Pesquisar
Close this search box.

Os quelônios e suas peculiaridades na Amazônia

https://www.jcam.com.br/Upload/images/Noticias/2019/1Sem/06Jun/04/Cequa.jpg

Você sabia que as tartarugas, ou quelônios, têm um dia só delas, 23 de maio, comemorado desde 2000 pela American Tortoise Rescue e por instituições que pesquisam e cuidam desses ‘bichos de casco’? Você sabia, também, que Manaus possui o maior centro do mundo que estuda quelônios de água doce?

O Cequa (Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia) foi inaugurado em 12 de fevereiro de 2015, com financiamento do Programa Petrobras Ambiental, numa área de cerca de 1.000 m2 do Bosque da Ciência, no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Aleixo.

“O Centro foi uma idéia do dr. Richard Carl Vogt, diretor do espaço desde a sua criação, e que pesquisa tartarugas do mundo todo há 40 anos”, falou a bióloga Sabrina Menezes, uma das pesquisadoras do Cequa.

Após ser inaugurado, o Cequa ainda ficou seis meses fechado, sendo organizado com a colocação de aquários, móveis e objetos de trabalho dos pesquisadores. Em agosto daquele ano foi aberto para o público.

“No início, quando as pessoas ainda não o conheciam, recebíamos uma média de 50 visitantes por semana mas, à medida que foi sendo divulgado pela mídia, outras pessoas passaram a vir saber mais sobre esses animais amazônicos, cuja maioria das espécies ainda é desconhecida. Hoje computamos quase 15 mil visitantes nesses quatro anos de existência do Cequa”, contou.

Quem conhece o Bosque da Ciência, sabe que na parte de trás do parque existe o Lago Amazônico, pouco visitado pela distância e devido não ter quase animais visíveis. Essa história mudou após a chegada do Cequa.

18 espécies na Amazônia

Só o lago reúne mais de 300 tartarugas que podem ser vistas, ou não, tomando sol nas áreas de areia ou suportes estrategicamente colocados no lago para que elas sejam vistas mais facilmente pelos visitantes.

“Mas aqui nos aquários e tanques do interior do Centro, mais de 300 tartarugas podem ser vistas de perto, sem esforço algum. Das 18 espécies de quelônios existentes na Amazônia, 14 estão aqui representadas”, falou.

“O objetivo de pesquisar os quelônios é saber mais sobre sua cópula, como nidificam, cuidados parietais, alimentação, se são diurnas ou noturnas, sua vocalização. Ninguém ouve a vocalização de um quelônio, mas com microfone, em terra, e com hidrofone, sob a água, conseguimos saber que eles se comunicam através de sons. Uma mãe produz sons chamando os filhotes, e eles respondem”, disse.

“Os únicos quelônios que têm seus sons ouvidos naturalmente pelo ouvido humano são os jabutis, que também são os únicos quelônios terrestres. No Cequa temos as duas espécies dele, o amarelo e o piranga”, revelou.

“Por que é importante estudar esses animais? Para conservá-los e preservá-los. Como vamos conseguir isso se não os conhecermos?”, indagou.

Estas são as espécies de quelônios amazônicos: muçuã, perema, jabuti vermelho, jabuti tinga, matá matá, cágado de poça, perema da cabeça amarela, cágado cabeça de sapo, lalá, cágado de barbicha, cangapara, jabuti machado, cágado vermelho, cabeçudo, irapuca, tartaruga da Amazônia, iaçá, tracajá.

O Cequa está aberto para visitação pública de terça-feira a domingo, das 8h às 17h.

Descobertas no Cequa

O Cequa conta com uma estrutura de apoio aos pesquisadores nos experimentos em lagos, praias para desova e incubadoras para os filhotes. Possui quatro tanques de 4x7m onde estão expostos exemplares de quelônios amazônicos vivos, como tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (Podocnemis erythrocephala), cabeçudo (Peltocephaulus dumerilianus) e matá matá (Chelus fimbriata). Possui ainda um terrário com seis poços contendo exemplares menores de jabutis-machado, perema, lalá e muçuã.

Por meio das câmeras de vigilância instaladas no terrário (recinto artificial composto por terra, plantas e poços, simulando um ambiente natural) os especialistas conseguiram acompanhar a desova múltipla da perema, espécie semiaquática que possui incubação prolongada com cerca de cinco meses, e é um dos quelônios menos estudados no Brasil.

Depois de estudar a bioacústica das tartarugas-da-amazônia, animais ameaçados pela grande caça ilegal e consumo de carne e ovos, os especialistas expandiram as pesquisas para outras espécies. Antes se pensava que as tartarugas não ‘falavam’, mas hoje se sabe que os filhotes se comunicam no ninho e na incubadora para juntos decidirem a data do nascimento. Das 335 espécies de quelônios do mundo descritas pela ciência, sabe-se que apenas 49 vocalizam, ou seja, utilizam sons como um comportamento social de interação de indivíduos. Faltam estudos para as outras espécies.

O Cequa é um espaço que busca, por meio de ações conjuntas de educação ambiental e de pesquisa, o aumento da valorização e da consciência ecológica dos amazonenses frente à dificuldade para a conservação de quelônios, destacando-se, principalmente, o consumo, o comércio ilegal e a importância desses vertebrados aquáticos para o equilíbrio ambiental na Amazônia.

Dotado de um auditório com capacidade para 65 pessoas e um amplo laboratório para estudos das espécies de quelônios da Amazônia, o Cequa também possui uma biblioteca para dar suporte a pesquisadores e alunos dos programas de pós-graduação e de iniciação científica do Inpa vinculados ao projeto.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar