Pesquisar
Close this search box.

PIB do Amazonas fica estável em 2020, aponta dados do BC

O PIB brasileiro totalizou R$ 7,4 trilhões em 2020, avançando 3,2% na virada do terceiro para o quarto trimestre, mas caiu 4,1% ante 2019. Foi o maior recuo anual da série iniciada em 1996, embora a queda tenha ficado bem abaixo dos 9% a 10% projetados, logo no começo da pandemia. Vale notar que o PIB per capita (R$ 35.172) caiu com mais força (-4,8%), no ano passado. Os números são do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

O resultado veio próximo ao projetado anteriormente pelo IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). Considerado uma espécie de prévia do PIB, o indicador apontou alta de 3,14% e queda de 4,05% para o Brasil, nas respectivas comparações. Os números do Amazonas ainda não foram divulgados pelo IBGE, mas os dados do estudo do BC sinalizam um crescimento mais acanhado na base trimestral (+1,63%) para o Estado, assim como um decréscimo menos severo na variação anual (-2,69%).

A pesquisa do IBGE aponta que, apesar de aquecerem no terceiro e quarto trimestres, comércio, serviços e indústria não conseguiram sair da rota gravitacional da pandemia e fecharam negativos em 2020. A agropecuária, por outro lado, foi o único setor com saldo anual positivo, a despeito da desaceleração a partir de outubro. Embora o IBC-Br não incorpore o comportamento dos setores, lideranças classistas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio apontam que a situação não foi muito diferente no Amazonas, no ano passado. 

Representando 95% da economia nacional, serviços (R$ 4,7 trilhões) e indústria (R$ 1,3 trilhão) foram justamente os setores que puxaram o PIB nacional para baixo na variação anual, com decréscimos respetivos de 4,5% e de 3,5%, segundo o IBGE. A situação não foi diferente no lado da demanda, com o consumo das famílias despencando 5,5% (R$ 4,7 trilhões), em decorrência da piora no mercado de trabalho e da necessidade de distanciamento social. O consumo do governo desabou 4,7% (R$ 1,5 trilhão) e os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) retrocederam 0,8% (R$ 1,2 trilhão).

“Desafiante e difícil”

Único setor brasileiro com saldo positivo em 2020, a agropecuária brasileira cresceu 2% e chegou a R$ 439,8 bilhões, sendo alavancada pela soja (+7,1%) e pelo café (+24,4%), mas não pela laranja (-10,6%) e pelo fumo (-8,4%). Ainda sem o mesmo porte equivalente e voltada prioritariamente ao abastecimento interno, a agropecuária amazonense não passou incólume pela pandemia, a despeito do papel essencial da produção de alimentos em um contexto de quarentena. 

De acordo com o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, os produtores rurais enfrentaram dificuldades em decorrência da pandemia e das restrições aos demais setores. “Nossa avaliação é que o ano foi desafiante e difícil, mas o setor rural se manteve em atividade, garantindo o abastecimento de alimentos para a população. A atividade foi impactada pelas restrições aos pontos de vendas e canais de comercialização, assim como pela queda de consumo por parte da população. Mas, ainda acreditamos que o setor primário do Amazonas deve seguir a dinâmica nacional de crescimento”, concluiu.

“Dezembro traumático”

Nos serviços, o pior resultado veio de outras atividades de serviços (-12,1%) – como restaurantes, academias e hotéis – e o comércio retraiu 3,1%. O presidente da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, avalia que o varejo amazonense praticamente perdeu o primeiro semestre de 2020, ao passar mais de 100 dias fechados, perdendo a oportunidade de vender para o Dia das Mães, a Pascoa e, em parte, o Dia dos Namorados. Para o dirigente, o desempenho do PIB do Estado deve vir em linha com o cenário desenhado pelo IBC-Br, dadas as dificuldades do setor, mesmo durante o aquecimento.  

“Esses dias fechados pesaram muito, até porque os dois primeiros meses do ano, que são mais frágeis, não repuseram essas perdas. O comércio melhorou com a reabertura gradual, com vendas mais significativas e pujantes, mas não conseguiu recuperar todas as perdas. No quarto trimestre, começou a faltar produtos, por motivos logísticos e pela falta de insumos e embalagens na indústria. As vendas aceleradas baixaram os estoques, mas não houve reposição”, resumiu, acrescentando que o ano se encerrou justamente com a eclosão da segunda onda. 

Aderson Frota lembra que as lojas entraram o Black Friday e o Natal em um cenário de desabastecimento, para culminar em um “dezembro traumático”, com a sinalização governamental de suspensão das atividades e a efetivação de uma nova rodada de restrições ao comércio. Segundo o dirigente, as perspectivas de curto prazo seguem duvidosas, apesar da flexibilização. “O comércio teve reação surpreendente, na reabertura de 2020, mas não é o que vemos agora. Tem muita gente circulando, mas poucas comprando. Isso se deve à ameaça do desemprego, ao medo da pandemia e às chuvas. Para o setor, este ainda é o pior momento, mas aguardamos que as coisas melhorem perto do Dia das Mães”, ponderou.   

“Risco grande”

Na indústria (-3,5%), o destaque negativo veio da construção (-7%) e das indústrias de transformação (-4,3%) – impactadas pelos recuos nas linhas de produção de veículos de quatro e duas rodas, de confecção/vestuário e de metalurgia. Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos caíram 0,4%, enquanto a indústria extrativa subiu 1,3% – em virtude da produção de petróleo e gás, em detrimento da extração de minério de ferro.

O presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, reforça que 2020 não pode ser desvinculado do novo imposto pela pandemia, e que seus efeitos na atividade econômica já eram amplamente esperados, tanto no Brasil, quanto no restante do mundo. Na avaliação do dirigente, o único país que deve ter encerrado o ano passado com PIB positivo é a China, sendo que 2021 começa com uma nova rodada de incertezas para o setor, em decorrência do recrudescimento da crise da covid-19. 

“Apesar de o ano ter fechado com faturamento melhor, em reais, para a indústria, em dólar nós vemos que não isso não aconteceu. O setor ficou parado mais de dois meses, praticamente. Então, não é de se espantar o resultado. Começamos 2021 com esse impacto todo [da pandemia], que começou no Amazonas, e agora se espalha pelo país. Deve se repetir o que aconteceu no ano passado. O risco do fechamento do comércio dos Estados do Sul e do Sudeste afetar a nossa atividade é grande. Temos de aguardar para ver como vai fica essa situação”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar