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‘Preço do tijolo foge do controle da indústria’, diz Frank Lopes

‘Preço do tijolo foge do controle da indústria’, diz Frank Lopes

Tijolos e produtos cerâmicos, assim como materiais de construção em geral, estão no centro de uma polêmica recente, envolvendo preços abusivos, atravessadores e o aperto na fiscalização de órgãos como os Procons, o Ipem-AM e a Comissão de Defesa do Consumidor da Aleam. O consenso é que o aquecimento da demanda, impulsionado pelas reformas na quarentena criou um problema, que acabou respingando na imagem da indústria. O presidente do Sindicer-AM (Sindicato da Indústria de Olaria e Cerâmicas do Estado do Amazonas), Frank Lopes Pereira, garante que o setor em peso é contra a prática e, para esclarecer isso, chegou a reunir representantes dos órgãos fiscalizadores na sede da Fieam, recentemente. O dirigente destaca que o sindicato tem planos de oferecer informações ao consumidor sobre seus revendedores autorizados, por meio de suas redes sociais, mas o trabalho ainda não foi concluído, em virtude da pandemia. Na conversa com o Jornal do Commercio, o presidente do Sindicer-AM fala de crise, defende a necessidade de turbinar o polo oleiro com o uso de gás natural em seu processo produtivo, salienta o trabalho da entidade em favor de seus colaboradores e ressalta a importância do consumidor construir bem para melhorar a qualidade de vida e legar o imóvel às próximas gerações. Leia a íntegra da entrevista, a seguir.          

Jornal do Commercio – Há uma crise no setor ou um aumento excessivo de demanda? Por que está tão caro o preço do tijolo?

Frank Lopes Pereira – A questão de estar mais caro ou mais barato muitas vezes foge ao controle das olarias. A cadeia comercial é bem extensa e hoje, talvez o nosso maior problema, entre tantos, seja a falta de material de queima, que é o insumo mais importante no processo produtivo. Ele pode ser lenha, resíduos de madeira em geral, palets, sarrafos…

JC – Esse é o maior problema da cadeia do tijolo, no Amazonas?

FLP – É um dos grandes entraves. Inclusive, temos um projeto de governo, em andamento desde 2015, com parceria dos ceramistas. Viemos discutindo nesse tempo e, em 2019, tivemos tratativas novamente com a Arsam, a Seplancti e a Aleam. A ideia é implantar um distrito de desenvolvimento econômico em Manacapuru, com a utilização do gás na fabricação de tijolos e produtos cerâmicos em geral. É uma expectativa que temos. Porém, sabemos que, sem a participação direta, efetiva e continuada dos governos, é impossível a implantação unicamente pelo segmento privado. 

JC – O Procon e vários núcleos de defesa do consumidor participaram de ações em cima dos preços abusivos de material de construção. Autuaram lojas e foram até as olarias, em uma operação de fiscalização onde se apontou a existência de atravessadores. Como vocês tratam essa questão, já que alguns chegaram a dizer que a própria indústria estava participando desse processo?        

FLP – A indústria cerâmica tem uma responsabilidade muito grande dentro da construção civil do Amazonas. Estamos contribuindo com a construção da capital há pelo menos cinco décadas e jamais poderíamos permitir que utilizassem nosso produto para lesar os consumidores. Temos um histórico positivo de relação com todos os órgãos fiscalizadores. Sempre fomos muito receptivos e temos, inclusive, algumas amizades. (…) Há, sim, preços abusivos. Que bom que houve denúncias e que houve a interferência dos órgãos. Fizemos o convite para uma reunião na Fieam e esclarecimentos foram feitos. (…) Não houve abuso da indústria, mas um reajuste responsável, e que não atingiu o índice que precisava. Mas, é verdade também que ficamos sabendo, através dos meios de comunicação, que alguns lojistas e/ou alguns atravessadores estavam praticando preços fora da realidade. Posso dizer que, qualquer preço que seja superior a um salário mínimo, independentemente da negociação, não é indicado pela indústria cerâmica.  

JC – O preço indicado baseia-se em quanto, mais ou menos, de loja para loja?

FLP – O tabelamento de preço não existe, até porque a lei não permite. Somos fábricas muito dispersas, ao longo de 80 km da rodovia Manuel Urbano, principalmente em Iranduba e Manacapuru. Mas, pode existir uma diferença na questão logística. Manaus é uma cidade muito grande e nosso centro consumidor principal está nas zonas Norte e Leste, onde pode haver uma variação de preço. Sobre esse preço de R$ 1.200, R$ 1.300, recomendo que o consumidor e construtoras busquem outro fornecedor, pesquisem, procurem se informar com as olarias onde estão seus revendedores e qual é o preço praticado. Posso dizer que hoje o preço para o consumidor final varia de R$ 800 a R$ 900. Mas, tem cliente que quer o produto de pronta entrega, e pode ocorrer um ágio, como ocorre em vários produtos. Não estou dizendo que é legal, nem dando apoio… Também pode ser que a venda seja no cartão de crédito, com parcelamento… Enfim, a forma como está sendo comercializado o produto pode direcionar o preço final.

JC – Não é mais possível encontrar por R$ 500?  

FLP – Posso garantir que você ainda encontra, em alguma cerâmica, por esse preço, ou até de R$ 600. E tem outro detalhe que é importante frisar: existe o tijolo que vai ser entregue ao consumidor na forma paletizada ou a granel. Então, essa forma de transporte também faz um diferencial no preço. 

JC – Estamos falando de atravessadores, mas a compra por aplicativos de celulares, tipo OLX, pode afetar de alguma forma o trabalho da indústria cerâmica. Qual é sua avaliação? 

FLP – A ferramenta digital pode ser usada de forma positiva ou negativa e negocia produtos diversos. Sempre recomendamos que, antes de fechar negócio, o consumidor confirme a loja física do revendedor. Nossos revendedores de tijolos, em geral, estão em uma. Vá lá, verifique o produto, invista um pouco de tempo. Apesar da dificuldade desse momento [de pandemia], é o mais saudável na hora de fechar o negócio. E é de extrema importância que o comprador verifique todas as especificações do produto. Precisa constar nele as dimensões, a empresa com seu CNPJ, e um número de telefone da fábrica.

JC – O senhor estava relatando essas dificuldades acabam gerando encargos ao fabricante, porque a pessoa que compra não tem entendimento da cadeia de produção. O sindicato têm algum canal de relacionamento com o consumidor para orientá-lo nesse sentido?

FLP – Sim. Temos página no Instagram e no Facebook e, neste ano, tínhamos a proposta de atualizar, não só o cadastro das indústrias cerâmicas, como também oferecer uma relação de todos os nossos clientes e revendedores. (…) Em função de todo esse problema, a Fieam também foi atingida e, com a pandemia, as atividades foram paralisadas e não conseguimos avançar. A partir de agosto, devemos retomar os trabalhos. Mas, é importante informar que não temos uma representação oficial dos revendedores, o que dificulta nosso diálogo. Considerando que o número de fábricas é menor – temos pelo menos 35 –, vamos criar uma comissão na Fieam e, dentro de um grupo de trabalho, vamos fazer esse levantamento no tempo mais curto possível.    

JC – Quantas pessoas trabalham nessas 35 fábricas do polo ceramista do Amazonas?

FLP – Nós tínhamos, antes da pandemia, uma média de pelo menos 60 funcionários [por fábrica]. Houve uma redução do quadro. É importante frisar os empregos indiretos também, como o funcionário que trabalha no desembarque dos tijolos, nas lojas de material de construção e/ou nas distribuidoras. Muitas vezes são pessoas que não tiveram oportunidade de atuar no escritório, mas precisam levar o sustento a suas famílias. Nós sempre abraçamos todas essas categorias. Problemas trabalhistas praticamente não existem, porque existe uma responsabilidade de nossa parte com o cumprimento dos deveres. E a abrangência do emprego no nosso segmento é muito maior do que somente dentro da fábrica.

JC – O calor e a umidade são muito grandes em nossa região e as telhas de barro são uma opção para minimizar essa sensação térmica. Mas, seu uso não é comum. Por que não conseguimos popularizar materiais mais adequados ao nosso clima? 

FLP – Na pandemia, passamos a conviver muito mais dentro de nossas casas. Esse fator também contribuiu para que as pessoas percebessem a importância das melhorias em seus lares. Muitos “puxadinhos” e novas obras estão em andamento. Até por conta disso, houve aumento no consumo de tijolos e de outros materiais de construção. É necessário voltarmos a um romantismo de pelo menos 200 anos atrás e percebermos que nosso lar, feito de tijolos, é um bem durável que precisar ser valorizado desde a concepção da planta, por mais simples que ela seja. É necessário visualizar o nascente e o poente, e dar oportunidade para um paisagismo na casa, com árvores para diminuir a temperatura. O tijolo, que é de uso milenar, ainda deve continuar sendo usado por muitos anos. Então, muito cuidado na hora de construir e valorize cada metro quadrado. Essa edificação ficará para várias gerações. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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