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Reestruturação produtiva e o cooperativismo

Esse estudo se passa em torno de um assunto emergente. O impacto do reordenamento do processo de trabalho em países como o Brasil é mais drástico. O Estado brasileiro, além de não investir prioritariamente no setor educacional, dificultou o acesso ao ensino formal aos filhos dos traba­lhadores, sem falar da exclusão escolar de grandes contingentes de trabalhadores adultos.

No relatório do De­sen­vol­vi­mento Humano de 2001 elaborado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o De­sen­volvimento), que apresenta dados de 162 países, o Brasil figura em má colocação no mais novo índice criado, o chamado TAI (Índice de Conquistas Tecnológicas). O Brasil aparece na 43ª colocação entre 72 países. Esse índice visa “capturar como um país está criando, difundin­do tecnologia e construindo uma base de capital humano, ou seja, busca saber qual é a sua capacidade para participar nas inovações tecnológicas” (Culti, 2002). A 43ª colocação do Brasil corresponde ao penúltimo bloco chamado “adotadores dinâmicos de tecnologia”, só à frente do chamado bloco dos países marginalizados. O índice mostra que o Brasil perde no item capacidade humana (anos significativos de escolarização e matrícula universitária em áreas como ciência, matemática e engenharia). Em anos de escolaridade o Brasil empata com nações muito pobres da América Latina como Honduras e República Dominicana. (Culti, 2002). O fator escolaridade nunca foi tão exigido pelas empresas do Distrito Industrial de Manaus que não se preocuparam com essa nuança do proletariado. É a partir da metade da década de 90 que a escolaridade passou a constituir um critério rigoroso na seleção de candidatos que pleiteiam vagas nessas empresas. As empresas Philips, CCE da Amazônia, Gra­diente e outras do ramo. eletroeletrônico passaram a exigir o 2º grau completo às operárias do setor de montagem desde o ano de 1995. Muitos operários e ope­rários que não possuíam escolaridade de ensino médio foram desligados dos quadros funcionais dessas empresas. E, mesmo que algumas empresas como a Moto Honda da Amazônia e a Sharp desenvolvessem minimamente uma política educacional de ensino supletivo para os seus empregados, agora com os sucessivos cortes e redução do quadro funcional da Moto Honda e a falência da Sharp do Brasil, não há mais qualquer iniciativa neste sentido. As demais empresas do Distrito Industrial não investiram em qualificação profissional, ao contrário, mantiveram sempre a mão-de-obra inábil para o mercado atual.

O processo de reestruturação gerencial de grandes empresas somado às privatizações e o aumento do volume de falências, impulsionaram novas organizações em rede por parte dos trabalhadores. Desde 1998 a CUT (Central Úni­ca dos Trabalhadores) vem promovendo discussões junto com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Es­­tudos Socioeconômicos) e a Fun­dação Unitrabalho (Rede In­ter­universitária de Es­­tudos e Pesquisas sobre o Tra­balho), com o intuito de buscar alternativas que venham ao encontro da grande demanda dos trabalhadores excluídos do trabalho formal. No âmbito da educação a pró­pria CUT intensificou suas ati­vi­dades nas escolas sindicais que possui nas regiões do país. Am­pliou seu quadro funcional e criou escola sindical em alguns Estados federativos que ainda não possuíam.

Foi o caso da Escola Amazônia que passou a existir no Estado do Amazonas, a partir da matriz localizada no Estado do Pará. No que diz respeito à reinserção de trabalhadores no processo pro­du­tivo a CUT lançou em 1999, juntamente com o Dieese e a Uni­trabalho, a ADS (Agência de Desenvolvimento Solidário). Por toda essa análise podemos inferir que tem tudo para dar certo em nossa sociedade.

Celso Torres é economista e professor de pós-graduação da universidade Gama Filho.
E-mail: [email protected]

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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