Pesquisar
Close this search box.

Política e religião também andam juntas

O senso comum afirma que, em um país laico como o Brasil, religião é política não devem se misturar. Nos últimos anos, porém, contrariando este paradigma, as bancadas legislativas nos municípios, estados e em Brasília têm visto um número cada vez maior de representantes de igrejas e religiões, o que em muitos casos abre espaço para discussões acaloradas sobre o verdadeiro papel do parlamento. É saudável misturar política e religião?

Para o cientista político Breno Rodrigo Leite, sim. Segundo o especialista, religião e política são duas coisas que sempre caminharam juntas. Ele explica que as primeiras formas de estado foram os estados teológicos. “A tentativa de se separar religião e política é algo que começa no Iluminismo, no século XVIII, então é algo bastante recente”, afirma.

Ainda segundo Breno, o surgimento das bancadas evangélicas no Brasil pode ser explicado pelo crescimento de segmentos de denominações protestantes, em especial as pentecostais e neopentecostais, que têm um ativismo político bastante forte, ao contrário de religiões mais tradicionais, como luteranismo e anglicanismo, que, segundo ele, conseguem separar mais as coisas. Para Breno, não há problema nenhum em se eleger bancadas de denominações religiosas para os parlamentos uma vez que elas representam uma parcela significativa da população.

“As religiões pentecostais e neopentecostais têm projetos políticos sim, têm suas bancadas e seus pastores parlamentares. E eu vejo isso como algo natural. Mesmo porque esses religiosos são uma parcela representativa da sociedade. Temos hoje em Manaus uma sociedade com um crescimento muito forte de denominações protestantes e é natural que eles também tenham suas representações nas bancadas. Não vejo isso como um problema. É a representatividade se fazendo valer”, defende.

Lugar do Cidadão

Essa mesma visão é defendida pelo vereador Marcel Alexandre (PMDB). Formado em Teologia com especialização em Ministério Pastoral e Apóstolo da Igreja Evangélica Restauração, o parlamentar exerce o seu segundo mandato na Câmara Municipal de Manaus. Na opinião do vereador, a CMM é o espaço do cidadão e, como representantes, os parlamentares leitos acabam levando suas realidades pessoais, quer sejam religiosas ou culturais. Na opinião dele os evangélicos hoje ganham um destaque maior na mídia por conta dos posicionamentos diferenciados do cristão evangélico na cultura brasileira.

“O parlamento é o lugar do cidadão com suas realidades. Como o mundo está passando hoje por um momento de luta pela inclusão, acho que isto acabando colocando o foco em certos segmentos, como a religião e os evangélicos. Os evangélicos hoje ganham um destaque maior por conta dos posicionamentos diferenciados na cultura brasileira. Neste sentido, os evangélicos têm posicionamentos tradicionais na defesa pela vida e sociedade. Isso ecoa de maneira muito forte”, avalia.
Ainda na visão de Marcel Alexandre, os casos de corrupção envolvendo parlamentares evangélicos também ganham um destaque maior na imprensa, devido o próprio posicionamento ético que defendem, e cita o atual caso do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que responde a processo de cassação do mandato.

“Quando se tem evangélico no meio, cria-se uma expectativa muito maior por conta da proposta ética, que é de natureza própria do evangélico, como aconteceu com o atual presidente da Câmara dos Deputados que tem tendências evangélicas, mas hoje se vê envolvido em situações suspeitas. Mas na verdade nosso único destaque é isso: o posicionamento diferenciado”, reitera.

Representatividade

Marcel Alexandre também destaca a representatividade das bancadas evangélicas nas casas legislativas. Ele cita dados de um relatório do instituto de pesquisa Pew Research Center, divulgados neste mês, que colocam o Brasil como o segundo maior país cristão do mundo, com aproximadamente 175 milhões de seguidores de Jesus Cristo, atrás apenas dos Estados Unidos (com 246 milhões) e à frente do México (com 107 milhões).

O IBGE registrou durante o ano de 2010, aumento de evangélicos, em relação ao Censo de 2000, com um aumento 60% do número de pessoas filiadas às denominações evangélicas. O índice foi de 15,4% para 22,21%, contra 64,6% de católicos.

“O Brasil está avançando com essa conta. O Brasil é o segundo país cristão do mundo – atrás apenas dos Estados Unidos. E a igreja católica já perde cada vez mais fiéis para as evangélicas. Essa ascensão, obviamente se reflete na representatividade parlamentar. Nas últimas eleições presidenciais, por exemplo, tivemos a candidata Marina Silva, que é evangélica”, lembrou o vereador.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar