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Redução de gastos é saída para manter os investimentos essenciais

Jornal do Commercio – Como o senhor avalia o atual quadro de crise econômica global?

Artur Virgílio Neto – É de uma gravidade imensa. As autoridades brasileiras assim como as do Amazonas deveriam ser mais realistas. Admitir a existência da crise é o primeiro passo; dar os remédios é o segundo. Temos que admitir que se trata de uma crise que vai durar anos; nos Estados Unidos vai durar todo o governo do presidente Barack Obama; no Brasil o restante do governo do presidente Lula e mais dois anos de mandato do outro governo.

JC – Como o Brasil vai superar esse momento econômico?

Artur Neto – Vivemos o período de bonança que o Brasil não aproveitou como deveria. Foram quase seis anos de crescimento brutal no mundo e nós deveríamos ter crescido muito mais que o mundo e infelizmente crescemos menos. O Brasil está sofrendo e vai sofrer os impactos da crise grave que aí está e quando voltar à liquidez, o crédito vai voltar caro e seletivo num primeiro momento. Depois, o crescimento se reinstalará, mas não será com a taxas que o mundo estava acostumado a ver. Não haverá mais exuberância nacional.

JC – São as chamadas fases cíclicas do sistema capitalista?

Artur Neto – Exatamente. Há tolos que dizem que o capitalismo vai acabar, que o muro de Berlin vai ser reerguido, mas voltar todo aquele atraso é tolice absoluta que não levo a sério.

JC – O senhor está dizendo que o capitalismo vai sobreviver?

Artur Neto – Vai, inclusive irá se reciclar. Como passou por um período áureo de quatro a cinco anos, vai passar algumas décadas para ter um ciclo de crescimento brilhante.

JC – O governo tem criado alternativas de incentivo às empresas para enfrentar a crise. O senhor acredita que os cofres públicos vão agüentar essa situação por muito tempo isso?

Artur Neto – Tudo isso alivia, embora preferisse uma avaliação sistêmica. É preciso Atacar a crise de A a Z e não só no A ou no Z.

JC – Traduza esse alfabeto?

Artur Neto – Não adianta socorrer o setor de duas rodas, por exemplo, e deixar o eletroeletrônico de fora. Poderia criar uma linha de crédito especial para os principais setores, inclusive o eletroeletrônico. Defendo uma ação global, para todos os setores.

JC – Então, essa seria a saída?

Artur Neto – Para mim, a saída é fiscal. O país precisa fazer uma drástica redução de gastos e custeio para não ameaçar os investimentos essenciais. No social, tem o Bolsa Família. No econômico, os investimentos em infraestrutura hoje estão sacrificados, pois o país só investe 1% do seu PIB (Produto Interno Bruto) o que é muito pouco. Fala-se do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas na verdade apenas 1% do PIB sai a título de investimentos. É preciso aumentar a capacidade de investimentos públicos para atrair investimentos privados. Estamos numa fase onde os investimentos desabaram no país, a renda das famílias caiu drasticamente e a produção está ociosa.

JC – A ZFM acaba de completar 42 anos de existência, qual sua avaliação sobre o modelo?

Artur Neto – A ZFM é um êxito, o único modelo de desenvolvimento regional que deu certo no país. Gostaria de ver a consolidação dos polos principais do modelo.

JC – O senhor considera as regras da Suframa rígidas na aprovação de projetos?

Artur Neto – A Suframa trabalha com regras muito rígidas desde quando José Serra foi ministro do Planejamento, o que é salutar. Antes não eram raros os escândalos. O Jornal do Commercio fez uma campanha memorável contra um desses, talvez o primeiro grande, outros se sucederam, e após as medidas tomadas por Serra, nunca mais aconteceu. Até esta época, o critério de distribuição dos recursos dos preços públicos da Suframa era distribuídos por Manaus, interior amazonense e uma parte do Amapá, do Acre, Rondônia e Roraima. Infelizmente, o governo federal tem contingenciado praticamente 100% dos recursos da Suframa, oriundos de preços públicos cobrado das empresas, o que dói duas vezes: primeiro porque contingência e também porque é dinheiro originado aqui.

JC – O que a bancada federal tem feito neste sentido?

Artur Neto – A liberação desses recursos tem sido uma das reivindicações constantes. O assunto estava na pauta dos governadores, que é endossada por quase todos os senadores da região.

JC – A diversificação da economia do regional pode se dá através de quê?

Artur Neto – A partir da biodiversidade, temos uma outra fonte de renda substancial para o povo do Amazonas, assim como a indústria do turismo, o ecoturismo. Temos várias vocações que devem ser aproveitadas, mas é essencial por muito tempo garantir a ZFM, que vai se estruturando com muita luta, enfrentamento o desgaste e obtendo êxito. São 42 anos de glórias com vários pontos a serem computados a exemplo da preservação de 98% da floresta, a segurança nacional que motiva as populações a permanecerem nas fronteiras. A ZFM tem hoje crescido tecnologicamente, com vários institutos produzindo tecnologias no Amazonas que são aplicadas nas indústrias do PIM (Polo Industrial de Manaus), enfim, o modelo gerou uma mão-de-obra especializada que compete com concorrentes da Ásia, dos Tigres Asiáticos.

JC – Para preservar se faz necessário ter uma legislação tão rígida, como reclamam os madeireiros?

Artur Neto – Pode até ser que tenha alguma rigidez a mais, mas sou a favor de aprovar projetos certificados. Ou seja, a madeira tem que ser extraída dentro de um conceito de manejo e sustentabilidade da floresta; a madeira deve ser beneficiada para evitar a exportação em toras. Sou a favor de se explorar tudo o que o Amazonas oferece – madeira, minério, tudo dentro do conceito de sustentabilidade e reflorestamento. No caso do minério, tem que tirar e compensar com a reserva florestal do lado, evitar tirar demasiadamente, até porque o preço cai. Sou contra garimpo, sou a favor de preservar os rios, os mananciais de água potável, o turismo cultural, de pesca esportiva e o religioso. Não podemos pescar como ocorre com a pesca oceânica porque senão os estoques acabam, temos que explorar os rios com moderação, proibindo e punindo os que jogam bomba, optar pela produção de peixe em cativeiro e em açude. Enfim, temos diversas possibilidades potenciais, mas a única realizada é a ZFM, que não podemos perder.

JC – Em que etapa se encontra o projeto de implantação da TV Digital no país?

Artur Neto – Não sei como está o cronograma, mas a partir de agora vamos acompanhar muito de perto esse projeto porque coloquei um senador de minha confiança, o paraense Décio Ribeiro, na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, que cuida de tudo ligado a rádio, inclusive a comunitária, e de televisão. Fiz questão de pegar essa comissão porque sabia ser ela muito importante para a gente em algum momento.

JC – Como o senhor avalia a atual administração municipal de Manaus?

Artur Neto – Volta e meia, tenho conversado com o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, que está muito esperançoso porque teria passado a fase pior e que agora vai começar a deslanchar. A chuva atrapalhou o cronograma dos trabalhos de asfaltamento da cidade, mas acredito que uma pessoa experiente como o prefeito Amazonino Mendes vai saber dar conta do recado, eu torço a favor de Manaus.

JC – Como estão as articulações políticas para 2010?

Artur Neto – Estou pensando muito em trabalhar, procurando fazer a minha parte, conversando com meus companheiros do partido e de fora e muito amigos que são prefeitos do partido e de outros partidos, mantendo contato com eles, procurando prestar serviços ao Amazonas seja no global, no atacado e no varejo, atendendo a um e a outro, mas o que quero mesmo é fazer um bom mandato marcante em 2009, depois então fazer a campanha na hora certa.

JC – O senhor tem interesse em disputar o governo do Estado?

Artur Neto – Meu interesse é o Senado mesmo.
JC – Acha que o Amazonas tem chances de ser subsede da Copa de 2014?

Artur Neto – Tem sim. Os governantes do Amazonas precisam fazer o dever de casa, investindo em soluções que não são caras como o sistema viário, iniciando pelo alargamento das pistas de acordo com um projeto de engenharia muito bem feito, estabelecer estações de acordo com áreas. Indiscutivelmente, o trânsito precisa ser melhorado, inclusive os engarrafamentos. A segurança também precisa ser melhorada, assim como o número de leitos nos hospitais.

JC – Qual o grande gargalo que Manaus enfrenta antes os Estados concorrentes?

Artur Neto – Sem dúvida é o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, que não tem a cara de Manaus. A cidade já dispõe de shoppings maravilhosos, bons restaurantes, somos charmosos para receber. No entanto, o aeroporto não ajuda: se depender de mim se constrói dois aeroportos – se amplia o Eduardo Gomes, que inclusive existe um projeto de construir mais dois andares no Aeroporto e se fazer a duplicação da via-, e se constrói outro para reforço, que pode ser no Iranduba, Presidente Figueiredo, enfim, próximo de Manaus. Hoje a alternativa mais próxima é Boa Vista ou Santarém. Tem que ser nos arredores da cidade.

JC – Acha possível neste momento se construir um novo aeroporto?

Artur Neto – Acho que sim, é uma decisão para a administração pública tomar de acordo com suas possibilidades de gerenciamento, em parceria com o governo do Estado, o governo federal e quem sabe através de empréstimos externos, que inclusive dá para ajudar lá pelo Senado.

JC – O adiamento da resposta da Fifa não é preocupante?

Artur Neto – Se há adiamento é porque existe dúvida. Tenho certeza que o Rio de Janeiro, Porto Alegre e São Paulo vão estar na escolha. Mas vamos torcer para que Manaus também seja escolhida, porque no ramo de rio Manaus é imbatível, enquanto Belém vai concorrer com cidades litorâneas a exemplo de Fortaleza e Bahia. Já pensou num turista que vem assistir um jogo da copa em Manaus e se hospeda no Tiwa ou no Ariaú e atravessa de barco para chegar ao Vivaldão, será uma alegria, porque irá se encantar pela paisagem.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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