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Os nossos negros

Os nossos negros

Dia 20 de novembro comemora-se Zumbi dos Palmares, morto lá no distante Nordeste. Mas quem foram os negros que para cá vieram trazidos à força e como a raça se superou, e se supera, até os dias atuais?

“Os primeiros negros chegaram ao Lugar da Barra, em 1778, depois que passou a vigorar a Lei que proibiu a escravidão indígena em 1775. Eram em número de dois e foram utilizados para fazer serviços de transportes e cargas, ‘como bestas humanas’, segundo afirmação do historiador Mário Ypiranga Monteiro”, falou o professor e historiador Aguinaldo Figueiredo.

Já o historiador Agnelo Bittencourt relatou que, quando da libertação dos escravos no Amazonas, em 1884, existiam 493 cativos (números controversos) vivendo em Manaus, a maioria deles servindo como ‘negros de ganhos’ e escravos domésticos, sofrendo as mesmas agruras que os negros no resto do país.

“Os castigos corporais eram até culturais, muitas das vezes aplicados sem nenhuma motivação, apenas para demonstrar o poder de vida e morte do dono sobre esses subalternos. Os castigos mais comuns eram as chicotadas, geralmente no pelourinho da praça pública. Os motivos mais recorrentes eram as fugas ou a desobediência. Em Manaus, essas punições ocorriam na praça do Pelourinho, onde hoje é a praça Dom Bosco”, revelou Aguinaldo.

E assim como no resto do país, após 1888, em Manaus, onde estava reunida a maior quantidade de negros libertos no Estado, após 10 de julho de 1884, a eles somente lhes foi dada a liberdade, e que ‘se virassem’ a partir de então.

“A libertação não foi acompanhada de efetivo amparo social, embora nas reivindicações defendidas pelas associações liberadoras, houvesse interesse nesse sentido. Para muitos ‘abolicionistas’ o que interessava naquele momento era a emancipação dos cativos que, depois de livres dessem andamento nas suas vidas”, falou.

Comunidade de São José

O exemplo mais significativo do descaso com os negros após a sua libertação, em 1888, foi o surgimento das favelas, no Rio de Janeiro. Para as terras distantes da cidade eles se dirigiram e lá construíram seus primeiros casebres, embriões das atuais gigantescas favelas existentes naquela e em outras cidades brasileiras.

Em Manaus formou-se a comunidade de São José, localizada ao lado esquerdo do cemitério São José, onde hoje é a sede do Atlético Rio Negro Clube, naquela época, os arrabaldes de Manaus. Era um aglomerado de casebres abrigando os ex-escravos, que passaram a se dedicar ao comércio de guloseimas e aos trabalhos braçais como operários na construção civil, já que a cidade estava precisando desses trabalhadores por vivenciar a plenitude das mudanças estruturais dos tempos gomíferos, carecendo dessa mão de obra, principalmente após a chegada do maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro (1892/1896) ao governo do Estado.

Por sinal, Eduardo Ribeiro contratou trabalhadores maranhenses para suprir a mão de obra carente que existia na cidade, alocando alguns em terras dos atuais municípios de Manaquiri e Manacapuru, em agrovilas, onde deveriam produzir gêneros alimentícios para abastecer a cidade mas, principalmente para trabalhar nos engenhos de cana de açúcar, produzindo açúcar mascavo e aguardente de cana, de acordo com relatos de Mário Ipiranga Monteiro.

“Aos poucos eles foram ocupando não só a Praça 14, mas também localidades dos atuais bairros do Morro da Liberdade e Santa Luzia”, completou Aguinaldo.

Entre 1903 e 1912 foi a vez dos negros barbadianos (naturais da colônia inglesa de Barbados) virem para o Amazonas para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Grande parte deles se recusou a ir para o canteiro de obras quando soube das mortes que ali aconteciam, e muitos ficaram em Manaus onde ocuparam vários pontos da cidade, como a Praça 14 de Janeiro. Até hoje é comum naquele bairro pessoas com sobrenomes Scantbelry, Redman, Smith e Johnson entre outros, exemplos dessa ancestralidade.

Nomes que engrandecem a raça

– Padre Daniel Pedro Marques de Oliveira, filho de escravos, professor e deputado provincial no Amazonas, perseguido por sua cor e posicionamentos políticos;

José Cardoso Ramalho Júnior, primeiro governador amazonense;  

José Cardoso Ramalho Júnior

– Francisco Portela, engenheiro e pai da professora e pedagoga Ana Portela;

– Rodolpho Valle, político e intelectual;

José Costa de Aquino, o Carrapeta, radialista, cantor e político; 

José Costa de Aquino

Nestor Nascimento, advogado e ativista do movimento negro e de defesa dos direitos humanos;

Nestor Nascimento

Josephina de Mello, enfermeira e professora;

Josephina de Mello

– Hemetério Cabrinha, poeta e líder espiritual;

– Justino Marques, político e advogado;

Paulo Feitoza, desembargador;

– Moacir Silva, procurador do Estado;

– Neusa Borges Ferreira, professora;

– Henrique de Oliveira Melo, secretário de Saúde do Estado;

– Cleomar dos Anjos Feitosa, professora e juíza de direito;  

– Luísa dos Anjos Assis, advogada e dona de cartório;

– Mirabeau Santos, dentista e político;

– José Ferreira dos Anjos, primeiro negro a presidir a Irmandade do Santíssimo, na Igreja Matriz;

– Nelson Ferreira, professor;

– Arthur Virgílio, desembargador e avô do atual prefeito;

Célio Antunes, jornalista;

Célio Antunes

Cândido Honório Ferreira, desembargador;

– Onias Bento da Silva, secretário de Fazenda do Estado;

– Nega Charuto, ama de leite muito conhecida em Manaus pela sua dedicação em amamentar crianças carentes.

“Aos que esqueci, ou não fui informado, que com certeza são milhares de bons amazonenses, perdoem-me, pois não foi proposital nem de má fé. Agradeço imensamente ao corpo de intelectuais e imortais do IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas), na pessoa do presidente José Braga e de outros confrades, pela imprescindível colaboração que deram a esse trabalho”, finalizou.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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