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Pequeno de Melo, grande nos ares

Pequeno de Melo, grande nos ares

O Amazonas tem heróis que participaram da Segunda Guerra, que os amazonenses desconhecem: Manoel Freitas Chagas, fuzilado pelos alemães ao entrar numa casamata; Syzeno Ramos Sarmento, comandante de um dos três batalhões que tomou Monte Castelo; e Waldyr Paulino Pequeno de Melo, aviador que integrou o 1º Grupo de Aviação de Caça, esquadrão da FAB (Força Aérea Brasileira) na Itália.

“A primeira vez que vi algo sobre Pequeno de Melo foi quando, há uns cinco anos, estava pesquisando a página na internet do ‘Museu da Vitória: Brigadeiro Nero Moura’ e lá estavam postadas fotos e procedências dos aviadores do Grupo de Caça. Percebi que um dos aviadores era de Manaus”, contou Adriel França, autor do projeto ‘Guerreiros do Amazonas’.

Pequeno de Melo nasceu em Manaus, no dia 14 de setembro de 1922, e pouco se sabe sobre sua origem na capital amazonense nem quando foi para o Rio de Janeiro de onde, com certeza, partiu para combater nos céus da Itália.

“Em minhas pesquisas descobri o nome de Pequeno de Melo numa publicação legal, no Jornal do Brasil. Nessa publicação ele estava sendo convocado pela Escola Militar do Rio de Janeiro para fazer exames médicos no dia 20 de janeiro de 1940, ou seja, ainda faltava mais de dois anos para o Brasil declarar guerra à Alemanha, o que aconteceu em 22 de agosto de 1942, e mais dois para efetivamente entrar na guerra ao enviar para a Itália o primeiro escalão com cinco mil soldados, em 30 de junho de 1944”, disse.

“Na publicação legal dizia que Pequeno de Melo deveria pegar um trem às 7h da manhã, na Estação Pedro II, e seguir para a Escola Militar. Ele ainda não havia completado 18 anos e não sei dizer se já tinha intenções de se tornar piloto”, acrescentou.

Primeira e última

“Quando estávamos quase concluindo o Curso de Caça, nos Estados Unidos, recebemos quatro pilotos de Natal, que vieram reforçar o efetivo do 1º Grupo de Aviação de Caça. No dia 14 de agosto de 1944 eram incorporados ao quadro de pilotos, entre outros, o 2º ten. av. Waldyr Paulino Pequeno de Melo, que cumpriu apenas uma missão de guerra”, escreveu em seu livro ‘Senta a púa’, o então maj. brig. ref. Rui Barboza Moreira Lima.

Moreira Lima lembrou ainda que Pequeno de Melo costumava dizer: “sei que vou morrer, mas quero ir para a Itália”.

A Guerra estava em seu ápice, naquele 1944, e Pequeno de Melo havia feito apenas dez horas de treino a bordo de um P-47, o modelo americano que os brasileiros usariam na Itália, quando o major aviador Nero Moura, comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça, contra o desejo do Estado-Maior da Aeronáutica, o levou para concluir os treinamentos no teatro de operações, em Tarquínia.

No dia 13 de novembro de 1944, Pequeno de Melo se preparou para sua primeira missão: um vôo de reconhecimento sobre o Vale do Pó até o Passo de Brenner, integrando uma esquadrilha de 12 aviões P-47. Talvez não imaginasse que fosse sua primeira e última missão.

Apenas três dias depois a Esquadrilha Verde, composta por quatro aviões P-47, recebeu ordem para realizar um ‘vôo show’ para ser filmado por cinegrafistas americanos. Pequeno de Melo, que gostava de tirar fotos, foi junto com os americanos num C-47.

“Nossa velocidade correspondia ao dobro da do C-47. Quando chegamos a uns 100 metros do C-47, prontos para a passagem inicial, notamos que essa aeronave fez pequena curva em direção ao rumo da esquadrilha. A tentativa de desviar a esquadrilha não impediu que a asa do P-47 batesse na do C-47. Foi o início da tragédia. A esquadrilha espalhou-se no ar. Vi o Perdigão saltar de pára-quedas e o C-47 entrar em violento parafuso para o lado da asa atingida e rodar até chocar-se violentamente contra o solo”, escreveu Moreira Lima.

Junto com Paulino, morreu também o piloto paulista Roland Rittmeister. Os restos mortais dos dois foram transladados para o Brasil, e hoje repousam no Monumento aos Pracinhas, no Rio de Janeiro.

Relato do avô

Paulino de Melo recebeu as condecorações Cruz de Bravura da Força Aérea, Air Medal, Cruz de Sangue, Campanha da Itália e Presidential Unit Citation (EUA).

“Pela forma como Moreira Lima se refere a Pequeno de Melo, em seu livro, parece ter sido seu grande amigo. Moreira Lima, morto em 2013, foi o piloto brasileiro que realizou o maior número de missões do Grupo de Caça”, lembrou Adriel.

Em Manaus, Adriel descobriu o beco Paulino de Melo, no Japiim. Uma homenagem ao aviador amazonense? Parece que não.

“Acredito que a homenagem seja para o avô de Paulino, o desembargador Paulino de Melo. Numa entrevista ao jornal ‘A Noite’, do Rio de Janeiro, de 8 de dezembro de 1944, esse avô fez um breve relato sobre Pequeno de Melo dizendo que o neto nascera na sua casa, em Manaus, 22 anos antes”, falou.

Paulino de Melo era filho único do major médico, Luiz Paulino de Melo e de Jacina de Melo.

“Nas festividades da Semana do Amazonas e da Pátria, em setembro, os ex-pracinhas mandavam rezar uma missa, na capelinha ao lado do Colégio Dom Bosco, em homenagem a Manoel Chagas e Pequeno de Melo. Hoje estes, quase todos mortos, também estão sendo esquecidos”, concluiu.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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