A indústria do Amazonas tombou em setembro, em sintonia com o enfraquecimento do PIB e os impactos logísticos da vazante histórica. A produção caiu 6,1% em relação a agosto, que teve quatro dias úteis a mais. Foi o segundo pior desempenho do país e o quarto resultado negativo do ano, nesse tipo de comparação. Mas, não foi suficiente para eliminar o ganho anterior (+10,2%). O confronto com setembro de 2022 mostrou recuo de 1,9%, graças ao desempenho negativo dos segmentos que carreiam o PIM. Na média nacional, por outro lado, o setor se manteve basicamente estável (+0,1% e +0,6%, na ordem).
A manufatura amazonense ainda consolida o acumulado do ano no azul, com 5% de acréscimo, o terceiro maior índice de crescimento do país. Nesse cenário, a indústria extrativa seguiu no vermelho e a expansão da indústria de transformação foi sustentada também pelos derivados de petróleo, além dos subsetores de produtos químicos e de produtos de metal. Em 12 meses, o avanço já caiu para 3,9%, mas também segurou a terceira posição do ranking. Em contraste, a indústria brasileira (-0,2% e 0%) também estagnou em ambas as comparações. Os números são da Pesquisa Industrial mensal e foram divulgados pelo IBGE, nesta quarta (8).
A regressão de 6,1% ante agosto derrubou o Amazonas do primeiro para o penúltimo lugar, superando apenas Pernambuco (-12,8%), em um mês com apenas cinco altas entre as 17 unidades federativas investigadas pelo IBGE. Os melhores resultados vieram do Pará (+16,1%) e do Rio de Janeiro (+3,1%). A queda de 1,9% na variação anual fez o Estado descer da sexta para a 12ª posição, em um rol liderado pelo Rio Grande do Norte (+40,2%) e encerrado pelo Ceará (+11,9%). No acumulado do ano (+6%), só perdeu para o Rio Grande do Norte (+17,1%) e o Espírito Santo (+7,6%). Em 12 meses (+3,9%) já está atrás do Rio de Janeiro (+5,3%) e de Minas Gerais (+4,2%).
Combustíveis e químicos
Na comparação com setembro de 2022, a indústria extrativa (óleo bruto de petróleo) encolheu 1,9%, reforçando o tombo de agosto (-9,9%). A indústria de transformação desceu 2,8%, e chegou perto de eliminar o ganho obtido no levantamento anterior (+3,5%). Seis de seus segmentos avançaram e três declinaram. Os recuos se restringiram a “produtos diversos” (artefatos de joalheria, isqueiros, lentes oculares, lápis, e fitas para impressoras, com -36,4%); bebidas (-16,5%); equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (celulares, computadores e máquinas digitais, com -10,3%); e “outros equipamentos de transportes” (motocicletas e suas peças, com -0,8%).
Na outra ponta, os melhores desempenhos vieram dos segmentos de petróleo e combustíveis (gás natural, com +62,4%); produtos químicos (metais preciosos, inseticidas, nitrogênio e desinfetantes, com +20,6%); máquinas, aparelhos e materiais elétricos (conversores, alarmes, condutores e baterias, com +17,1%); produtos de metal (lâminas, aparelhos de barbear, estruturas de ferro, +14,3%); borracha e material plástico (+6,2%); e d máquinas e equipamentos (condicionadores de ar e terminais bancários, com +4,1%).
O acumulado dos nove primeiros meses do ano mostro quadro semelhante. A indústria de transformação expandiu 5,5% e a extrativa ficou negativa em 1,3%. Os incrementos de produção vieram de derivados de petróleo e combustíveis (+29,5%); produtos de metal (+12,9%); produtos químicos (+11,8%); “outros equipamentos de transporte” (+10,3%); equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos (+4,6%); e borracha e material plástico (+2,6%). No outro extremo ficaram as divisões de bebidas (-5,4%); de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-4,4%); de “produtos diversos” (-2,8%); e de máquinas e equipamentos (-0,6%).
Economia e infraestrutura
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, assinala que a queda do indicador da produção industrial do Amazonas “foi bem significativa”, marcando um período de altos e baixos da atividade no ano, e refletindo o cenário nacional, com números menos piores. Embora os acumulados ainda estejam bem positivos, eles vêm apresentando quedas a cada mês. E a expectativa para a próxima divulgação não é boa, uma vez que a média móvel trimestral está negativa, sendo necessária uma recuperação da redução em diversos setores do PIM”, frisou.
Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o analista da pesquisa, Bernardo Almeida, assinala que o cenário econômico impactou na estagnação da indústria brasileira. “Continuamos com a leitura de um comportamento gradual e moderado da indústria, no qual observamos um arrefecimento na produção, ocasionado por fatores como juros elevados, o que leva ao encarecimento do crédito e diminuição da linha de crédito e diminui as decisões de investimentos por parte dos produtores. Fatores esses que também ocasionam uma cautela na tomada de decisão na parte das famílias, afetando o consumo”, avaliou.
Juros e seca
O presidente da Fieam e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, considera natural que os dois principais segmentos do PIM sofram oscilações em um momento de instabilidade econômica e avalia que a estiagem também teve “relevante impacto” para o desempenho, já que o problema do fluxo de cargas começou justamente em setembro.
“Mas, não obstante a quantidade menor de dias úteis, entendo que o fator preponderante para o resultado seja mesmo o cenário econômico e as questões estruturais. Os bens de consumo duráveis de segunda e terceira necessidade sofrem o principal impacto nesses períodos de volatilidade econômica. De toda a sorte, é importante ressaltar que, no agregado do ano, a indústria permanece com indicadores positivos”, ponderou.
O vice-presidente da Fieam e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Manaus, Nelson Azevedo, diz que o “momento peculiar” vivido pela indústria inclui o peso dos juros e as expectativas em torno da reforma Tributária e a estiagem recorde, que sinaliza deslocar os volumes de produção, do final do segundo semestre, para o início de 2024.
“Algumas indústrias tiveram de optar por férias coletivas, reprogramando linhas de produção de acordo com a disponibilidade de insumos. Mas, assim que o nível dos rios voltar a patamares mais favoráveis, haverá a normalização do tráfego de cargueiros. Ainda não há motivo de preocupação, pois a atividade industrial continua sendo atrativa no Amazonas. Prova disso é que os projetos submetidos ao CAS e ao Codam continuam em quantidade elevada”, amenizou.
Já o presidente da Aficam, Roberto Moreno, estima que a seca deve impactar em números piores nos próximos meses. “O polo de duas rodas pode sofrer reflexos nos indicadores por essas dificuldades de abastecimento. Vamos aguardar os meses seguintes para confirmar esse indicativo, assim como os demais segmentos. A indústria tem buscado, a cada ano, se precaver para evitar a falta de insumos durante as vazantes. Mas, devido à situação crítica que enfrentamos, infelizmente, todos segmentos devem ter algum impacto”, arrematou.