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Pequenos negócios fazem corrida por empréstimos

Do começo da pandemia até maio, dois em cada três MEIs e MPEs no Amazonas já solicitaram empréstimos. Confiantes no crescimento, muitos renovaram os pedidos neste ano, para investir na empresa, ou ao menos para equilibrar as contas e dar um respiro ao caixa. Mais da metade, contudo, teve o pedido negado, em sintonia com a elevação dos juros e das restrições bancárias. O gargalo no crédito ocorre em paralelo com a dificuldade de repassar aumentos de custos ao consumidor, que perdeu poder de compra com a inflação. O resultado é que a taxa de endividamento dos empreendedores amazonenses aumentou e 36% deles já estão inadimplentes. 

É o que aponta a 14ª edição da pesquisa “Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa), entre 25 de abril e 2 de maio de 2022, por meio de formulário online. No total, foram ouvidos 13.205 representantes de 13.205 micro e pequenas empresas e MEIs de todo o país. Entre os 157 entrevistados no Amazonas, a maioria é de microempreendedores individuais (60%), seguidos por donos de microempresários (34%) e pequenos empresários (6%).  

A parcela de empresários de pequeno porte com dívidas em atraso no Amazonas foi de 36% em maio, praticamente repetindo o número capturado na ultima sondagem, realizada na passagem de novembro para dezembro de 2021 (37%). A proporção dos adimplentes (35%) também marcou estabilidade, em seis meses. A fatia dos que afirmam não possuir qualquer tipo de pendência financeira subiu de 28% para 30%. Na média nacional, a distribuição seguiu mais equitativa (30%, 35% e 35%, respectivamente).

O percentual de empreendedores locais que já buscaram crédito, desde o começo da pandemia, para garantir a sobrevivência dos negócios seguiu na casa dos 58%. A taxa ficou novamente bem acima da média brasileira (50%). O Estado ficou atrás apenas do Ceará (62%) e do Pará (61%) nesse quesito, empatando com a Paraíba. São Paulo e Tocantins (ambos com 46%) ficaram no outro extremo do ranking. No Amazonas, 47% dos entrevistados conta que renovou a peregrinação nos bancos neste ano, especialmente em janeiro (16%). Outros 42% dizem que buscaram o financiamento em 2021 e 10%, em 2020.

Em contraste com a estabilização no nível de procura por crédito, a fatia de MEIs e MPEs que tiveram seus pedidos de empréstimos bancários negados avançou de 43% para 51% e registrou retração ainda maior do que a de 12 meses atrás (60%). A quantidade de solicitantes que conseguiu o financiamento tombou de 48% para 39%, enquanto a fatia dos que ainda aguardam resposta dos bancos ficou em 9%. O Estado seguiu o caminho contrário do restante do país, que apresentou sucesso em 55% das solicitações de crédito bancário, em média.

Custos e investimentos

A pesquisa do Sebrae aponta que o peso das dívidas atrasadas em relação aos custos globais das micro e pequenas empresas do Amazonas é cada vez mais significativo, em face da escalada das taxas de juros. Vale notar que a lista inclui também itens como insumos/mercadorias, energia, combustível, aluguel, tributos e fornecedores, que dispararam por força da inflação. 

Uma ligeira maioria dos entrevistados (37%) crava que os passivos pendentes respondem por uma faixa de 30% a 50% dos dispêndios. Ao menos 23% dizem que essa fatia já responde pela metade das despesas mensais da empresa. Uma parcela ligeiramente menor (35%) diz que o passivo representa menos do que 30% do total. Mas 23% garantem que a mordida supera os 50%, enquanto os 6% restantes preferiram não responder.

Um fator que contribuiu para o endividamento foi o aumento das apostas em um momento desfavorável. Em sintonia com o prognóstico do estudo anterior – que mostrava intenção de investimento neste ano, para 94% dos pequenos negócios do Amazonas –, ao menos 59% dos entrevistados confirma que aportou capital em suas empresas, de 2021 para cá. A maioria optou por ampliar o espaço físico (35%), incrementar as instalações (35%) e adquirir máquinas e equipamentos (32%). Os demais preferiram focar em hardware (19%) e software de informática (10%), veículos (14%) e treinamento de empregados (16%) e sócios (11%).

“Sérias dificuldades”

Na análise do coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, Evanildo Pantoja, a pesquisa mostra que muitas MPEs sofrem dificuldades par faturar e contribuir para o crescimento econômico, diante de uma conjuntura econômica de consumo retraído pela perda de poder de compra das famílias, em favor da inflação e dos juros. Como resultado, a situação financeira de muitas empresas teria se agravado, dificultando ou impedindo o cumprimento de compromissos. 

“Aumentou o número de empresas inadimplentes, demonstrando que o parcelamento e extensão do prazo para o pagamento dos impostos pelo Refis das MPEs não surtiu o efeito esperado. Em nosso Estado, quase metade dos empreendimentos pesquisados não tiveram acesso a socorro financeiro, principalmente por terem restrições ou não atenderem a todos os critérios das linhas de financiamento. Muitas também estão em sérias dificuldades para pagar fornecedores, porque fizeram novos investimentos, acreditando na retomada de um crescimento que ainda não aconteceu”, frisou.

Pantoja observa que outro fator que contribui para a piora do cenário é que 83% dos empreendedores do Amazonas não conhecem o Fampe (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas) e outros 14% “só ouviram falar a respeito” do mecanismo que permite ao Sebrae ser avalista complementar de financiamentos para pequenos negócios. O principal impacto, seria o uso de recursos com juros mais elevados, em virtude da dificuldade das MPEs oferecerem garantias para o empréstimo. 

Mas, o representante do Sebrae-AM observa que a oferta ainda do fundo ainda é limitada em âmbito local.  “No Amazonas atualmente, apenas a Caixa Econômica tem operado com a linha do Fampe. Fazemos diversas ações e divulgações, mas as pessoas acabam não considerando importante participar de eventos que tratam do tema de finanças empresariais em nosso Estado. Fazemos lives, seminários, palestras online, porta a porta por meio do programa Sebrae Na Sua Empresa e, ainda assim, a pesquisa mostrou um índice muito baixo de pessoas que conheçam a linha”, lamentou.

No entendimento do coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, o governo federal tem a chance de melhorar esse cenário, quando for renovar o Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), na segunda quinzena deste mês. “Uma metida assertiva seria voltar a reduzir a taxa de juros aplicada, para reduzir o custo destes financiamentos, visto que a Selic está muito alta. Também seria desejável estender o prazo de pagamento para até 48 meses”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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