O primeiro ano após a crise financeira internacional, iniciada em setembro de 2008, foi marcado pela queda de produção e demissões em massa, mas também viu a votal do aquecimento do setor produtivo brasileiro e a consequente reversão das especulações pessimistas que alguns especialistas projetavam para o final do ano. No Amazonas não foi diferente, como mostram os números negativos da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) e avaliações um pouco melhores da ACA (Associação Comercial do Amazonas).
As fábricas do PIM (Polo Industrial de Manaus) apresentaram retração de 26,97% no faturamento, de janeiro a outubro deste ano, comparado a 2008, de acordo com as estatísticas mais recentes da Suframa. Foram US$ 17.5 bilhões (2009) contra US$ 23.9 bilhões (2008).
Ao final de 2008, logo após o começo da crise, a autarquia contabilizou US$ 30,1 bilhões de faturamento quando fechou os cálculos em dezembro. A titular da autarquia, Flávia Grosso, disse acreditar que o valor deste ano será um pouco superior a US$ 26 bilhões, ou seja, mesmo na melhor das hipóteses o PIM não apresentará crescimento neste aspecto.
Os postos de trabalho abertos até outubro de 2009 (97 mil) foram 15,72% inferiores ao registrado na mesma época de 2008, quando havia 115,1 mil pessoas empregadas no parque industrial manauense.
Os itens aquisição de insumos e exportações também puxaram para baixo os índices da Suframa. Enquanto US$ 1 bilhão em produtos foram exportados nos primeiros dez meses de 2008, apenas US$ 672.8 milhões totalizaram os resultados de vendas do polo para outros países neste ano, considerando os dados até outubro, uma queda de 34,14%.
A diminuição no volume de insumos foi quase igual ao percentual anotado nas exportações. A compra de insumos do primeiro ao décimo mês deste ano (US$ 9.4 bilhões) foi 34,28% inferior ao montante gasto pelas empresas em 2008 (US$ 14.3 bilhões).
Três países foram responsáveis por 60% das exportações. O ranking é liderado pela Argentina com 38,27% de participação e US$ 263,5 milhões em vendas externas. A segunda posição foi da Venezuela (11,86%), com US$ 81.6 milhões, seguida pela Colômbia com US$ 68,9 milhões exportados e 10,01% de contribuição à balança comercial.
Crise impulsiona ganhos de eficiência da indústria amazonense, avalia Cieam
Na avaliação do presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Maurício Loureiro, o ano de 2009 deixará uma eficiente lição. “Coube à indústria aumentar sua eficiência interna de produção. Houve casos no PIM de ganhos de eficiência produtiva per capta de mais de 40%. Ou seja, fizemos mais com menos”, destacou o dirigente industrial. Para Loureiro, produzir mais com menos recursos é ser competitivo e serve como lição, não somente para a indústria como também para os demais segmentos da sociedade.
O Cieam computa o polo eletroeletrônico como responsável por 31% dos negócios gerados neste ano (até outubro) e como aspecto positivo da indústria amazonense neste final de ano. O polo é composto por grandes multinacionais, como LG, Nokia e Samsung. Considerando os dados da Suframa, estas são as principais impulsionadoras do faturamento de US$ 8,9 bilhões neste ano, com valores até o décimo mês; empregando 38,8 mil profissionais.
Apesar dos números pouco animadores Flávia Grosso aposta em recuperação. “Nos últimos cinco meses deste ano, podemos ver uma sutil elevação dos indicadores e ter a certeza que em 2010 poderemos superar o resultado de 2008. A perspectiva do PIB [Produto Interno Bruto] da Zona Franca de Manaus é crescer 10% em 2010, por exemplo”, argumentou.
Uma das empresas de destaque deste ano, na avaliação da superintendente, é a montadora de veículos BMW (Fábrica de Motores da Baviera, na sigla em alemão), recém-chegada a Manaus e única planta fabril da marca localizada fora da Alemanha. Trata-se de mais uma concorrente para a Moto Honda -multinacional japonesa que lidera o segmento de motocicletas no Brasil, respondendo por 81,6% (1,1 milhão de motocicletas) das unidades produzidas no país, conforme informa a Abraciclo (Associação Brasileira de dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares).
Empreendimentos comerciais
“A crise financeira não afetou o comércio de Manaus com intensidade porque o setor já vinha tomando algumas providências de crescimento, como promoções e elasticidade no prazo de pagamento”, relatou o presidente da ACA, Gaitano Antonaccio.
A chegada de novos empreendimentos comerciais na cidade, como o Manauara Shopping, além do fortalecimento do comércio nos bairros, garantiu a superação do cenário pouco animador para o comércio amazonense na primeira metade deste ano, conforme explicação do representante do comércio no Estado. Segundo a assessoria de imprensa do Manauara Shopping, o centro de compras possui 227 pontos comerciais entre lojas e quiosques e funciona há nove meses.
O presidente da associação destacou a atuação dos bancos estatais como Basa (Banco da Amazônia S/A), CEF (Caixa Econômica Federal) e BB (Banco do Brasil), que aumentaram o prazo de pagamento dos financiamentos e elevaram a oferta de crédito para microempresários. “O ano de 2009 –a despeito da crise– foi melhor para o comércio que 2008. O consumidor aprendeu a calcular a diferença entre compras à prazo e à vista, quando as lojas aumentaram as exigências para fechar uma venda”, concluiu Antonaccio, ao falar sobre os juros praticados no comércio varejista do Amazonas.