Vivemos numa bela região, cobiçada pelo mundo inteiro. Floresta, rios, variadas espécies de animais nas águas, nas terras e nos ares, enfim, um ambiente extremamente propício para quem quer estar em contato com a natureza, ideal para se explorar o turismo ecológico, porém, este segmento econômico, que poderia trazer muito dinheiro para o Estado praticamente sem alterar o meio-ambiente amazônico, tem sido ignorado sistematicamente pelos governos e são poucos os empreendedores e empresários que se arriscam a investir em projetos além dos limites urbanos de Manaus.
Um destes empresários, o português Vasco Tavares Guimarães Vasques, carrega consigo o pioneirismo de ter sido um dos primeiros a explorar o turismo ecológico nas proximidades de Manaus. Em sua homenagem, o centro de convenções ao lado da Arena da Amazônia, leva seu nome.
Vasco Vasques nasceu em 17 de agosto de 1913, nas Ilhas Canárias/Espanha. Era filho do cônsul português Fernando Vasques, de quem adotou a cidadania. Fernando veio para o Brasil, pra Bahia, em 1939, depois Belém de onde, em 1942, Vasco Vasques mudou-se para Manaus fundando a firma V. Vasques & Cia. Ltda., que agenciava a empresa de aviação Panair do Brasil, bem como algumas empresas na área de seguros. No mesmo ano, Vasco Vasques conheceu a amazonense Zaíra Moreira de Santana Costa, com a qual se casou em 25 de setembro de 1943 e tiveram três filhos: Fernando (1946), Jorge (1948), Carlos (1953) e Angélica, adotada.
Com o sócio Fernando Ferreira da Câmara o português constituiu a loja de eletrodomésticos Bazar América Ltda.; e a Gasônia – Gás da Amazônia Ltda, primeira distribuidora de gás liquefeito de Manaus.
Caçadas empolgantes
Em 1963, aproveitando serem representantes de uma grande empresa aérea, que trazia visitantes a Manaus, Vasco Vasques e Fernando da Câmara inauguraram a Selvatur, primeira agência de turismo de Manaus, fundada oficialmente em 1º de abril de 1965 com o registro na Embratur número 01 da Região Norte. A Selvatur funcionava no escritório da V. Vasques, na rua Guilherme Moreira, ao lado da Moto Importadora, em frente ao Banco do Brasil.
Naquele mesmo ano, Vasco Vasques, Fernando da Câmara e Clóvis Vale, um sócio minoritário, investiram ainda mais alto no turismo ao se tornarem proprietários do Hotel Amazonas. Inaugurado em 7 de abril de 1951, doze anos depois o hotel, pertencente à Prudência Capitalização, com sede em Brasília, foi comprado pela V. Vasques & Cia. Ltda. A Selvatur foi transferida para o térreo do Hotel Amazonas com instalações bem mais amplas. Sob a administração da V. Vasques, o hotel foi ampliado de 49 para 200 apartamentos. Ali, Vasco Vasques mudou radicalmente o turismo ecológico explorado anteriormente no Hotel Amazonas.
O que poucos sabem é que um dos segmentos que atraía turistas para o Hotel Amazonas, desde a sua inauguração, não seria nada aceito nos dias atuais. Anúncio publicado na revista O Cruzeiro, de 1950, dizia que o hotel seria inaugurado em breve e instigava o visitante a vir conhecer o ‘inferno verde’ citando ‘soberbas pescarias e caçadas empolgantes’. Isso mesmo. Caçadas. Nos anúncios seguintes começam a aparecer vitórias régias, onças, jacarés, tartarugas, garças, e finalmente um anúncio, de 1951, mostra a ilustração de um caçador numa canoa atirando num pássaro. Anúncio do mesmo ano mostra agora a ilustração de um caçador atirando numa onça com as palavras ‘Caçadas empolgantes’ em destaque. Em setembro de 1951 o anúncio comemora o hotel ter recebido 1.138 turistas de todo o mundo em 90 dias de funcionamento. Em janeiro de 1952 um anúncio ainda em O Cruzeiro escancara: ‘a Amazônia é um verdadeiro paraíso para os caçadores’ e a ilustração de uma onça num tronco. Esse era o turismo ecológico, ou anti-ecológico, inicial de Manaus, que felizmente acabou quando a V. Vasques adquiriu o hotel.
Encontro das águas
À frente do Hotel Amazonas, e da Selvatur, Vasco Vasques priorizou o turismo de visita aos locais naturais. Foram os guias da Selvatur os primeiros a levar os turistas para conhecer o encontro das águas, fenômeno descrito ainda em 1542 por frei Gaspar de Carvajal e desde então desconhecido pelos manauaras e que acabou por se transformar num atrativo com fama internacional. Até hoje os turistas ficam maravilhados ao cruzar as águas do Negro e do Solimões, que não se misturam.
Indo além do encontro das águas, os guias chegaram até o lago Janauari, já no município de Iranduba onde, pela beleza exótica do lugar e as águas calmas, Vasco Vasques resolveu construir o complexo flutuante Janauarylândia.
“A Janauarylândia começou em 1966 com um restaurante, uma pequena lanchonete e uma loja de artesanatos, tudo flutuante, sobre toras de assacu. Com a implantação da Zona Franca, em 1967, e a chegada de turistas a partir da década seguinte, visando comprar os artigos importados das inúmeras lojas de Manaus, o restaurante foi totalmente reformado, ganhando uma piscina e um hotel com 24 apartamentos”, contou Jorge.
Vasco Vasques morreu em 1976, mas deixou como legado os dois hotéis que sucumbiram ao fim do turismo de compras em Manaus, a partir de 1990.
Em 1994 o hotel da Janauarylândia foi vendido e rebocado do lago. Dois anos depois, em 1996, foi a vez do Hotel Amazonas também ser vendido, o mesmo acontecendo com a Selvatur, em 1999.