Pelo terceiro ano seguido, as micro e pequenas empresas sustentaram a geração de empregos com carteira assinada em 2023, tanto no Amazonas quanto no restante do país. Puxadas principalmente por serviços e comércio e, em menor grau, auxiliadas também pela construção e indústria, as MPEs responderam por 72,24% da oferta de oportunidades profissionais em âmbito local, abrindo 15.891 de um total de 21.996 vagas. A performance per capta no Estado foi a quarto maior do país, com 103,37 empregos, a cada mil gerados. É o que revela o boletim do Sebrae, a partir dos números do Novo Caged.
A criação de postos de trabalho nos pequenos negócios amazonenses, no entanto, reduziu a marcha em 37,27% em relação ao ano anterior (25.333). Em contraste, as MGEs (médias e grandes empresas) criaram mais empregos, entre 2022 (3.698) e 2023 (4.685). A situação piorou em dezembro, que foi um mês negativo para 24 das 27 unidades federativas. Com a extinção de 1.351 postos de trabalho nas MPEs, e de 2.836 nos números globais, o Amazonas aparece com o 17º melhor desempenho proporcional. Apenas a administração pública ofertou vagas (+453), enquanto todos os demais setores promoveram cortes, independentemente do porte da pessoa jurídica.
O Amazonas acompanhou a média nacional. Os pequenos negócios de todo o país responderam por 8 em cada 10 ocupações criadas em 2023, em média. No acumulado do ano, o Brasil alcançou um saldo de 1.483.598 de novas contratações, o que resultou no menor patamar de desemprego desde 2014. As micro e pequenas empresas criaram 80,1% (1.188.307) desse total, puxadas também por serviços e comércio, enquanto as médias e grandes responderam por apenas 14,2% (209.991). Em dezembro, entretanto, a destruição de empregos deu o tom em todas as atividades, com as MPEs eliminando 178.132 vagas.
No ano, as micro e pequenas empresas foram responsáveis pela abertura de 103,37 empregos, a cada mil gerados no Estado, superando com folga as médias do Brasil (+62,07 p/mil) e da região Norte (+92,77 p/mil). O Estado ocupou o quarto lugar do ranking nacional nesse tipo de medida, atrás apenas de Amapá (+130,35 p/mil), Piauí (+114 p/mil) e Pará (105,40 p/mil). Em dezembro, o Amazonas (-8,79 p/mil) caiu para a 17ª colocação, em uma lista liderada com apenas o Acre (+3,97 p/mil), Ceará (+0,79 p/mil) e Paraíba (+0,66 p/mil) no quadrante positivo.
Comércio e serviços
Assim como ocorrido nos números globais do Estado, os serviços responderam pela maior parte dos empregos com carteira assinada gerados pelas MPEs amazonenses, em 2023. A despeito da crise logística gerada pela vazante, a oferta chegou a 8.054 vagas. Os melhores números vieram dos segmentos de “restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas” (+1.005); “serviços combinados de escritório e apoio administrativo” (+779); e “transporte rodoviário de carga” (+499). Entre as MGEs (+3.194), o destaque veio da “locação de mão de obra temporária” (+1.342).
O comércio (+3.752) veio em segundo lugar, com a primazia do varejo de produtos alimentícios, minimercados, mercearias e armazéns (+819). A construção (+2.739) foi favorecida pela divisão de “construção de edifícios” (+1.036), ao passo que a indústria de transformação (+1.515) ganhou maior destaque na fabricação de motocicletas (+63). Os dados negativos vieram da agropecuária (-4), indústria extrativa mineral (-17) e SIUP/Serviços Industriais de Utilidade Pública (-185). Entre as médias e grandes, somente a indústria de transformação (+1.563) e o comércio (+389) avançaram.
Em dezembro, a lista dos poucos segmentos que conseguiram contratar mais do que demitir entre as MPEs do Amazonas limita-se aos serviços de engenharia (+100); comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria (+81); atividades de consultoria empresarial (+47); locação de mão de obra temporária (+40); e fabricação e produtos de metal (+2). Entre as companhias de maior porte, o melhor dado veio da indústria de aparelhos eletroeletrônicos de vídeo e áudio (+223).
Foco nos juros
Em texto postado no site da Agência de Notícias Sebrae, o presidente do Sebrae, Décio Lima, avaliou que o estudo comprova a importância dos pequenos negócios na economia brasileira. O dirigente reforça seus argumentos, ao apontar que as MPEs seriam responsáveis pela sobrevivência de 86,5 milhões de brasileiros, ou aproximadamente 40% da população do país. E acrescenta que o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa aposta em resultados ainda melhores para 2024.
“Nós estamos trabalhando, juntamente com o governo federal, para ampliar e qualificar a participação dessas empresas, que hoje representam aproximadamente 30% do PIB. Acreditamos que esses números podem ser ainda melhores este ano, na medida em que a taxa Selic caia com uma velocidade maior. Com mais inovação, mais acesso a crédito e um melhor ambiente de negócios, esses empreendedores poderão contribuir ainda mais com a redução das desigualdades sociais e com o desenvolvimento sustentável”, afiançou.
“Políticas públicas”
A gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, destacou à reportagem do Jornal do Commercio que a criação de ocupações formais no Amazonas, no âmbito dos pequenos negócios, segue refratária desde 2021. “Em 2023, tivemos uma queda geral no saldo de vagas. No mesmo ano, tivemos queda no saldo de empresa, entre abertura e fechamento. Se o número de negócios diminui, traz consigo também impacto na geração de empregos”, avaliou.
Na análise da executiva, a conjuntura segue difícil para os empreendedores, neste ano. “O Estado carece de uma política voltada a geração de empregos pelos pequenos negócios. Uma política estadual que favoreça pequenos negócios empregadores de mão-de-obra local. Os números estão mostrando recuo na capacidade da economia local absorver pessoas na condição de empregados. Algo precisa ser feito com urgência. E, com as taxas de juros ainda elevadas, não vejo melhora neste cenário”, lamentou.
Em entrevista anterior à reportagem o Jornal do Commercio, o coordenador de Acesso a Crédito pelo Sebrae-AM, Evanildo Pantoja, argumentou que a base de dados mais forte do ano anterior ser levada em conta na análise dos números. “Em 2022 tivemos um crescimento considerável de 14% no varejo e mais de R$ 1 trilhão de faturamento, muito devido a atuação dos marketplaces. As MPEs tiveram oportunidade de alcançar os consumidores, por meio das plataformas, o que possibilitou volume maior de vendas. O mercado também estava otimista, após o grave período da pandemia”, lembrou.
O executivo ressaltou, por outro lado, que houve uma queda significativa nas vendas no primeiro semestre de 2023, em sintonia com o endividamento das famílias. “Isso tem impacto direto no poder de consumo e, consequentemente nas vendas. Percebo também que o mercado está mais cauteloso diante destes números. Acredito que a geração de empregos vai se manter estável, com a possibilidade de crescimento tímido”, concluiu.