Cada estado da Amazônia possui seus próprios estilos e preferências musicais. No Amapá tem o marabaixo; no Pará, o siriá, o carimbó e a febre do calypso; no Amazonas tem a toada, o brega, o beiradão, o forró, apenas para citar alguns, mas uma pesquisa realizada pela agência de pesquisa de mercado e inteligência Hello Research, mostrou que, na Região Norte, 52% dos entrevistados preferem ouvir músicas gospel, seguido pelo sertanejo com 45% da preferência. Lá bem atrás, com apenas 29% de ouvintes, ficou a MPB. Menos de 20% dos ouvidos citaram outros ritmos de sua preferência como rock, pagode, reggae, música eletrônica e rap.
Em Manaus sabemos que realmente o sertanejo faz sucesso em diversas casas noturnas, e o pagode não fica atrás em outras, ainda assim, este ritmo não apareceu como um dos favoritos dos nortistas e o forró, que foi capaz de esvaziar os currais de Garantido e Caprichoso com suas toadas magníficas, ainda no início da década de 2000, e se mantém até hoje em evidência nas casas de forró da cidade, sequer apareceu na lista da Hello Research.
“A pesquisa foi um levantamento nacional com o intuito de entender as preferências musicais dos brasileiros de todas as regiões para calcular o potencial de negócios relacionados à música. A pergunta de preferência acontecia de modo espontâneo. Logo, nenhum entrevistado foi estimulado a responder por qualquer ritmo”, explicou Davi Bertoncello, CEO da Hello Research.
Na pesquisa, as mulheres predominam entre as pessoas que apreciam a música gospel, tendo o gênero a maior média de idade entre os ouvintes, porém, o gospel é ainda menos ouvido pelo celular que a média nacional, conta com menos pessoas que utilizam o Spotify para este fim e detém o segundo menor índice de multiplicidade de uso de apps.
Forró domina nos clubes
Kadu Almeida, cantor sertanejo, concorda que a pesquisa deveria ter sido feita por estado, e não pela região.
“Eu canto sertanejo, mas em Manaus todo mundo sabe que o forró predomina nos bares e casas noturnas. Já fiz shows em Rondônia, Roraima e no Acre, e nesses estados posso dizer que o sertanejo faz mais sucesso do que em Manaus e, mesmo em Manaus, algumas vezes eu canto forró porque o público gosta e pede”, esclareceu.
Kadu Almeida faz shows no All Night, Copacabana, Rancho Sertanejo, Moai e 092.
“Você não pode ser cantor de um único estilo, porque são tantos e você precisa agradar a todo o público presente nessas casas, então precisa cantar de tudo um pouco. Até gospel já cantei, e canto, dependendo do local e do público”, revelou.
Claudinho Dias é o vocal da Gang do Forró e afirmou que a pesquisa foi falha porque o forró predomina não só em Manaus, mas nas cidades do interior do Amazonas. E o forrozeiro fala com propriedade, pois migrou das toadas de boi para o forró no início da década de 2000, e continuou no ritmo até hoje.
“No final da década de 1990 cantei pro Garantido, no Olímpico, e pro Caprichoso, na TV Lândia, e quando vi que as toadas estavam perdendo força para o forró, me tornei forrozeiro”, contou.
“Em Manaus a grande maioria das casas noturnas são de forró. De domingo a domingo você encontra local pra dançar forró, e a maioria dos grupos musicais é de forró”, garantiu.
Claudinho acredita até que o pagode faz mais sucesso do que o sertanejo.
“O Edu Pinheiro ‘arrebenta’ onde se apresenta, e o Guto Lima, com o arrocha, arrasta um grande número de fãs onde estiver fazendo show”, lembrou.
A Gang do Forró se apresenta no Gargalo, Axerito, Alambique, João de Barro, Forró do Velho Inácio, Forró de Nós, Terra Brasil, Toca Secreta, entre outros.
“E já tocamos no Pará e em Roraima e o forró fez muito sucesso”, finalizou.
Sucesso dentro das igrejas
Raiff Matos também foi cantor de toadas até 2008 quando se tornou evangélico e passou a cantar somente músicas gospel.
“Acredito que boa parte da população de Manaus, e até do Amazonas, independente de shows, prefira ouvir o gospel, porque mais de 50% de nossa população é evangélica. Eu, por exemplo, não faço shows. Canto apenas na Nova Igreja Batista, aos domingos, às 8h, 10h30, 17h e 19h30, e agora na Tabernáculo Batista”, contou.
“Já gravei dois CD’s e agora coloco minhas músicas no Spotify e outros streamings sem
cobrar por isso. Canto para divulgar o Evangelho de Cristo. Não sei como é o público de shows gospel porque não participo deles, mas as igrejas ficam cheias cantando gospel”, lembrou.
“De qualquer forma, preferência musical não necessariamente retrata a preferência por eventos musicais em que outros fatores devem ser levados em consideração”, justificou Davi Bertoncello.
A Hello Research realizou 1.230 entrevistas pessoais e domiciliares em 75 municípios das cinco regiões brasileiras. Os resultados apresentam margem de erro de 3% para mais ou menos.
“A indústria está passando por um momento chave, a população brasileira está ‘envelhecendo’, ao mesmo tempo em que a tecnologia de ouvir música está se renovando”, falou Dorival Machado, executivo responsável pelo projeto Hello Monitor Brasil.
“O desafio para reter clientes é oferecer conteúdo equilibrado entre jovens e pessoas maduras engajadas em consumir música todo dia. É indispensável aos veículos que oferecem música com conteúdo reforçarem seus mecanismos de retenção de ouvintes”, finalizou.