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ONG no bairro Japiim ajuda crianças PCD e seus familiares

Crianças com deficiências físicas (PCD) e seus familiares são assistidas por uma ONG (Organização Não Governamental), localizada no bairro Japiim, na zona Sul de Manaus, que oferece a elas atendimento médico especializado, além de muito amor e carinho. 

O Lar de Vitórias existe há mais de seis anos, onde atende de forma gratuita, crianças com autismo, síndrome de down, microcefalia, hidrocefalia e outras comorbidades. A equipe é formada por 15 profissionais entre psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais e pedagogos.

Cada uma das 185 crianças acolhidas no Lar passou por uma triagem com assistente social, na qual foram apresentados o laudo médico e o perfil socioeconômico. Com as necessidades médicas identificadas é iniciado o tratamento que ocorre de uma a três vezes por semana.  

A fila de espera por atendimento é grande, 89 crianças ainda não puderam ser inseridas devido à capacidade limitada dos profissionais e do espaço, que é alugado. A sede possui salas nas quais os pacientes fazem o acompanhamento médico, também tem refeitório e uma área administrativa.  

O diretor de marketing voluntário, Leonardo Valle, relata que grande parte das famílias acompanhadas pelo Lar de Vitórias são formadas por mães solteiras e sem condições de trabalhar fora, por causa dos filhos que necessitam de cuidados em tempo integral.  

As famílias, na maioria de baixa renda, também são acompanhadas por assistentes sociais e recebem uma cesta básica por mês, além de medicamentos, kits de higiene pessoal e fraldas. Durante o período de atendimento médico, que ocorre pelo menos uma vez por semana, as crianças e os acompanhantes também recebem alimentação.  

“Como atendemos crianças de toda a Manaus, temos algumas que vêm de longe e chegam aqui com fome. E a mãe só com o dinheiro da passagem. Vendo essa necessidade, começamos a distribuir o café da manhã, depois passamos para o almoço e hoje servimos o lanche da tarde também. Por dia são cerca de 50 refeições”, relata.

Família

A pequena Ana Cristina Marques da Silva Carneiro, de 4 anos, é uma das 185 crianças atendidas no Lar de Vitórias. Ela tem Pé Torto Congênito (PTC), uma alteração que pode atingir ligamentos, músculos, tendões e ossos durante a gestação. A incidência é de 1 caso para cada 1 mil nascidos vivos. Em 50% deles, como de Ana, a deformidade atinge os dois pés.

A mãe da menina, Melka Camila Marques de Souza, 39, explica que a filha passou por três procedimentos cirúrgicos que não corrigiram totalmente o problema. A filha ainda deve passar por mais uma cirurgia quando completar 12 anos.

Enquanto esse momento não chega, a criança precisa continuar o tratamento com gesso e sessões de fisioterapia, a fim evitar que ambos os pés voltem a entortar. Ana é muito ativa, consegue andar e brincar, mas sem o acompanhamento sua qualidade de vida estaria comprometida.  

“Conheci o projeto quando estive na Sejusc (Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos), lá eu contei que precisava de um local onde oferecesse fisioterapia de graça e fosse próximo da minha casa. O Lar de Vitórias eu consigo vir de transporte por aplicativo, que é baratinho e mais confortável para ela”, contou.

A dona de casa tem mais dois filhos. O marido dela, pai de Ana, é autônomo e único provedor da família. Segundo Melka, as cestas básicas e demais auxílios oferecidos pela ONG são muito bem-vindos e ajudam a garantir a segurança alimentar das crianças.  

A nova fisioterapeuta da Ana é a Naiara Olímpio, de 27 anos, que trabalha há cerca de dois meses no Lar de Vitórias. Com a paciente Ana são realizadas atividades de alongamento para melhorar a mobilidade e para evitar a deformação dos pés.

Naiara atende diariamente oito crianças com necessidades especiais diferentes. “Tem crianças que não consegue nem controlar a cervical e o tronco, então nós trabalhamos com o estímulo sensorial para que eles consigam ter mais mobilidade e independência nas atividades do dia a dia”, disse.

Autismo

Outra criança atendida na ONG é o Castiel da Silva Negreiros, de 5 anos, filho da Sandreane Araújo da Silva, 32. Ele tem autismo e faz tratamento há seis meses no Lar de Vitórias. A dona de casa comemora a evolução do menino. “Ele ficava muito isolado, se saía de casa queria entrar logo, mas agora ele está mais sociável”, revelou.

O autismo é uma das maiores demandas do Lar de Vitórias. Cerca de 80% das crianças atendidas têm a síndrome. Elas chegam com graus diferentes, necessitando de cuidados e tratamentos personalizados.

Uma das psicólogas que atende no espaço é a Sarah Viana, de 27 anos, que dedica muito amor aos pacientes. A jovem explica que os autistas que chegam no Lar de Vitórias têm muita dificuldade com atenção, concentração, memória, interação social e convivência.

“A gente busca trabalhar as dificuldades e com o decorrer do tempo também vamos identificar as habilidades. Os autistas possuem muitas habilidades, mas para chegar até elas é preciso estudar a criança e criar vínculos. Eu sempre digo que para trabalhar com crianças com deficiência é preciso ter muito amor e paciência”, ressaltou. 

“Eu sempre digo que para trabalhar com crianças com deficiência é preciso ter muito amor e paciência”. Sarah Viana – psicóloga – Foto: Divulgação

História

O Lar de Vitórias iniciou os trabalhos há oitos anos, mas somente há seis foi criado oficialmente por Jaqueline Kin. Leonardo Valle conta que a instituição nasceu do desejo da fundadora em ajudar pessoas. O início foi com doação de cestas básicas para famílias pobres da comunidade.

“A Jaqueline saiu do banco onde trabalhava e recebeu um valor de indenização. Ela e o esposo discutiram o que fariam com esse valor. Ele queria abrir um empreendimento para gerar renda para a família. Ela falou que iria conversar com Deus. Um tempo depois ela disse ao marido que Deus gostaria que ela ajudasse as pessoas. Ela começou distribuindo cestas básicas”, disse.

Com o atendimento social, a fundadora percebeu a demanda de mulheres que não tinham condições de oferecer um tratamento especializado aos filhos com deficiências e síndromes. No local onde funciona o Lar, havia uma oficina de artesanato que tinha a finalidade de ajudar as mulheres a conseguirem gerar renda para sustentar os filhos.

“Na oficina ela viu a dificuldade que as mães tinham de conseguir assistir às aulas por conta dos filhos. Durante as andanças para entregar as cestas, a Jaqueline também percebeu a dificuldade que as mães tinham de conseguir psicólogo. Começou oferecendo um psicólogo voluntário e foi crescendo”, contou.

No início, a fundadora fez um bazar com as próprias roupas para, com o dinheiro, estruturar a sede da ONG e usava recursos próprios para oferecer alimentação às famílias. Os parceiros e voluntários começaram a chegar bem depois e são importantes para manter o Lar de portas abertas.

Voluntariado e Doações

Leonardo Valle executa o trabalho de marketing da entidade voluntariamente há um ano e meio. Primeiro ele conheceu a fundadora que mostrou a ele o trabalho desenvolvido pela ONG. “Eu me apaixonei pelo trabalho e disse que Manaus precisava conhecer o Lar de Vitórias, foi quando comecei de forma voluntária”, contou.

Os funcionários da ONG são remunerados graças a parcerias com a Sejusc, que, através de editais, garante os salários por pelo menos oito meses do ano. No restante, o trabalho voluntário mantém o Lar de portas abertas. Um problema que a direção busca solucionar por meio de doações, emendas parlamentares e reforço no voluntariado.

Devido a pandemia de Covid-19, o trabalho voluntário ainda tem sido escasso e as visitas também precisaram de restrições. Mas hoje com a vacinação avançando, já é possível visitar as crianças e fazer doações presencialmente.

A quem deseja ajudar o projeto a crescer, Leonardo explica que é possível entrar em contato pelo WhatsApp e ir até o local. O telefone para contato é 8490-7536. O Lar de Vitórias fica localizado na rua Beatriz Portinari, 252, bairro Japiim, zona Sul.

“A maior necessidade do Lar de Vitórias é com a proteína das refeições. O preço da comida aumentou muito, como todos sabem, e nós precisamos oferecer almoço para os pais e para as crianças diariamente, além do lanche e café da manhã”, reforçou Valle. 

Foto/Destaque: Divulgação
Reportagem de Rita Ferreira

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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