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Pico deve ocorrer em duas semanas

Divulgação

Bernardino Albuquerque avalia que o pico da doença deve acontecer nas próximas duas semanas. E explica que a falta de testes dificulta visualizar avanço da doença 

O Amazonas está pagando um preço muito alto por não ter preparado o sistema de saúde para combater a Covid-19, que já matou 874 pessoas e registra pelo menos 10 mil casos da doença – isso só até a última sexta-feira, dia 8. A análise é do infectologista Bernardino Albuquerque, que é um referencial em termos de controle de endemias na região e tem no currículo atuações em gestões governamentais passadas sobre medidas de estudos epidemiológicos.  

Bernardino já atuou na Susam (Secretaria de Estado da Saúde) e na FVS-AM (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas). Ele coordena hoje uma comissão da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), onde é professor, criada para estabelecer diretrizes que possibilitem frear o avanço da pandemia em Manaus e no interior.  

Se a capital convive com o caos diariamente na saúde, a situação dos municípios também é gravíssima. Lá, não existem profissionais suficientes e treinados para enfrentar um vírus que desafia médicos e enfermeiros. E ainda faltam respiradores, que são essenciais para atender aos pacientes mais graves.

Segundo Bernardino Albuquerque, no dia 5 de março deste ano, muito antes da pandemia chegar ao Estado, a reitoria da Ufam baixou uma portaria criando esse departamento, que já avaliava medidas prevendo a situação caótica em que o Estado estaria mergulhado posteriormente, deixando governos e as autoridades de saúde desnorteadas sem saber o que fazer imediatamente para enfrentar a crise

“Até então, as pessoas não imaginavam que a Covid-19 tomaria essa proporção de extrema gravidade, considerada como a maior tragédia humanitária já vivenciada pela região”, avalia o infectologista. “E, por isso, estamos pagando um preço altíssimo por não possuirmos uma infraestrutura hospitalar suficiente para prestar um atendimento eficaz, rápido, digno. E, o resultado, é esse cenário de mortes e de pessoas infectadas, que se agrava a cada dia com o aumento no número de casos da doença”, acrescenta o médico infectologista.

O governador do Amazonas, Wilson Lima, e o prefeito de Manaus, Arthur Neto, alertaram que o sistema de saúde no Estado está praticamente em colapso diante do aumento dos casos da doença. E recorreram ao governo federal para enfrentar a expansão da Covid-19.

Cogitada inicialmente como uma medida emergencial para sanear a crise, a intervenção federal na saúde do Amazonas não é vista como uma solução, a curto prazo, na opinião de Bernardino Albuquerque. Para ele, o Estado tem condições de controlar a doença com ações internas. E para isso, o comitê da Ufam vem atuando junto a instituições governamentais dando orientações sobre tratamentos e medidas de prevenção, em Manaus e nos municípios. O núcleo de telemedicina da universidade tira dúvidas da população com alunos e professores muito bem treinados para agir nessa situação.

O médico informa ainda que a Ufam vem produzindo álcool gel para atender às necessidades de hospitais na capital e nas cidades do interior. E ainda, um anexo da universidade já disponibiliza testes para profissionais de saúde em Manaus. Os polos avançados da Ufam nos municípios do interior prestam também assistência aos ribeirinhos, segundo Bernardino. 

Garantias

Reconhecendo a gravidade do problema, recentemente, o ministro da Saúde, Nelson Teich, veio a Manaus para ver de perto a situação, trazendo na bagagem equipamentos de proteção, respiradores, além de novos profissionais de saúde para suprir a falta dos que deixaram de trabalhar por estarem infectados e também para substituir os que morreram. 

“Manaus é a primeira cidade a ser visitada entre as quatro mais atingidas pelo coronavírus no Brasil. Não vamos deixar ninguém sem atendimento”, disse o ministro da Saúde, na ocasião.

O médico Bernardino Albuquerque prevê que o pico da doença no Amazonas deve acontecer nas próximas duas semanas. Ele alerta, porém, que não existem ainda recursos técnicos para definir sobre quando realmente a Covid-19 vai começar a arrefecer na região, mesmo com a ajuda enviada pelo governo federal.

E ainda, o Amazonas tem uma grande deficiência em termos de diagnósticos. O resultado dos exames demora em função do crescimento da demanda.  Leva-se pelo menos dez dias para saber se um paciente tem ou não Covid-19. Por conta disso, as estatísticas oficiais não refletem realmente o número de mortes que ocorrem. 

Na maioria dos casos, os pacientes morrem geralmente sem saber as causas da doença. Portanto, o total de vítimas pode estar pelo menos 75% acima do que apontam hoje os números oficiais, admitem os especialistas de saúde.  

Outra agravante. Muitas pessoas negligenciam o isolamento social e também o uso de máscaras como medidas preventivas, o que facilita a transmissão do vírus de alta letalidade. “Nem todos têm essa consciência sobre a importância dos cuidados com a higiene, que é uma forma de se proteger da doença”, ressalta Albuquerque.  

E muitas pessoas são assintomáticas e se transformam em fontes de contaminação. Segundo Bernardino Albuquerque, os testes são o melhor recurso para visualizar o avanço do coronavírus, mas eles não estão disponíveis para a maioria da população. “Por exemplo, de cada pessoa testada, existem de dez a 15 que não são testadas. Assim, fica muito difícil definir uma data exata sobre quando ocorrerá o pico da Covid-19”, explica ele. “E também quantos morrem pela doença”, ressalta.     

De março para cá, a expansão do coronavírus surpreendeu a todos, deixando um rastro de mortes e de muita dor na população. A demanda por atendimentos cresce tanto a cada dia que as unidades de saúde chegam a priorizar receber somente os casos de pacientes mais graves, que precisam de ventilação mecânica. Os que apresentam sintomas leves, brandos, são orientados a se recuperar em casa.

Com isso, muitas pessoas acabam morrendo em casa. Toda a mídia registra e veicula pelo mundo as vidas humanas que são ceifadas diariamente pela doença, deixando órfãs centenas de família. Manaus está entre as cidades que mais sofrem com a tragédia humanitária causada pela Covid-19, ficando atrás somente de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Recife.    

Legado

O médico Bernardino Albuquerque avalia que a doença deixará um legado sobre como cuidar melhor da saúde. Lavar as mãos começa a ser um hábito que começa a ser internalizado, a ter uma grande importância entre a população, que pode prevenir não só a Covid-19, mas outras tantas enfermidades que atingem a humanidade, ressalta o infectologista.

“Nota-se que as pessoas estão mais preocupadas com a saúde. Começaram a lavar mais as mãos, um hábito que não acontecia com tanta frequência. São medidas de higiene que nos protegem das doenças”, diz o médico.

Para Bernardino Albuquerque, a humanidade não será mais a mesma depois da pandemia. Agora, começa a priorizar atitudes simples como ser mais compreensiva, menos arrogante, trocar afetividades, mesmo que a distância, gestos antes ignorados  pelo mundo materialista em que vivemos.

 “Estamos mais solidários, magnânimos. E ficamos mais unidos para enfrentar uma pandemia que inflinge medo a todos e desafia governos, cientistas e as autoridades sanitárias de um modo geral”, acrescenta o especialista.

 É evidente que a pandemia traz um grande aprendizado à população. Um preço amargo que convive diariamente com um cenário de mortes, que lembra os filmes hollywoodianos. Só que agora a tragédia é real. Nada de ficção – saltou das telas dos cinemas para fazer parte do dia a dia das pessoas, numa situação caótica, angustiante, jamais vivenciada pelas novas gerações.

Como nas principais cidades atingidas no País, os hospitais de Manaus estão praticamente em colapso. E o setor funerário alega também que já não é capaz de atender ao crescimento da demanda – faltam urnas funerárias.

Os sobrevoos das coberturas da imprensa de enterros nos cemitérios de Manaus dão uma dimensão real do problema. As vítimas da Covid-19 são enterradas em valões coletivos, como nas duas grandes guerras mundiais, para o desespero de familiares. 

O mundo está chocado. O papa Francisco ligou recentemente para o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, manifestando muita preocupação com a crise. Ele perguntou como estavam os pobres e a populações indígenas na região. O pontífice rezou por todos os acometidos pela doença.  

“Tenho certeza de que ele (o papa) ligaria para qualquer arcebispo. Ele não ligou por causa da minha pessoa, ele ligou porque tem preocupação com a pessoa humana. Onde as pessoas estão sofrendo, ele gosta de marcar presença, mesmo que seja por um telefonema”, disse o arcebispo.

Fonte: Redação

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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