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“Precisamos ajudar nossos jovens” diz o psicólogo Thiago Filgueiras

Mais um Setembro Amarelo se inicia, mês de prevenção ao suicídio, e a preocupação dos especilistas, agora, é com o impacto das redes sociais na saúde emocional da população, principalmente dos jovens. Recentemente ganhou a manchete dos noticiários nacionais o suicídio de um adolescente depois de publicar um vídeo onde simulava um beijo num colega e ser atacado por milhares de comentários homofóbicos em suas redes sociais. O suicídio, apesar de receber maior atenção neste mês, deve ser olhado da mesma forma durante o ano inteiro, por se tratar de um problema de saúde pública que já apresentava números crescentes antes da pandemia, e que aumentaram ainda mais com o isolamento social e o pânico criado na população por parte da imprensa e amplificado nas redes sociais pela facilidade que as pessoas têm, hoje, em se propagar notícias, principalmente quando são trágicas. Para explicar melhor todas essas questões, o Jornal do Commercio ouviu Thiago Filgueiras, psicólogo clínico, psicólogo do Manaus Futebol Clube, especialista em psicologia hospitalar e psicólogo no Hospital Geral Dr. Geraldo da Rocha.

Jornal do Commercio: Redes sociais podem levar uma pessoa ao suicídio?

Thiago Filgueiras: Não necessariamente as redes levam uma pessoa a cometer suicídio. Por exemplo, um jovem com transtorno psiquiátrico, como a depressão, entra na sua rede social e é atacado constantemente por haters, isso pode agravar seu quadro e ser um gatilho para o ato suicida. Ou uma jovem que sofre de transtornos psiquiátricos têm suas fotos íntimas vazadas na Internet, isso pode ser um fator desencadeador para o ato suicida.

JC: Quem seriam os haters (odiadores). Eles já existiam antes ou surgiram com as redes sociais?

TF: Os haters são pessoas que miram em um assunto ou em uma pessoa específica e começam a destilar comentários negativos e na maioria das vezes ofensivos. Sim, eles já existiam de outra forma, desde sempre. Podemos configurá-los como aquelas pessoas que não estão felizes com o êxito, conquista ou felicidade do outro.

JC: De acordo com a Royal Society for Public Health, do Reino Unido, as redes sociais podem levar alguém a ter problemas de saúde mental. Que problemas seriam esses?

TF: À medida que as redes sociais foram se popularizando em todo o mundo, causaram uma mudança global significativa na vida das pessoas. A mesma tem causado um grande aumento de ansiedade, depressão, bullying, solidão e exposição de imagens corporais. Pessoas começam a se frustrar quando criam a projeção de ‘aquilo que vejo no outro, é o que eu quero ser’. Como na maioria das vezes não conseguem, se frustram.

JC: A falsa segurança das redes sociais revela o verdadeiro caráter das pessoas, para o bem, mas principalmente para o mal?

TF: Muitas pessoas criam uma imagem para sentir-se seguras e bem aceitas e bem quistas por outros. Pessoas que agem dessa maneira usam a rede social como um escudo para não lidarem com suas fragilidades psíquicas. O mal se configura quando essa pessoa cria uma falsa realidade como fuga para não encarar suas inseguranças.

JC: Você saberia dizer quanto por cento aumentou o número de suicídios no Brasil em função do isolamento social pela pandemia? Isso significa quantas pessoas?

TF: Não conseguimos mensurar em números exatos, até porque ainda vivenciamos a pandemia. Mas o cenário atual tem apresentando o aumento de angústia, depressão e

ansiedade, principalmente nos profissionais da saúde. Somando o uso de substâncias e sentimento de perda, estes podem se tornar um risco para o ato suicida.

JC: Que ações devem ser efetivadas, numa escola, por exemplo, junto aos jovens, para tratar do tema suicídio?

TF: Assim como uma casa precisa de um fundamento para ser erguida, desta forma precisamos ajudar nossos jovens a desenvolver um alicerce psicológico para lidar com a cobrança da vida. Uma ferramenta que é utilizada nas escolas de primeiro mundo é a Inteligência Emocional como uma disciplina que visa o aprimoramento psicológico dos alunos. É válido que as escolas desenvolvam ações internas como escuta psicológica aos alunos e palestras com diversos temas voltados à saúde mental.

JC: Só depressivos se suicidam? Então, deve-se tratar a depressão. Como identificar um depressivo?

TF: É de suma importância esclarecermos isso. Não necessariamente uma pessoa que sofre de depressão irá cometer suicídio. Porém, a depressão tem sido a segunda mais importante causa de incapacidade no mundo, segundo a OMS. Outros transtornos como o afetivo bipolar, esquizofrenia, transtorno relacionado ao uso de substâncias e álcool e os transtornos de personalidade como borderline e anti social, completam a lista da OMS.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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