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Questões ambientais empacam desenvolvimento

A agroindústria no Amazonas não existe e tem seu desenvolvimento limitado pela floresta. A opinião é do engenheiro agrônomo Marcílio Vital de Paula, que não poupa críticas à política da “moeda de troca” preservacionista oferecida pelos governos estadual e federal para poder “barganhar” com o exterior na obtenção de empréstimos e promessas de implantação de empresas junto a países desenvolvidos e em desenvolvimento.
“O Amazonas é uma ilha de mata amazônica onde a floresta se torna o grande trunfo”, definiu Marcílio. Segundo ele, a situação atual da produção agrícola do Estado remonta aos princípios da Zona Franca, no início da década de 1960. “O orgulho da indústria era mostrar os restaurantes, com nutricionistas de outros Estados, onde os empregados entraram em contato com produtos de fora, não gostando a princípio. Isso gerou uma mudança cultural, e o novo hábito das famílias desses trabalhadores era consumir esses hortifrutigranjeiros”, explicou.
Para o engenheiro agrônomo, não temos produção agrícola estatística em nível local. “A pesquisa genética agronômica pode adaptar culturas aos diferentes climas. No entanto, aqui a comercialização dos hortifrutigranjeiros e cereais se readaptou ao processo dos cargueiros aéreos, pois é fácil trazer para cá o que se produz fora”, afirmou. “Somos uma estação terminal, pois ao chegar aqui esses produtos precisam ser logo vendidos, servindo como ‘isca’ para os consumidores nas redes de supermercados, daí os valores abaixo de mercado nas promoções”, acrescentou.
Para reforçar sua declaração de que não existem agronegócios no Estado, Marcílio explicou que a agroindústria envolve produção em escala, abrangendo toda uma estrutura, inclusive equipamentos. O que temos, disse, é um beneficiamento primário da matéria-prima para agroindústria. “O milho que produzimos, por exemplo, não tem plantio em terra firme, somente em várzea. A colheita e o debulho feitos pelo produtor é o máximo de beneficiamento que teremos. Não podemos abrir hectares para plantio, por isso nossa produção empaca na mata e força a busca por outros centros produtores”, declarou.
Nesse sentido, de acordo com ele, o Amazonas tem uma participação ínfima nas exportações brasileiras, um disparate levando-se em conta que o Brasil é um dos celeiros mundiais para fornecimento de produtos agrários, algo importante na atual situação da crise global dos alimentos.
A expansão das fronteiras agrícolas no Amazonas, no momento atual, não interessa à administração estadual ou à União, segundo Marcílio. “Agroindústria local é algo para daqui a 50 a 80 anos”, frisou. “Ficamos dependentes de outros Estados. O que temos são apenas paliativos, como financiamentos para pequenos produtores, feitos pela Afeam (Agência de Fomento do Estado do Amazonas), e projetos da Sepror (Secretaria de Estado da Produção Rural)”.
Então, qual seria a solução para modificar o quadro? Para o engenheiro, a saída seria a aplicação do zoneamento ecológico –a utilização racional dos solos do Estado, como um preventivo à agressão ambiental, algo que já acontece em outros Estados brasileiros. “Temos solos de boa qualidade, como em Apuí, por exemplo”, disse, com a autoridade de quem foi subsecretário de Produção Rural no governo de José Lindoso (1979-1982). As implicações ambientais, para ele, poderiam ser controladas com utilização de sistemas como o GPS. “Os órgãos federais estão cumprindo seu papel de almoxarifado fundiário, que guardam as nossas terras para o futuro”, alfinetou.

“Setor vive reestruturação”, replica Sepror

O titular da Sepror (Secretaria de Estado da Produção Rural), Eron Bezerra, informou que a agroindústria amazonense deve passar por um processo de reestruturação com os programas que o órgão está executando. “Nossa agroindústria estará dentro de uma concepção para minimizar os impactos ambientais, agregando valor ao produto primário, diminuindo a produção extensiva ao resolver a questão da renda do produtor”, disse o secretário.
De acordo com Eron, cinco programas estão alinhados para esse objetivo. O primeiro visa o apri­moramento legislativo, incluindo o zoneamento ecológico, com acordos de cooperação (licenciamento ambiental e regularização fundiária), objetiva o incentivo para instalação de empresas de agroindústria no Amazonas: o empreendedor entra com 51% do negócio e o Estado, com 49%, e após cinco anos, as ações podem ser resgatadas.

Projetos em andamento

O segundo engloba a infra-estrutura, com ações como construção de casas populares para agricultores (dois mil este ano, segundo o secretário) e eletrificação rural, entre outras. “Um dos pontos já em andamento é a recuperação de 500 quilômetros de vicinais, que deverão estar prontas em cinco anos”, disse.
O terceiro programa envolve a agroindústria em si. “Visamos o beneficiamento do produto para lhe agregar valor e verticalizar sua produção”, declarou Eron. Como exemplo ele cita a salga do pirarucu manejado de Maraã e Fonte Boa para transformação em bacalhau. “Hoje o quilo do pirarucu em Fonte Boa custa R$ 3,50. Com seu processamento, pode ser vendido em Manaus a R$ 20, metade do que normalmente é comercializado”, apontou.
A expansão da produção e projetos sócio-culturais são os dois programas restantes citados pelo secretário da Sepror. O último, conforme declarou Eron, tem entre outras atividades, a erradicação do analfabetismo, arte, cultura e esporte no campo.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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