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Para além do bem e do mal – Parte 2

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A miséria do maniqueísmo ataca outra vez. O termo miséria, dizem os dicionários, é uma porção diminuta de qualquer coisa, uma ninharia, uma bagatela, mas pode definir também as fraquezas ou imperfeições humanas. Miséria se origina do Latim, onde significa a aflição. Miséria do maniqueísmo, a eterna ideologia do Bem contra o Mal, busca ilustrar o atraso surpreendente da inteligência humana quando pessoas, transformadas em manada, tornam dogmática a explicação do mundo, utilizando  o conceito de Deus em eterno litígio com uma de suas criaturas, Lúcifer, transformado em Satanás ou Capiroto, pelo proselitismo e utilitarismo de padres e pastores, deputados e vereadores, à procura de seus resultados. 

Colocar Deus e o Diabo na Terra do Sol, como ironizou Glauber Rocha, nosso gênio da Sétima Arte, é recorrer de modo oportunista ao conflito político, cósmico, filosófico ou teológico entre o Bem e o Mal. O “nós contra eles”  visa demonizar o outro, sob encomenda. Na ideologia de esquerda, que dominou a cena política do Brasil, por quase duas décadas, esse confronto fabricado tinha por meta a tomada do poder pela via eleitoral. O vilão banqueiro, dos tempos de militância,  passou a ser o grande parceiro das articulações comerciais do tomá-lá dá-cá. Paulo Maluf, o Capeta das grandes obras eleitorais, passou a ser um Querubim dos acordos eleitorais. Assim falava Zarathustra, o profeta persa que deu força e robustez a difusão do Cristianismo e ao mau-caratismo  global.

Pouco se fala em Zarathustra, o inventor da equação, no Século VI a.C., mas o dualismo ético de suas intuições se fez moderno e atual na globalização digital quando, após o atentado às Torres Gêmeas no 11 de Setembro, em Nova York, para dar um exemplo, o presidente dos Estados, cujo pai havia ajudado a financiar o autor da chacina terrorista, Osama Bin-Laden, declarou guerra ao Eixo do Mal e morte ao dito cujo. Quem levantou essa hipótese foi um ministro inglês das Relações Exteriores, Robin Cook, em 2001, após o atentado que matou aproximadamente 3 mil pessoas. A Guerra que se seguiu matou muito mais. 

Como se vê, a cena ideal da transformação da cidadania em manada, nada tem de evangélico, nem de divino nem de maravilhoso. Ela esconde a vaidade e a compulsão do poder. Pobres direitistas e esquerdistas que perderam a noção de si e a percepção do outro. Inspirado  neles,  Baruch Spinoza, 1677, num poema a ele atribuído, indagaria sobre o que importa, numa simulação daquilo que o filósofo considerava a vontade divina:

“Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse. Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei. E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste… Do que mais gostaste? O que aprendeste?”

Que país queremos, que continente ou planeta precisamos, com uma sociedade armada e despreparada para enfrentar a violência, fazendo às vezes do poder público que se corrompeu ou se apequenou por obra e graça da gestão incompetente e da contravenção permanente? Que país é este em que o outro é visto pelas lentes maniqueístas do Bem ou do Mal, como se fôssemos um rótulo, uma grife ou um cifrão? Somos pessoas, queremos ser irmãos, em mutirão colaborativo de paz. Sem balas nem enganação, para além do Bem e do Mal

Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora
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