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Protagonismo feminino e indígena invadem a Ilha dos Bumbás de Parintins

Por Fabíola Abess

É louvável, sob todos os pontos de vista, a iniciativa do segmento feminino que atua no Festival Folclórico de Parintins, promover um evento cultural e virtual para afirmar os direitos femininos e indígenas neste momento de tanto conflito, violência e exclusão social pelo qual o país atravessa. O Festival, que já ganhou o mundo e é uma festa cultural de dimensões espetaculares, tem o patrocínio histórico da Coca-Cola e apoio permanente de todo o conjunto das empresas e entidades do setor produtivo. Esse movimento tem interagido com a ASI, Ação Social da Indústria, para participar de ações rotineiras de atendimento aos segmentos mais vulneráveis de pandemia da COVID-19. Confira a excelente reportagem de Fabíola Abess, assessora de Comunicação do CIEAM.  Alfredo Lopes – responsável pela Coluna Follow-up.

Live: ELETROBOI 23 de maio, a partir das 19:30 hrs.

Vidas Indígenas Importam. Vidas Femininas importam. Seja em tempo de Festival Folclórico, seja no cotidiano esquecido das decisivas questões indígenas e dos vetos imemoriais ao protagonismo feminino na floresta e história. A lenda das Amazonas, as Mulheres Guerreiras que se espalhavam pelo Vale Amazônico, no esplendor do feminismo indígena, mostra seu vigor e modernidade na Ilha dos Bumbás. A questão é simples: em clima de pandemia, o que importa é cuidar da vida, muito mais quando se tratam de vidas indígenas, especialmente das mulheres que carregam a responsabilidade dos cuidados essenciais de propagação da existência e de sua resistência étnica e cultural.

O roteiro da Live Eletroboi, projeto da cantora Márcia Novo contemplado pela Lei Aldir Blanc, valoriza o protagonismo feminino representado nesse show por Márcia, Vanessa Alfaia, cantora e compositora da Amazônia e a indígena Samela Sateré-Mawé, liderança jovem que está à frente da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-Mawé (Amism), convidada especial da iniciativa Vidas Indígenas Importam.

Idealizadora do projeto, Márcia Novo comenta que existe um movimento lindo e poderoso de vozes femininas no movimento musical do Boi-Bumbá de Parintins, destacando os nomes de Márcia Siqueira, Mara Lima, Julieta Camara, Emily Lira, Lucilene Castro, Ianayra e Vanessa Alfaia, a última, participará do evento musical. Márcia também relembra o último Festival de Parintins realizado no bumbódromo em que os Bois protagonizaram momentos inesquecíveis de vozes femininas interpretando toadas emocionantes na Arena, “isso foi um marco para a trajetória dos Bumbás”. O clima tem muito de ineditismo. Não é Garantido nem Caprichoso, é tudo misturado para evocar e eclodir a alma e a vida da Mulher, na tribo e no cotidiano da folia Amazônica.

Live Eletroboi, momento mulher da Ilha

A cantora Vanessa Alfaia reconhece a dificuldade que a mulher tem de ser inserida no Boi-Bumbá e fala da sua contribuição com a Live Eletroboi. “Sabemos que a mulher não tem seu destaque valorizado na história dos Bois Bumbás. É por isso que estar nessa com Márcia Novo, que é uma figura mulher extraordinária, poderemos todas mostrar a nova cara de Boi-bumbá de Parintins. A partir da Ilha queremos irradiar a energia indígena e feminina das folia do Boi”. A meta do movimento é ambiciosa e inclui a divulgação para os vários estados da Amazônia e do Brasil, é uma agitação histórica que vai ficar marcada, inicialmente, em Parintins, onde o Boi é mais forte. “Pretendo contribuir com o melhor de minha força, tanto na divulgação, gravando toadas, com composições que reflitam a alma guerreira de nossa contribuição indígena e feminina, batendo muito forte nessa tecla do Boi-bumbá, que é um diferencial da nossa Ilha e  de toda a região para o Brasil ver”.

Resgatar e ressignificar o repertório das toadas

Márcia Novo relembra ainda o sucesso das toadas na década de 90, o frisson das folias bovinas, que só aconteceu porque existia um movimento de muitos artistas compositores produzindo um repertório inesquecível que iremos cantar e dançar para sempre. Era o Arlindo Júnior, Klinger Araújo, Carrapicho, Carlinhos do Boi, Carlos Batata, Encanto Vermelho, Canto da Mata, o lendário Chico da Silva…eram muitos artistas, muitos talentos produzindo cada um na sua onda para compor a toada universal. Então, não havia como não conquistar a força e a graça que fez com que o movimento ganhasse projeção mundial. Agora é hora de ressignificar e expandir esse portfólio. Para Márcia Novo, “…do ponto de vista artístico, o projeto Eletroboi já é uma realidade e é, ao mesmo tempo, a continuidade de uma história, numa pegada dos novos tempos que respeita ao repertório criado, mas com visão progressista que combina com meu jeito, minha alma mulher, com nossas parceiras e com o tempo que a gente vive”. E arremata: “Trata-se de um registro das verdades que nos importam e estamos fazendo para ficar eternizado nas plataformas digitais pra galera escutar e sentir como é bom, como é intenso, quando mulher canta toada. Estamos fazendo exercício vocal, corporal, musical, enfim, preparando tudo com muito amor, esse projeto que é muito especial pra mim e será certamente para muita gente”.

Protagonismo dos povos indígenas no Boi

A reflexão sobre a questão indígena – base essencial da cultura bovina – terá um bloco especial na Live, reafirma a cantora Márcia Novo, “é uma bandeira de todos nós, principalmente porque somos Amazônidas, e eu acho que é o momento de entender a nossa importância nesse momento tão delicado que a Amazônia e os indígenas de uma maneira geral vivem, nossa cultura é mestiça, cabocla, nordestina, negra, mas acima de tudo indígena, então provocar essas reflexões são de extrema importância para mim.”

Voz da mulher Sateré-Mawé

Convidada para um bloco exclusivamente dedicado à questão indígena, a líder Samela Sateré-Mawé, além de participar com a consultoria sobre a abordagem correta do tema, vai fazer uma participação especial na Live Eletroboi. “Minha participação é destacar as questões do que pode e não pode ser falado, o Festival retrata o indígena como uma figura mítica e não é bem assim, nós povos indígenas temos a nossa cultura, a nossa língua, nossos costumes, nossos rituais, isso deveria ser melhor retratado com mais protagonismo e contrapartidas, é tratado como folclore, é romantizado, não tem a luta, não tem a valorização de fato da cultura dos povos indígenas”. Ainda sobre a participação das questões indígenas em eventos voltados para o folclore, Samela avalia como muito tímida, historicamente, e destaca a produção da Live Eletroboi ter se preocupado com a participação de indígenas no projeto. “É importante porque nos principais eventos de folclore que tratam da nossa cultura, que explora toda a cultura dos povos indígenas, a gente não vê os indígenas na frente dos trabalhos produzindo e protagonizando. Então, é uma iniciativa muito boa que só tem a dar exemplo para o próprio festival, nós, povos indígenas, deveríamos participar mais e ajudar as pessoas com o que elas querem tratar da cultura dos povos indígenas, mas muitas vezes não sabem nada e acabam só reproduzindo estereótipos, aumentando fetiches em relação ao corpo das mulheres, em relação ao ser indígena, em relação a toda figura do indígena do pajé e do cacique”, explica.

Durante a Live Eletroboi 2021 serão arrecadadas doações, por meio de um QR Code, para o projeto “Vidas Indígenas Importam”, que faz parte do programa Aliança Covid da Fundação Amazônia Sustentável.

A live Eletroboi será realizada no próximo dia 23 de maio a partir das 19h30 nas margens do Lago Macurany, no Kwati Club, em Parintins e terá aproximadamente 3 horas de duração. Será transmitida pelo canal no YouTube (youtube.com/user/popnovo) e na página do facebook (facebook.com/marcianovo) e também pela Tv aberta para todo o Estado do Amazonas, no canal Encontro das Águas (Canal 2.1, 13 / 513 HD – Claro TV). Todos os protocolos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) serão mantidos para garantir a segurança dos envolvidos no evento.

Bela guardiã da Amazônia

Considerada uma das 12 personalidades Guardiãs da Amazônia pela Revista Vogue, Márcia Novo vai celebrar 18 anos de carreira com quatro discos gravados e reconhecimento no Brasil. Também iniciou o movimento “Vidas Indígenas Importam” que tem ajudado diversas famílias com alimentos, remédios e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual). Além disso, também atua no projeto “Tarumã Alive” que promove conscientização e ações de preservação da maior bacia hidrográfica de Manaus, o Tarumã-Açu. Pelo seu destaque como ativista em causas ambientais e indígenas, foi escolhida como embaixadora da Fundação Amazônia Sustentável.

Esta coluna é publicada todas as quartas quintas e sextas feiras, sob responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas e coordenação editorial do consultor Alfredo Lopes

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