10 de dezembro de 2024

‘Precisamos desenvolver a bioeconomia’

ENTREVISTA: Márcio Paixão e José Altamir, presidente e vice do Corecon-AM

Tomam posse hoje como novos gestores do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM), os economistas Márcio Paixão e José Altamir. A cerimônia de posse será realizada, às 19h, no Auditório Auton Furtado Jr., localizado na sede da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), na Avenida Joaquim Nabuco. 

Conversamos com o novo presidente e o novo vice na sede do Jornal do Commercio. Falamos sobre a importância do profissional de economia para o desenvolvimento regional; sobre a dificuldade para o abastecimento da mesa do manauara com produtos regionais e da busca de uma nova matriz econômica para o Estado.

O desenvolvimento da bioeconomia também esteve presente no diálogo com os dois dirigentes. A entrevista completa em vídeo pode ser acessada no Youtube do Jornal do Commercio (@jcommercio). 

A seguir a entrevista condensada para o impresso:  

Jornal do Commercio – Márcio, como você recebeu esse desafio de estar à frente do Corecon-AM?

Márcio Paixão – O desafio vem num momento muito especial para todo o Brasil e para o Amazonas. Vimos pautas importantes em discussão como o arcabouço fiscal e a reforma tributária. São temas que impactam diretamente a economia de Manaus e do Estado do Amazonas e o Corecon-AM tem uma participação muito fundamental para contribuir da forma conceitual e de forma técnica junto com o governo do Estado, junto à bancada Federal para defender a nossa economia e também buscar alternativas de crescimento econômico para o Estado. 

JC – E você Altamir que já é uma figura muito presente na representação do Corecon-AM. o que esperar dessa nova gestão? 

José Altamir – Como o nosso presidente Márcio falou muito bem, nós temos um grande desafio para o ano de 2024 que é mostrar a importância do profissional de Economia para a sociedade. Isso é um desafio que a gente tem e a gente sabe da necessidade que vamos ter para gerir essa situação junto aos novos desafios que tem para a Amazônia. Temos um polo industrial muito pujante que precisa ser estruturado para gerar riqueza para a sociedade como um todo. Nós temos um interior que foi muito prejudicado por essa ausência de políticas públicas voltadas para ele. A gente sabe que o desenvolvimento do Estado do Amazonas passa por aí. A gente precisa fazer com que os incentivos fiscais que ainda permanecem sendo o nosso diferencial sejam também estendidos para o interior com obras, serviços e geração de emprego. 

JC – Assistimos os economistas com grande protagonismo na discussão de pautas importantes para o Amazonas. Como você vê a importância dos economistas hoje para a sociedade? 

MP – Hoje o economista tem sido o protagonista de muitos temas. Basta a gente ver que hoje tudo basicamente envolve a economia, desde a economia doméstica, educação financeira, a economia industrial, comercial, etc. Os economistas precisam ocupar esses espaços para contribuir com a sociedade. E com nossos associados estamos proporcionando cursos de atualização para aqueles economias que já estão no mercado de trabalho ou estão em transição e para os economistas recém-formados. Formação em tecnologias e em novos segmentos, como crédito de carbono, Inteligência Artificial aplicada à economia e finanças, por exemplo. Em razão disso, nós temos uma orientação para tentar reformar a grade curricular das universidades. Estarei no dia 2 no Fórum Nacional de Presidentes de Conselhos Regionais de Economia onde o Amazonas já deve propor mudanças na grade curricular junto ao governo federal e ao MEC para atualizar o currículo para a realidade, incluindo ainda crédito de carbono, a bioeconomia, por exemplo, que é uma tendência especialmente aqui no Amazonas com o próprio ressurgimento do CBA. Isso agora vai gerar um flanco muito grande de oportunidade para os economistas. O que a gente faz no Corecon-AM é resguardar essa contribuição que o economista pode dar e principalmente fazer a diferença na vida das pessoas. 

JC – Então essa mudança proposta visa incluir mais a bioeconomia dentro do currículo? 

MP – Exatamente. Hoje o Brasil tem uma grande oportunidade. Há uma tendência mundial muito grande para essa área. Hoje o Brasil ainda explora muito pouco a bioeconomia se comparado com países muito menores e com menos recursos, pois o Brasil tem muitos recursos, uma matéria-prima abundante, especialmente no Amazonas, onde estamos em cima dos recursos naturais. E a gente pode desenvolver a bioeconomia, por exemplo, pode ser com o gás, a energia, a mineração de forma sustentável. A gente vê aí, por exemplo, a questão do potássio de Autazes. É uma questão que precisa ser colocada à baila. O Brasil ainda importa muito potássio, que é o principal componente dos fertilizantes. O fertilizante é quem vai fomentar o agronegócio onde o Brasil é o principal exportador. Há um dado mundial que o Brasil alimenta cerca de 10% de toda a população mundial. Então o Brasil depende muito dos fertilizantes e aqui no Amazonas temos, a um pouco mais de 100 Km da capital, Autazes que oferece de forma muito objetiva uma possibilidade de exploração com sustentabilidade. Temos que utilizar esses recursos que nós temos até porque o polo industrial tem um período de transição com a reforma tributária. A gente não sabe exatamente como isso vai impactar no futuro, mas o que a gente sabe é que haverá Impacto. Então o nosso outro desafio de longo prazo é exatamente já formatar desenhar outras matrizes econômicas ou paralelas ou adicionais ao modelo que temos hoje. 

JC – Altamir, você que é um decano do Corecon-AM, como a gente pode explicar o fato de o Amazonas precisar importar produtos regionais que são a nossa vocação como é o caso do tambaqui e da banana? 

JA – Isso realmente chama a atenção. Sabemos que há lugares que não teriam condições de desenvolver qualquer atividade econômica, mas isso se torna possível através de tecnologia. O Amazonas precisa também ter acesso a essas novas tecnologias. Não podemos deixar o homem do interior ainda sofrendo com falta de assistência. A gente precisa sim levar até eles novas técnicas, precisamos levar para eles também essa tecnologia moderna de produção. A gente não pode deixar o homem do interior carente.  Tudo depende da cidade de Manaus. Ela tornou-se um estado é uma cidade-estado. Então isso é um absurdo e, por conta disso, a gente precisa fazer um incentivo para que as pessoas que estão no interior permaneçam lá e encontrem trabalho. O Corecon Amazonas vai participar de todos os debates que visem o desenvolvimento regional, mas sem partidarismo, numa visão altamente técnica. A gente vai apresentar propostas para esse desenvolvimento. Teremos uma eleição Municipal agora e quem sabe a gente apresente para os candidatos algumas propostas para desenvolver as cidades. Os nossos profissionais têm muitas ideias boas para o desenvolvimento das cidades. 

MP – Se me permite acrescentar, a gente tem um dado interessante mostrando que 90% do tambaqui que é consumido na capital vem ou de Roraima ou de Porto Velho, Rondônia. Ou seja, a piscicultura lá foi super incentivada. No estado de Roraima que é muito menor que o Amazonas com menor quantidade de rios e hoje consegue chegar a um preço muito competitivo. Aqui em Manaus, se você fizer uma pesquisa, 90% do tambaqui que você come nas peixarias, que você comprou no mercado vem de Roraima ou vem de Porto Velho, Rondônia. E aí essa gente comparar, olha o tamanho do Estado do Amazonas. Será que a gente não poderia ter uma tecnologia para explorar de forma sustentável essa riqueza. Olha a quantidade de rios que nós temos. Então é difícil imaginar como um Estado tão menor produz uma quantidade muito maior de peixe. Por outro lado, quando a gente fala de desenvolver a região, não podemos deixar de lado a infraestrutura. Precisamos falar da Br-319, a gente também precisa falar do balizamento do Rio Madeira e do Rio Amazonas.  É fundamental para a logística do Estado do Amazonas. Então se for falar de desenvolver o Estado do Amazonas, em fazer produção e fazer escoamento sem tratar essas vias que são exatamente o que vai permitir reduzir o custo do frete aqui. As principais transportadoras gastam milhões para fazer viagens aqui. Isso afeta no custo Amazonas. Afeta o custo da cesta básica. A de Manaus é mais cara no Norte. Manaus é a quarta capital de maior custo de vida do Brasil. Estamos falando de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Manaus. 

JC – Ainda falta uma integração maior entre o poder público e as instituições de pesquisa como a Embrapa e o Inpa? 

JA – Falta essa integração. A gente entende que os órgãos precisam se comunicar e levar por exemplo o desenvolvimento das potencialidades de cada local, o que pode produzir lá.  Por que o abacaxi foi tão bem lá no novo Remanso? Possivelmente houve pesquisa indicando a produtividade na região. Então a gente precisa fazer esse zoneamento econômico de cada lugar da Amazônia, de cada município. Esse é um projeto que já há muitos anos se fala, mas a gente precisa desses órgãos, sejam órgãos federais e do próprio Estado. Nós temos o Idam que leva essa técnica para as famílias de produtores. A gente precisa que haja também condições para isso. Tem órgão, mas não tem recurso. No passado havia uma lei que dizia que 3% seria aplicado no setor primário, mas essa lei acabou. A gente precisa assim potencializar o setor primário. O Estado é carente do setor primário e a gente precisa trabalhar em cima disso. 

MP – Quero acrescentar em cima disso com outro dado interessante sobre infraestrutura. O Estado do Pará tem 11 rodovias federais, enquanto o Amazonas tem três em condições precárias, a 174, a 319 e a 290, que é antiga Transamazônica. Nenhuma delas funciona praticamente a não ser até Boa Vista. Então não tem como pensar que você vai desenvolver com três rodovias federais que não funcionam, associado aos rios que tem problemas de balizamento, com os problemas de cheia e de seca. Eu vejo com relação ao desenvolvimento para o Norte, para o Amazonas, o governo, seja qual for o governo, precisa ter uma política de estado. Não pode explorar peixe lá porque tem que preservar. Ah não pode explorar minério porque tem área indígena. Então tem uma série de áreas que são preservadas. Então qual a visão de governo que você tem de desenvolver mais ou menos para o futuro. Tá bom, se eu não posso explorar a floresta, então eu posso fazer indústria. Eu posso fazer grandes campos de pecuária, como por exemplo lá no Centro-Oeste. Mas eu não tenho tecnologia para desenvolver a nossa pecuária, que é muito incipiente pelas restrições. Mas já que o Amazonas tem que ser preservado, intocado, a gente precisa repensar a região com o olhar na sustentabilidade. Pegando como exemplo a situação de Las Vegas, no deserto de Nevada. Lá você não tinha nada de produção no deserto e então do nada surgiu Las Vegas, um centro de jogos, com serviço e turismo e desenvolveu aquela região visto que não poderia ser plantado absolutamente nada. Então você não pode mexer na floresta. Por que não pode liberar também uma espécie de serviço nesse sentido e aí associaria os jogos liberados de forma regulamentada com arrecadação de impostos, associado ao turismo ecológico. Aí, se vem um xeique árabe, ou se vem um grande empresário lá da Europa, ele vai fazer turismo e deixar recursos aqui. Então às vezes o governo está fechando uma coisa que existe ao invés de enfrentar esse assunto buscando regulamentar a atividade.

Fred Novaes

É jornalista

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