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Queda chega a 90% no setor hoteleiro pelos impactos da crise do Covid-19

Divulgação

Com queda prevista de até 90% no volume de negócios, fechamento em massa e taxas de ocupação média não superiores a 15% nas unidades habitacionais remanescentes, a indústria de hotelaria é um dos setores mais atingidos pela crise do Covid-19. No Amazonas, praticamente 2.300 apartamentos encontram-se fechados e mais de mil funcionários já foram desligados das empresas, segundo a ABIH-AM (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Amazonas). 

O setor vinha com ocupação baixa no primeiro bimestre, dada a sazonalidade de baixa estação e chuvas, coroada pela chegada do Carnaval. A procura, contudo, sinalizava aquecimento e um desempenho superior ao do ano passado, dado o número maior de reservas e eventos agendados. Mas, a chegada da pandemia do novo coronavírus em terras brasileiras – e a destruição econômica em seu rastro – abortou os planos do setor.   

“Estávamos sentindo que esse movimento iria crescer. Aí tinha o Carnaval, mas fevereiro deu uma esquentadinha. E janeiro não foi tão ruim. Na época, ainda tínhamos uma malha aérea muito boa, com voos internacionais. Mas, a crise chegou, e acabou tudo”, lamentou o presidente da ABIH-AM, Roberto Bulbol, em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio.

Sem oferecer mais números, ele destaca que o Amazonas conta atualmente com “pouquíssimos” hotéis em funcionamento, sendo questão de dias para que fechem as portas também, uma vez que contam apenas com poucos hóspedes,– majoritariamente de cidades regionais, que vieram a Manaus a trabalho e ainda não conseguiram voltar.

“Não está entrando mais ninguém. Muitas reservas foram canceladas e devolvidas, sem custo nenhum entre as partes, sob orientação da ABIH nacional. Não temos reservas futuras, pelo menos até junho. Quem vai querer viajar, se não dá nem para sair de casa?”, questionou.

Taxa de equilíbrio

Roberto Bulbol salienta que, além de contarem com um público residual, os hotéis ainda em funcionamento no Amazonas são menores e mais enxutos, com administração direta e, às vezes, até conduzidos por familiares. Para empreendimentos maiores, a situação atual seria insustentável, mesmo que a pandemia tivesse passado.

“No comércio, a loja pode estar fechada, mas a mercadoria fica na prateleira para o dia seguinte e o prejuízo é não vender. No nosso setor é completamente diferente, pois trabalhamos com um produto extremamente perecível. Se você tem um hotel com 200 apartamentos, não compensa operar com 100 ou 50 unidades ocupadas. Vai ter prejuízo total naquele dia, no outro, e assim por diante”, explanou. 

A taxa de ocupação que permite o ponto de equilíbrio de um hotel em funcionamento, conforme Roberto Bulbol, depende de cada empresa e administração, mas situa-se em torno de 50%. Pelo menos para estabelecimentos com mais serviços integrados, como lavanderia, restaurante, área de eventos e agendamento de passeios. Em hotéis menores, 

“Há hotéis também que não tem muitos serviços e alguns são mais versáteis, operando até com 25% ou 30% de ocupação. É um outro tipo de construção também. De uma forma geral, o hotel é o empreendimento mais completo do segmento de turismo. É complicado para mantermos toda essa estrutura e nosso público era cada vez mais exigente. Queriam lojas, cassinos”, asseverou.

Ano perdido

De acordo com o presidente da ABIH-AM, indústria hoteleira e turismo estão entre os segmentos econômicos mais atingidos pela crise do Covid-19 e vão se retrair no mundo todo, em um ano já dado como perdido. Além disso, terão mais dificuldade para voltar a funcionar, quando a poeira da crise baixar e chegar o momento de recolher os escombros para reconstruir a economia. Isso porque a saúde de ambos depende da reativação de outros segmentos, especialmente o das companhias aéreas. 

“Não temos nenhuma perspectiva e a data de reabertura da hotelaria, ninguém sabe. O comércio, assim como outros segmentos, vai voltar. O nosso depende de muitas coisas, inclusive da própria cidade. Criamos um parque hoteleiro enorme e agora não sabemos quantos voos teremos e qual vai ser o atrativo para as pessoas voltarem à região”, explicou. 

Segundo o dirigente, as companhias aéreas estão com praticamente todos os seus aviões “no chão” e com dificuldade de alocar os mesmos. As poucas aeronaves em operação trabalham em regime de “bate e volta”, com a mesma tripulação que veio à cidade retornando ao aeroporto de origem. O número de voos no Brasil, que já chegou a 14 mil por mês antes da crise, foi reduzido para 1.300 mensais. 

“A região Norte conta com 75 voos, no total. Isso não vale nada. São viagens com muitas conexões e muitas horas de duração. Isso nos dá a certeza de que, mesmo acabando toda essa situação, nosso retorno vai ser lento. Dependemos de conexões aéreas, porque você só chega a Manaus de avião. Então, vai ser complicado”, reforçou. 

Tributos e mudanças

A preocupação de curto prazo para os empresários da indústria hoteleira do Amazonas é amenizar as perdas da crise do Covid-19. Especialmente em relação à carga tributária, considerada pelo dirigente como elevada, especialmente porque ela incide em serviços, como energia elétrica, cujo retorno dependeria de uma demanda que desapareceu. 

O presidente da ABIH-AM conta que a entidade tem mantido diálogo com o governador Wilson Lima, bem como também com a Amazonastur e a Manauscult, para ver o que o setor pode fazer para sobreviver em um cenário econômico volátil, imprevisível, mas certamente diferente no médio e longo prazo.

“Chegamos a ter um navio da Temporada de Cruzeiros que nem pode aportar. O que mais a gente queria era receber turistas, e hoje todo mundo tem até medo deles. É incrível como mudaram as coisas. Vamos ver se passa isso tudo, para a gente poder ter fôlego e começar a trazer outas perspectivas e maneiras de trabalhar. Porque vai ser tudo diferente e temos consciência que vamos ter que nos adaptar a uma nova realidade, em todos os aspectos”, encerrou.

Fonte: Marco Dassori

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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