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Os horrores que nunca acabaram

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Livros sobre fatos acontecidos em guerras são sempre fascinantes, talvez porque mostrem até que ponto o ser humano é capaz de chegar com suas atitudes, sejam boas ou más. É o caso de “Uma longa viagem”, de Eric Lomax, relançado agora pela Editora Planeta (a primeira edição é de 1995), aproveitando o lançamento do filme baseado no livro, que acontecerá no próximo dia 14.
Eric Lomax era um jovem ingênuo, nascido nos subúrbios de Edimburgo, na Escócia, em 1919. Desde a mais tenra infância o menino se tornou um aficionado e conhecedor de ferrovias e das grandes máquinas responsáveis em movimentar os trens que passavam pela sua cidade. No livro são interessantes suas descrições detalhadas sobre essas imensas geringonças de aço.
Quando a Segunda Guerra iniciou, Eric, com apenas 19 anos, não titubeou em se alistar como voluntário para defender a Inglaterra ajudando com o que sabia fazer: mexer com radiofonia e telefonia, o que facilitaria a comunicação entre as tropas aliadas. Sua partida para os locais de batalha é bem reveladora do futuro que o aguardava. Filho único, seus pais foram até a cidade de Yorkshire, de onde ele seguiria com um batalhão de outros jovens de sua idade, apenas para se despedir e ver o filho partir para a guerra. “Minha mãe ficou parada lá, no meio da multidão, e suponho que ela acenou. Ela parecia perturbada. Nunca mais a vi”, escreveu em um dos trechos do livro.
O que o jovem, ainda ingênuo e que só queria ajudar, não imaginava é que logo conheceria os horrores da guerra. Capturado pelos japoneses, em 1942, em Cingapura, Eric, ironicamente, foi obrigado a trabalhar na construção da famosa “ferrovia da morte”, que ligaria a Tailândia à Birmânia (atual Mianmar), um dos projetos do Japão para dominar a Ásia. Enviado à Tailândia, onde se desenvolvia o projeto da ferrovia Burma-Sião, na qual morreram mais de 250 mil homens (16 mil prisioneiros de guerra), enquanto estava preso ele construiu um rádio para trazer notícias da guerra e secretamente desenhou um mapa dos trilhos. Descoberto pelos japoneses, foi brutalmente e incessantemente torturado e interrogado. Pelos quase três anos seguintes continuaria prisioneiro até o fim da guerra, quando então retornou ao Reino Unido.
Eric sobreviveu, mas nunca mais foi o mesmo, adquirindo sequelas físicas e psicológicas que o atormentaram pelo resto da vida. Quase 50 anos depois do acontecimento daqueles fatos, o agora senhor Eric Lomax descobriu que um de seus algozes ainda vivia, Nagase Takashi, na época um jovem soldado japonês que presenciou todas as seções de tortura servindo como tradutor entre Eric e seus algozes.
Teria ele a força de perdoar alguém que lhe causara tanto mal? Com a ajuda de sua esposa, Patti, Eric buscou se reconciliar com seu passado tão doloroso, e teve que ser novamente corajoso para enfrentar esse trauma no encontro com Nagase, acontecido próximo à ponte do rio Kwai, na Tailândia.
Depois de quase 20 anos de sua primeira edição, “Uma longa viagem” volta a se tornar best-seller com a aproximação do lançamento do filme estrelado por Colin Firth e Nicole Kidman. Morto em 2012, aos 93 anos, Eric Lomax não teve tempo de ver sua história nas telas, mas o sucesso do livro (que recebeu dois prêmios literários na Inglaterra) fez com que seus relatos se tornassem num importante testemunho dos horrores de uma guerra.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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