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Profissionais começam a abandonar corretagem

O encanto e a euforia deram lugar às dívidas. Durante os tempos áureos do mercado imobiliário no país, entre 2008 e 2011, milhares de brasileiros — incluindo advogados, servidores públicos e jovens recém-formados —decidiram virar corretores, querendo ficar ricos do dia para noite. Muitos conseguiram. Em cidades onde as vendas e os preços dispararam, como Brasília, o faturamento anual desses profissionais encostou nos R$ 800 mil, uma média mensal superior ao dobro do teto constitucional. Agora, quem esqueceu de poupar está com a corda no pescoço, pois o ‘boom’ do mercado deu lugar ao retorno da estabilidade.
Aflitos com as contas a pagar, corretores e ex-corretores têm recorrido a consultores financeiros para pedir socorro. Nos escritórios, é com saudosismo que eles lembram do período em que todas as unidades de um empreendimento eram vendidas horas depois do lançamento e, com a renda repentina, podiam comprar carros importados, trocar de casa e viajar para o exterior. “Muitos gastaram tudo e, claro, se endividaram”, conta o diretor-executivo da Libratta, Rogério Olegário.
Quando o mercado ainda estava aquecido, em 2011, o paulista Leandro de Assis, de 33 anos, decidiu apostar todas as fichas no setor imobiliário. Mudou-se para Brasília, fez um curso de três meses e virou corretor. Mesmo sendo novato na área, driblou a concorrência e logo vendeu um apartamento milionário. “Embolsei R$ 23 mil de uma só vez”, lembra. Ao perceber que os dígitos da conta bancária não paravam de subir, comprou um carro e fez viagens pelo Brasil e para o exterior.
A ambição pelo dinheiro súbito fez com que Leandro esquecesse de poupar. Com as vendas estabilizadas, ele sofreu as consequências da falta de planejamento. “Não conseguia vender tanto quanto antes e comecei a me endividar. Tive que recorrer ao crédito para pagar as dívidas, incluindo o aluguel”, conta. Hoje, frustrado com a profissão, o corretor distribui currículos e estuda para concurso. “Quero estabilidade”, sublinha. O freio na economia brasileira, o endividamento das famílias, o excesso da oferta de imóveis e a forte especulação levaram à acomodação do mercado que mudou os planos de Leandro e de tantos outros corretores de imóveis. A valorização, que chegou a 30% ao ano, foi reduzida para 13,7% em 2013, segundo o índice da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Em algumas localidades onde o valor do metro quadrado alcançou a casa dos dois dígitos, como o Noroeste, as unidades até caíram de preço.
Para o vice-presidente da CMI/Secovi-MG (Câmara do Mercado Imobiliário), Fernando Júnior, que está há 30 anos no mercado, a mudança no cenário mexeu com o bolso apenas de alguns corretores mais aventureiros, que entraram no setor sem conhecer a sua dinâmica. “Os profissionais que conhecem a área sabem que existem períodos de euforia, mas também de estabilização e se prepararam financeiramente”, pondera. Ainda de acordo com ele, hoje a renda do corretor no Estado é coerente com o preço dos imóveis, mas principalmente com a sua produtividade e força de vendas.
O alinhamento de preços, forçado pela estabilização do mercado, minou os lucros vultosos, mas, por outro lado, trouxe equilíbrio para os ganhos atuais dos corretores e para as próprias vendas. “Aqueles que se comportaram como se tivessem ganhado na loteria foram os que mais sofreram”, diz o vice-presidente da CMI/Secovi-MG.
No contraponto está o consultor imobiliário Alberto Luis de Carvalho, no mercado há quatros, e que garante ter vida financeira sadia, possibilitada por um controle rígido de gastos e ganhos. Ele, que sempre trabalhou com vendas, também foi atraído pela possibilidade de ganhos altos. “Entrei no mercado no fim do boom e peguei uma fase boa, mas como sei que o período não duraria para sempre, apostei num trabalho focado também no deficit habitacional, que garante que o volume de negócios continue ocorrendo”, comenta.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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