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Precariedade social é agravante no cenário pré-pandemia no Amazonas

Pelo menos 59,4% da população do Amazonas morava em locais com dificuldade de acesso à água, em 2019, dificultando a higienização das mãos e de objetos, já no período pré-pandemia. É um percentual mais elevado do que a média nacional (37,8%). Em torno de 27,4% dos domicílios tinham abastecimento diário, mas não contavam com estrutura de armazenamento de água, enquanto 11,7% deles não estavam ligados à rede geral, nem contavam com canalização. Os respectivos números brasileiros foram 12,2% e 3,4%.

Outro dado preocupante, no contexto da disseminação do novo coronavírus, vem do número de pessoas por domicílio (adensamento domiciliar), que traz dificuldades de isolamento social, na eventualidade de algum morador ser infectado. Em 2019, 29% dos domicílios amazonenses tinham seis pessoas residindo e 16,6%, cinco. Os dados superaram com folga as respectivas fatias brasileiras (9,8% e 12,8%). Em contraste residências do Amazonas com um, dois, três e quatro residentes (3,5%, 10,5%, 17,8% e 25,8%, na ordem) ficaram aquém das médias nacionais (5,6%, 19%, 27% e 26,8%).

Os dados são dos Indicadores Sociais de Moradia no Contexto da Pré-Pandemia de Covid-19, divulgados pelo IBGE. Com números gerados a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua 2019, o estudo aprofunda a análise das condições de vida da população brasileira, com foco em características dos domicílios: abastecimento de água; adensamento domiciliar; existência de banheiro e rendimento domiciliar. 

Em linhas gerais, o levantamento mostra que as dificuldades de higienização são maiores na região Norte, onde 10,7% da população residia em domicílios sem canalização interna de água e abastecidos principalmente de outra forma, que não a rede geral de distribuição de água. No Nordeste, essa proporção era de 7,9%. Ambos os valores estavam acima da média nacional (3,4%). Entre as unidades federativas, o maior valor foi verificado no Pará (13,8%). 

No Amazonas, 11,7% das pessoas relataram não contar com canalização de água dentro de casa, o segundo maior percentual do Norte, embora o dado de Manaus (1,5%) sido bem inferior. O Pará (13,8%) teve o maior percentual de pessoas vivendo em domicílios que não tinham na rede geral a sua principal forma de abastecimento sem canalização interna nos domicílios. A Região Metropolitana de Belém (5,5%) e Porto Velho (6,1%) também se destacaram, nesse quesito. 

Adensamento domiciliar

O mesmo ocorre em relação ao adensamento domiciliar, onde o Norte aparece com 21,1% de seus domicílios com seis ou mais moradores. No ano anterior à chegada da pandemia, 23,1% das residências do Amazonas tinham dois ou três pessoas por cômodo e 19,2% contavam com um mais moradores ainda, superando com folga os números do Brasil (14,1% e 5,6%, respectivamente). 

Amapá (32,5%), sua capital (32%) e a região metropolitana de Macapá (32,4%) têm os piores números. Os domicílios com seis moradores ou mais abrigavam principalmente pessoas que se declaravam pretas ou pardas, servindo como local de moradia para 12,3% desta população. Nas áreas rurais do Brasil, 14,7% da população residia em domicílios nessas condições, em proporção inferior à registrada nas áreas urbanas (9%). 

A proporção de casas com três moradores ou mais dividindo o uso de um mesmo banheiro por domicílio também foi consideravelmente maior no Estado (45,3%) e na Região Metropolitana de Manaus (45,7%) do que no restante do país (32,2%). Além das dificuldades de acesso à água e o excessivo número de moradores por cômodo, algumas famílias brasileiras ainda viviam em domicílios sem banheiro. Isso foi verificado em 2,6% da população brasileira, mas o Norte teve percentual quatro vezes maior (11%), sendo superado pelo Amazonas (12,5%) e pelo Pará (14,2%).

As dificuldades andam de mãos dadas com a pobreza. O Estado (45,1%) também possui o segundo maior percentual do país de domicílios com seis moradores ou mais com renda domiciliar per capita inferior a US$ 5,5. Manaus (36,8%) também aparece como a segunda capital do país com maior percentual de moradores com as mesmas características socioeconômicas. Em contraste, 22% dos brasileiros estavam na mesma situação, com destaque negativo novamente para o Amapá (49%), sua capital (49,2%) e a RM de Macapá (48,5%).

“Defeitos e virtudes”

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o analista do estudo, Bruno Mandelli Perez, avalia que os dados confirmam a dificuldade de alguns brasileiros para fazer isolamento social e ter acesso à água. “No contexto atual, no qual autoridades de saúde apontam a importância do distanciamento social e da lavagem das mãos com água e sabão para o combate à pandemia, o IBGE considera fundamental disponibilizar informações que auxiliem a superação da crise e a proteção da população frente ao grave quadro de saúde pública global”, ressaltou. 

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, salientou à reportagem do Jornal do Commercio que, do ponto de vista da forma de abastecimentos de água, os domicílios do Estado possuem deficiências quanto à armazenagem de água a ser consumida, mas a frequência no abastecimento inferior à diária, afeta um percentual bem baixo de domicílios, o que é um ponto positivo. A situação é pior, contudo, nas condições médias de moradia, já que a taxa de população na linha de pobreza (R$ 420 mensais por pessoa) é “alta” no Estado, assim como a proporção “de domicílios com seis ou mais pessoas, com a presença de idosos”.

“Diria que, quanto à moradia e seu contexto, temos mais defeitos que virtudes, justamente porque nossos percentuais, na maioria das variáveis, estão entre os mais negativos. Justamente quando comparamos com outros Estados. Já o nosso problema quanto à água não é o acesso, mas a forma como fazemos uso dela. Temos deficiências quanto aos depósitos, e também no acesso ao líquido dentro de casa. Do ponto de vista sanitário, não são situações  adequadas”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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