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Pelo 4º mês seguido, endividamento avança em Manaus

A proporção de consumidores de Manaus endividados com cartões e carnês e outros meios de pagamento acelerou pelo quarto mês seguido, na passagem de agosto para setembro, coincidindo com a trajetória da média nacional. O percentual de inadimplentes, contudo, foi novamente na direção contrária e o mesmo se deu na parcela das famílias manauenses que dizem já não poder mais pagar dívidas atrasadas. É o que revelam os dados da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), realizada e divulgada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

Na sondagem, 71,6% das famílias manauenses (457.281) se dizem endividadas, número acima do apresentado em agosto de 2021 (69,7% e 445.289), embora ainda muito aquém ao dado de setembro de 2020 (74,2% e 467.903). Já o índice de inadimplência caiu entre o oitavo (25,1% e 160.054) e o nono mês de 2021 (23,7% e 151.851) e ficou aquém da marca de 12 meses atrás (24,5% e 154.437). Em torno de 13,5% (86.412) declararam já não ter condições de quitar dívidas em atraso, menos do que no mês anterior (15,1% e 96.734) e mais do que em igual intervalo de 2020 (12,6% e 79.264).

Em âmbito nacional, 74% das famílias já se assumem endividadas, renovando o recorde, no maior percentual da série histórica da CNC, iniciada em janeiro de 2010. O valor corresponde a elevações significativas ante agosto de 2021 (72,9%) e setembro de 2020 (67,2%). O percentual de inadimplentes caiu de 25,6% para 25,5%, na variação mensal, ficando novamente abaixo do patamar do mesmo mês de 2020 (26,5%). Já a parcela dos brasileiros sem condições de pagar contas ou dívidas também andou para trás, entre agosto (10,7%) e setembro (10,3%), além de encolher em relação a 12 meses atrás (12%).

Houve nova melhora qualitativa no nível de endividamento dos manauenses. Diferente do ocorrido em agosto, a maioria agora se diz “pouco endividada” (27,5%), sendo seguidos pelos “mais ou menos endividados” (22,9%) e pelos “muito endividados” (21%). No mês anterior, os respectivos números haviam sido 25%, 26% e 18,7%. Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos (79,3%) voltaram a superar de longe a média do indicador (71,6%) –puxados, pelo terceiro mês seguido, pelo grupo dos “muito endividados” (35,4%).

Cartão e automóveis

Assim como ocorrido na média brasileira, o cartão de crédito voltou a ser o principal vilão do endividamento em Manaus, respondendo por 82,4% do bolo das dívidas, embora em nível já menos elevado do que o anterior (83,7%) e com novo predomínio das famílias mais ricas (93,8%). O financiamento de carro (34,5%) seguiu em segundo lugar –impulsionado pelos que recebem até dez mínimos mensais (37%). Foram seguidos por crédito consignado (31%), crédito pessoal (18,9%), carnê (15,6%), cheque especial (6,6%), financiamento residencial (4,7%) e cheque pré-datado (0,7%) e “outras dívidas” (0,1%).

Já entre os 23,7% de consumidores manauenses com compromissos financeiros em atraso, diminuiu a diferença entre os que ganham menos (24%) e mais (20,7%). Apenas 13,6% garantem que conseguirão pagar a dívida integralmente e 29,5% estimam que conseguirão quitar o compromisso apenas parcialmente. Pelo menos 25,4% devem há mais de 90 dias – especialmente as famílias mais pobres (25,6%). A fatia com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (63,4%) ainda é majoritária, enquanto o grupo pendente há menos de um mês responde por 10,4% do bolo. 

A situação piorou, entretanto, nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que aumentou o percentual dos que estimam levar mais de um ano para isso – de 45,1% para 48,6%. O grupo dos ‘pendurados’ por três meses também subiu –de 10% para 11,2%. A fatia de devedores comprometidos entre seis meses e um ano, por outro lado, encolheu de 24,9% para 22,6%, enquanto a parcela dos endividados entre três a seis meses passou de 16,3% para 14,3%, em relação aos dados de um mês atrás.

Em média, as famílias manauenses consomem 38,4% de sua renda para dívidas, sendo pouco menos do que os 39,1% anteriores. O grupo das famílias que recebem mais de dez mínimos passou a ser preponderante (44,3%). Houve relativa melhora, no entanto, na distribuição por níveis de comprometimento: a maioria gasta de 11% a 50% (49,9%). Na sequência estão os que gastam metade de seus ganhos mensais com dívidas (43,8%) e os que limitam os dispêndios a 10% (3,9%). Em agosto, os respectivos percentuais foram 45,4%, 47,3% e 4,4%.

“O endividamento cresceu e, na contramão, a inadimplência continua caindo. É um dado positivo, porque mostra que o consumidor está mais ciente de que tem de se conter para não incidir em taxas de juros elevadas. A maioria das dívidas, no Amazonas, é de longo prazo, e as taxas não se alteraram muito. É preciso cuidado, porque esse endividamento está ameaçado por todas as circunstâncias da crise, como desabastecimento, inflação e câmbio, que podem afetar o emprego e a renda das famílias de Manaus”, ponderou o presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota.

“Compreensão do crédito”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, aponta que o maior endividamento da população está relacionado a fatores como “juros relativamente baixos” no Brasil para a tomada de crédito, tornando a contratação “mais acessível”, embora o cartão de crédito tenha renovado mais uma vez sua máxima histórica (2010), representando 84,6% das dívidas em âmbito nacional.

“Apesar da facilidade de acesso ao crédito em geral e no cartão, o aumento dos juros está em curso e tende a encarecer as dívidas e demais despesas em aberto. O recente aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), mesmo que temporário, acirra ainda mais esse custo. Por outro lado, predomina a tendência de redução nos dois indicadores de inadimplência da Peic, em que o indicador de contas atrasadas deve se aproximar de 25% até dezembro”, ponderou.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, avaliou que, a despeito das dificuldades citadas, a diminuição dos níveis  de inadimplência tende a se consolidar ao longo do ano, mostrando o esforço das famílias brasileiras em manter seus compromissos financeiros em dia, seja por meio da renegociação, seja por maior controle dos gastos ou evitando o consumo de supérfluos.

“É positivo e surpreendente ver que os brasileiros estão conseguindo controlar seus gastos e equilibrar melhor o orçamento, mesmo absorvendo mais dívidas para dar conta de suas necessidades. Isso porque a inflação mais alta vem diminuindo o poder de compra das famílias, em especial as de menor renda. Parece haver uma maior compreensão sobre o uso do crédito, ferramenta importante de composição de renda em períodos de crise financeira”, concluiu.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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