Para Serafim Corrêa, o Proama é necessário para resolver a crise da água, mas seu funcionamento implicaria em um “buraco” de R$ 2,5 milhões/mês. Ele confirma ao JC a chapa “puro sangue” do PSB na disputa municipal de 2012 e garante que seu partido pretende conquistar o Palácio do Planalto em 2014 ou 2018.
Jornal do Commercio – É fato consumado o PSB concorrer às eleições municipais com uma chapa “puro sangue”?
Serafim Corrêa – Sem nenhum problema com ninguém, o PSB decidiu disputar as atuais eleições com candidatura própria: Serafim Corrêa prefeito, deputado estadual Marcelo Ramos vice, e uma chapa própria de candidatos à Câmara Municipal. Num segundo turno é que haverá composições.
JC – Qual é o projeto nacional do PSB?
Serafim – O PSB tem um projeto nacional. Um partido, que pretende disputar a Presidência da República em 2014 ou 2018, tem que lançar candidatos nos municípios brasileiros. Neste ano vamos disputar as eleições em 1.500 municípios.
JC – E a possibilidade de o PSB fundir-se com o PSD nacionalmente?
Serafim – O fato é que o PSD reivindica direito ao Fundo Partidário e ao tempo de televisão na esfera do Tribunal Superior Eleitoral, e o PSB foi o único partido que concordou com ele. Todos os demais são contra. O julgamento está ocorrendo no TSE e o placar é de dois a um para o PSD. Quanto à fusão, ela só acontecerá caso não haja a concessão do Fundo Partidário e do tempo de televisão. Nós estamos a um mês das convenções partidárias e isso, por si só, elimina a possibilidade da fusão em curto prazo.
JC – A crise do abastecimento de água na cidade de Manaus. O que o ex-prefeito Serafim diz sobre o assunto?
Serafim – Eu assumi a prefeitura em 2005 e tínhamos um impasse entre o poder concedente, a prefeitura, e a concessionária, porque a concessionária comprou um negócio que ela comprova que os dados que foram colocados pra ela não correspondiam à realidade. Quando o Amazonino vendeu a concessão, ele disse que havia a cobertura de 91% de água na cidade de Manaus, o que não era verdade. Quem não sabia disso eram os franceses que compraram a concessão, mas eles não podem se eximir da responsabilidade, eles deveriam ter tomado precauções. O que o Amazonino afirmou tanto não era verdade que em 2006 a gente tinha apenas 83% da cidade com cobertura, faltava 17%. Nós tínhamos quatro caminhos, que eram a intervenção, que não ia colocar água na torneira de ninguém; a encampação, que obrigava ao pagamento de 500 milhões de reais a uma empresa; a caducidade do contrato, que obrigava a Prefeitura a pagar 500 milhões de reais à concesssionária, gerando uma grande briga judicial; e a repactuação, que foi o meu caminho escolhido.
JC – A repactuação deu certo?
Serafim – O então governador Eduardo Braga queria fazer com a repactuação o mesmo que ele fez com o Porto de Manaus, ou seja, decretar a caducidade do contrato. Dez anos depois, não aconteceu absolutamente nada com o Porto. Imaginem se eu tivesse feito isso em relação à água. Se com todos os investimentos realizados, ainda há dificuldades muito grandes, imaginem se eu tivesse trilhado o caminho sugerido pelo senador.
JC – Existe uma CPI da Água na Câmara Municipal tentando elucidar tudo isso? O Serafim teme ir à CPI?
Serafim – Eu quero o debate com o senador Eduardo Braga e com o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, na CPI da Câmara ou em qualquer lugar. Estou tranquilo.
JC – O senador disse que o prefeito vendeu concessão pública e trocou seis por meia dúzia ao transferir a concessão à empresa Águas do Brasil…
Serafim – Na verdade, ele trocou zero por menos seis, porque ele, como um agente público, intermediou um negócio privado, levou um ano fazendo negociações em silêncio. Ele intermediou a venda do controle acionário de uma empresa para outra. Aí, quando a outra empresa entra, ele aumenta em 25% a taxa de esgoto. Ora, ele tem que vir a público explicar isso. Ele está entocado lá no Tarumã, mas tem que lembrar que é prefeito de uma Manaus que tá debaixo d`água, ele tá com medo do povo. O Amazonino taxa injustamente a população com a cobrança da taxa de esgoto, cerca de 70 mil domicílios serão atingidos.
JC – O prefeito diz que o Proama (Programa Águas para Manaus), que custou R$ 363 milhões aos cofres estaduais, não ajuda em nada. Para que serve o Proama?
Serafim – O Proama só existe por causa da repactuação, ele é um programa para médio e longo prazo. A partir de 2015 ele será importantíssimo e eu entendo que aí deve haver um mínimo de humildade da parte do prefeito, do governador, da concessionária e da sociedade como um todo, para avançarmos na busca de soluções definitivas para o problema da água.
JC – Por que o Proama não é posto em funcionamento?
Serafim – O Proama será importante a partir de 2015. E agora o Proama precisa das interligações, precisa de ajustes, e o governo estadual não quer colocar mais dinheiro na obra, a prefeitura e a concessionária também não. O problema do Proama é que faltam 20 milhões de reais para fazer suas interligações. E vejam que ele funcionando, a população terá uma oferta de água bem maior, e aí qual a dificuldade? A dificuldade é financeira porque a operação do Proama custa 4 milhões de reais por mês, de acordo com a informação que tenho. E a área que ele atenderia custaria 1 milhão e meio de reais. Logo, ele daria um buraco de 2 milhões e meio de reais/mês. O governo do Estado não quer arcar com isso, e tampouco a Prefeitura e a concessionária.
JC – Não temos, então, solução à vista para o problema da água?
Serafim – Temos com a parceria envolvendo prefeitura, governo do Estado, concessionária, sociedade e o governo federal. A questão do saneamento é lei federal e essa lei diz que onde tem rede, os domicílios devem se ligar à rede, e a lei não permite a construção de poços artesianos. Só que os seis mil maiores consumidores de água de Manaus possuem poços. As fábricas de refrigerantes, as fábricas de cervejas, todo o Distrito Industrial, esse povo tem que vir para dentro do sistema. Agora, eles só podem vir para dentro do sistema se tiverem a garantia de que o sistema tem água suficiente para oferecer. O Proama sendo interligado, o Distrito Industrial 1 terá todas as condições de se ligar à rede porque haverá água suficiente. Então, tá faltando conversa entre o prefeito Amazonino Mendes, o senador Eduardo Braga e o governador Omar Aziz, agregando os grandes consumidores.
JC – Em que a CPI da Câmara Municipal pode ajudar a resolver o problema da água?
Serafim – A CPI é o momento pra gente discutir a solução do problema, independentemente de qualquer paixão político-eleitoral. Nós temos a mania de criar factóides, dogmas, e pronto. Mas, temos que nos despir de preconceitos e encarar as coisas como elas são. Eu vim de Curitiba agora e fiquei impressionado. Trata-se de uma cidade que deu certo porque ela tem princípio, meio e fim. No século 18, em 1783, fizeram o primeiro Plano Diretor da cidade. Enquanto isso, Manaus teve o seu primeiro Plano Diretor em 1973, com o PDLI e, pior, não cumprimos o PDLI. Consequentemente, Manaus tem problemas absurdos por conta de invasões, conjuntos habitacionais construídos em áreas onde deveriam ter sido construídas vias públicas. Seja quem for o próximo prefeito de Manaus, ele terá que fazer um programa de médio e longo prazo definindo os eixos da cidade. Se a Paraíba for um eixo, teremos que rasgar a Paraíba, alargar a Paraíba e estendê-la até a AM-010 (Manaus-Itacoatiara). A avenida das Torres terá que ir até a AM-010. Atualmente, nossas cinco grandes avenidas jogam todo o volume de tráfego na Torquato Tapajós. E aí tudo engarrafa. Hoje, a gente tem um único eixo Norte/Sul, que é a Torquato Tapajós e a Constantino Nery. Aí no contra fluxo, a gente tem a Djalma Batista, a Maceió e a Paraíba. Quanto ao eixo para a zona leste, a gente só tem a Cosme Ferreira. Aí vem a Avenida das Torres e joga todo o trânsito na Cosme Ferreira, sem cumprir a interligação prevista no projeto original, que era dar um mergulho na Efigênio Sales, fazer duas tesourinhas e desafogar o trânsito. No entanto, a prefeitura sobrecarrega a Bola do Coroado. Nós precisamos encarar esses gargalos. A velocidade média de um ônibus em Manaus é 12 quilômetros, enquanto a velocidade média de um ônibus em Curitiba é 40 quilômetros, ou seja, o ônibus em Curitiba vale por três ônibus em Manaus, ele dá três voltas enquanto um ônibus em Manaus dá apenas uma volta. E não adianta a prefeitura botar mais ônibus em Manaus porque aí é que o trânsito não vai andar.
JC – Um dos grandes problemas de Manaus é o Centro Histórico, arrasado pela enchente deste ano. Quais são suas ideias e propostas para replanejar tudo isso?
Serafim – Nós defendemos o resgate do Cento, temos que delimitar o Centro e resgatar as calçadas para a população poder andar livre e tranquilamente. Hoje as calçadas estão ocupadas pelos carros, pelas lojas ou pelos famosos “puxadinhos” ou pelos camelôs. Faríamos tudo de acordo com uma grande negociação, sem o uso da força, com democracia e respeitando as questões culturais da situação. Nós temos discutido muito isso dentro do partido e a nossa opção é darmos uma solução semelhante ao Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés). O Prosamim poderia ter retirado todas aquelas pessoas que estavam em áreas de preservação permanente sem ter pago um tostão, porque essas pessoas estavam ocupando uma área ilegalmente. No entanto, o governo estadual resolveu indenizar todo mundo. Pois o nosso caminho é o mesmo, um pacto com os camelôs, incluindo indenizações, e quem tiver outro caminho, por favor, informe.
JC – E a Zona Franca de Manaus? Como será o futuro do Polo Industrial de Manaus tendo em vista a realidade do mundo informatizado de hoje e um processo tecnológico que evolui em cada segundo?
Serafim – Há vários pontos a considerar: banda larga, energia elétrica, Porto, logística, é por aí. Precisamos ampliar o Aeroporto Eduardo Gomes. Em 2005, o Infraero disse que começaria as obras de ampliação do nosso aeroporto. Sete anos depois, a obra que vão fazer agora não é trinta por cento do que prometeram em 2005. Há o problema dos portos. O desastre ocorrido com o Porto Chibatão estrangulou a cidade, e precisamos de mais portos para atender as demandas de carga e descarga. Há a promessa do Porto Público, que ocuparia a área da antiga Siderama, mas que não saiu do papel.
JC – O governo estadual gasta 500 milhões de reais na construção da Arena da Amazônia. Há dinheiro para isso, mas por que não há para a formação de uma infraestrutura adequada às atividades do PIM?
Serafim – Houve um equívoco aí, porque não deveriam ter derrubado o Estádio Vivaldo Lima para construírem a Arena. O governador Omar Aziz fez até uma crítica procedente quando lamentou o Estado ter que gastar quase duzentos milhões de reais para cada jogo da Copa do Mundo de 2014 em Manaus. Na verdade, o governo tá investindo na Arena da Amazônia em torno de 600 milhões de reais. E depois, vamos fazer o que com a Arena?
JC – E quanto à mobilidade urbana para 2014 e para depois da Copa?
Serafim – Nada, absolutamente nada, monotrilho não vai sair e BRT também não. Não vão sair porque os projetos estão impugnados pelo Tribunal de Contas da União, pelo Ministério Público Federal, além do que, consequentemente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e a CEF (Caixa Econômica Federal) não liberam um centavo. Estamos há dois anos da Copa e não há mais nem tempo de fazer monotrilho e BRT. A solução será decretarem feriado em Manaus. E há outro problema para a Copa, que é a nossa rede hoteleira. Hoje, ninguém consegue uma vaga com facilidade em um hotel de São Paulo, imaginem nos hotéis de Manaus.