse o governador. A unidade foi instalada nas dependências do Hospital São Sebastião.

Monitoramento

Na terça-feira (23), o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) criou um observatório para monitorar a proteção aos povos indígenas, que estão sujeitos a um elevado grau de suscetibilidade durante a pandemia. A unidade promete conferir uma maior transparência dos atos do governo federal em relação aos índios, inclusive com planilhas do Ministério da Saúde, da Família e dos Direitos Humanos e da Funai (Fundação Nacional do índio).

Essas medidas incluem ainda planejamentos para a distribuição de cestas básicas às comunidades indígenas. No entanto, esse cronograma não tem sido seguido rigorosamente. O CNJ divulgou uma decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região que fixou multa de R$ 100 mil contra a União caso não realizasse entregas de cestas de alimentos a índios em São Gabriel da Cachoeira (distante mais de 822 quilômetros de Manaus), a noroeste do Amazonas.

O CNJ avalia que São Gabriel, o município mais indígena do Brasil, dispõe de uma rede precária na saúde. Com quase colapso no atendimento, a cidade chegou a adotar medidas extremas, como decretar toque de recolher, das 21h às 6h e a interrupção do transporte público e dos serviços de táxi-lotação. 

A Funai, que segundo especialistas vem enfrentando um desmonte em sua estrutura nos últimos anos, anunciou a distribuição de 215 mil cestas básicas e de pelo menos 45 mil kits de limpeza e higiene a aldeias de todo o país. E ainda diz ter destinado R$ 22,7 milhões para ações de enfrentamento da pandemia. O órgão informou que estabeleceu como meta distribuir mais 500 mil cestas básicas às comunidades.

Marcelo Peres

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